quarta-feira, 4 de agosto de 2010

PSDB nunca pagou por esses crimes*

Coluna Diário de um Blougeiro: Jornalista e atual blougueiro Jadson Oliveira (Foto), 64 anos, trabalhou como jornalista, em diversos jornais e assessorias de comunicação, de 1974 a 2007, sempre em Salvador (Bahia). Na década de 70 militou no PCdoB e no movimento sindical bancário. Ao aposentar-se, em fevereiro/2007, começou a viajar pelo Brasil, América Latina e Caribe. Esteve em Cuba, Venezuela, Manaus, Belém/Ananindeua (quando do Fórum Social Mundial/2009) e Curitiba, com passagem por Palmas, Goiânia e Campo Grande. Depois Paraguai e Bolívia,Trindad Tobago hoje está morando em São Paulo.


“UM DIREITO QUE RESPEITE, UMA JUSTIÇA QUE CUMPRA”



De São Paulo (SP) – Estou lendo O Massacre – Eldorado do Carajás: uma história de impunidade, do jornalista Eric Nepomuceno.

É aquela matança de camponeses e militantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra) em 17 de abril de 1996, no sul do estado do Pará. Os policiais militares assassinaram 19 e feriram dezenas, muitos ainda vivos são conhecidos como “os mutilados” (mais três morreram em decorrência dos ferimentos).

A maioria dos mortos eram lideranças do movimento na região. Mataram “quem quiserem e como quiseram”, como diz o autor do livro.

O Pará era governado por Almir Gabriel, do PSDB, e o Brasil era governado por Fernando Henrique Cardoso, também do PSDB, ambos impunes até hoje.



A parte inicial do livro é até chata de se ler, porque está recheada de números e dados estatísticos sobre a impunidade dos criminosos, especialmente os mandantes, os latifundiários e os governantes, sobre os assassinatos de posseiros, trabalhadores rurais, líderes sindicais e dos movimentos dos sem-terra e sobre a escandalosa concentração da propriedade de terras no Brasil, e em especial no Pará.

Tal matança não deixa de significar também – e aí vai um raciocínio de minha inteira responsabilidade – uma punição exemplar contra o MST, que ousa buscar a mobilização popular como arma na política, que ousa inserir os pobres no cenário político brasileiro, um atrevimento que as “elites brancas”, os latifundiários e os monopólios dos meios de comunicação jamais perdoam.

Faço este registro aqui porque topei com um texto do grande português José Saramago justamente sobre o assunto e quero compartilhar com vocês pelo menos um pequeno trecho.

Retirei do prefácio de Terra, livro/CD do fotógrafo Sebastião Salgado, de Saramago e de Chico Buarque, lançado um ano depois para lembrar o massacre e marcar a importância da luta pela terra. No prefácio, que pode ser encontrado facilmente na Internet (vi no sítio/site do MST), o escritor, que morreu recentemente, recorda a traição à bandeira da reforma agrária por parte de todos os governos no Brasil (acrescento: inclusive do nosso governo Lula. Saramago não o menciona, escreveu o texto cinco anos antes de Lula chegar à presidência).

Eis aí o trecho que selecionei:


“Posto diante de todos estes homens reunidos, de todas estas mulheres, de todas estas crianças (sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra, assim lhes fora mandado), cujo suor não nascia do trabalho que não tinham, mas da agonia insuportável de não o ter, Deus arrependeu-se dos males que havia feito e permitido, a um ponto tal que, num arrebato de contrição, quis mudar o seu nome para um outro mais humano. Falando à multidão, anunciou: “A partir de hoje chamar-me-eis Justiça.” E a multidão respondeu-lhe: “Justiça, já nós a temos, e não nos atende”. Disse Deus: “Sendo assim, tomarei o nome de Direito.” E a multidão tornou a responder-lhe: “Direito, já nós o temos, e não nos conhece.” E Deus: “Nesse caso, ficarei com o nome de Caridade, que é um nome bonito.” Disse a multidão: “Não necessitamos caridade, o que queremos é uma Justiça que se cumpra e um Direito que nos respeite.” Então, Deus compreendeu que nunca tivera, verdadeiramente, no mundo que julgara ser seu, o lugar de majestade que havia imaginado, que tudo fora, afinal, uma ilusão, que também ele tinha sido vítima de enganos, como aqueles de que se estavam queixando as mulheres, os homens e as crianças, e, humilhado, retirou-se para a eternidade. A penúltima imagem que ainda viu foi a de espingardas apontadas à multidão, o penúltimo som que ainda ouviu foi o dos disparos, mas na última imagem já havia corpos caídos sangrando, e o último som estava cheio de gritos e de lágrimas”.

*Titulo do Blog Ananindeua debates.

4 comentários:

Anônimo disse...

O Jatene era secretário de Governo do Almir e se calou.

vanda maria

Marlon George disse...

Caro Jornalista:
Discordo do termo que colocas. Ate parece que voce e contra o MST e defende os latinfudiarios... Diga-me qual foi o movimento revolucionario que o povo participou sem ter alguma liderança por traz????
Marlon

CONSTRUTORA EMANUEL disse...

É BEM VERDADE QUE AINDA QUEREMOS JUSTIÇA, UMA DELAS É DE NÃO ACEITAR ESSES COVARDES ASSUMIREM DE NOVO NOSSO AMADO ESTADO PARÁ,QUE HOJE SE ENCONTRA EM PROCESSO DE GRANDES CONQUISTAS POPULARES,NÃO DÁ COMPANHEIROS E COMPANHEIRAS PARA RETROCEDER A INJUSTA E A DESIGUALDADE ANTES POSTA PELOS TUCANOS, AGORA É HORA DE DECISÃO E EU DECIDO CONTINUAR COM QUE ESTÁ ACELERANDO O PARÁ

Jadson disse...

Caro Marlon, me desculpe, não entendi o sentido da tua discordância. Não sei o que há no meu texto que possa levar a imaginar que eu seja contra o MST e a favor dos latifundiários.
Não sei também onde está abordado o tema da existência ou não de liderança em movimentos revolucionários.
De qualquer forma, agradeço a atenção dispensada ao artigo.