Antônio Olavo já divulga a
manifestação pelas redes sociais
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Via site Interior da Bahia
Na próxima sexta feira, 07 de junho, às 18h30, na Biblioteca Pública do Estado da Bahia (Barris), artistas e entidades culturais baianos vão protestar contra a suspensão dos Editais para artistas, criadores, produtores e pesquisadores negros do Brasil.
O
manifesto é em decorrência da ação do Juiz José Carlos do Vale Madeira,
da 5ª Vara da Seção Judiciária do Maranhão, que levou a suspensão dos
editais do Ministério da Cultura direcionados aos artistas e produtores
negros. Esta manifestação está sendo convocada pelo Fórum Nacional de
Performance Negra, em defesa do Artigo 1° do Estatuto da Igualdade Racial, conforme abaixo.
Art.
1º/ IV: ações afirmativas: os programas e medidas especiais adotados
pelo Estado e pela iniciativa privada para a correção das desigualdades
raciais e para a promoção da igualdade de oportunidades.
Confira abaixo um texto do cineasta Antônio Olavo, já espalhados nas redes sociais, contra a suspensão dos editais do MinC para artistas, produtores, criadores e pesquisadores negros:
Sexta
feira, 07 de junho (18h30) na Biblioteca Pública do Estado da Bahia
(Barris), vamos expressar nosso mais veemente repúdio contra a tentativa
de suspensão dos Editais para artistas, criadores, produtores e
pesquisadores negros do Brasil, instituídos pelo MinC em 20 de novembro
de 2012.
O
Brasil tem 50,74% de população afrodescendente (IBGE 2010), que carrega
nas costas um passivo de 300 anos de escravidão imposta pelos
colonizadores brancos, que aqui chegaram em nome da "civilização" e
praticaram a política de "terra arrasada", cujas consequências ainda
hoje é nefasta.
Com
a "abolição", em 1888, o povo negro foi jogado na sarjeta,
discriminados e perseguidos (ainda hoje são, vide o extermínio da
juventude negra praticado nas periferias das grandes capitais) pela
policia de um Estado controlado por brancos, que apesar de
quantitativamente minoritários, são hegemônicos nas universidades, no
judiciário, no congresso nacional, nas assembleias legislativa, nos
governos, na gestão cultural etc.etc.
Um
país que precisa de Estatuto da Igualdade Racial é um país racista.
Pra acabar isso e ter igualdade de oportunidades para todos, tem que
haver políticas afirmativas. As políticas repressivas nunca funcionaram
bem por aqui. A Lei Afonso Arinos, de 1951, que combatia o racismo,
nunca puniu ninguém, quase o mesmo pode se dizer da Constituição de
1988, que define racismo como crime inafiançável.
As
ações afirmativas para o povo negro visam combater o racismo com
medidas que contribuem para diminuir as desigualdades raciais e sociais
existentes no país. Somente não enxerga estas desigualdades quem está na
zona de conforto da sua pele branca. Até quando a elite branca vai
continuar blindando seus carros e pondo cerca elétrica nos muros de suas
moradias?
Contrapondo
a essas leis repressoras que não funcionaram, surgem as ações
afirmativas para os afrodescentes (cotas nas universidades,
obrigatoriedade de ensino da cultura negra nas escolas, reconhecimento
das terras quilombolas, incentivo aos empreendedores negros etc.).
Na
Cultura e na Arte não é diferente e as desigualdades estão presentes.
Estes setores não são "ilhas de igualdade racial", longe disso, pois
eles refletem a sociedade que os cercam. Quantos artistas e produtores
negros têm projetos aprovados nos filtros ultra-seletivos dos editais de
fomento a Cultura no Brasil? A culpa é deles? São menos inteligentes?
Menos capazes? ... Balela.
Não
podemos tratar com igualdade os desiguais. É preciso políticas
afirmativas também na Cultura e na Arte. Por tudo isso, expressamos
nosso total apoio aos editais para artistas, criadores, produtores e
pesquisadores negros do MinC.
Antonio Olavo