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Atnágoras Lopes |
“Cara, o que ficou provado aí é que eles têm o poder,
mas nós é que temos a força,
por isso a greve tinha que continuar...”.
Foram essas as palavras de um dos mais aguerridos ativistas da greve dos operários da construção civil de Belém, que durou nove dias. Ele disse isso após a assembleia realizada, na porta do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), com a presença de cerca dois mil trabalhadores. A aprovação do acordo obteve apoio de mais de 90% dos presentes.
A força da luta, protagonizada pelos operários e operárias, evidenciou o grau de mediocridade, ganância, petulância e truculência dos empresários da construção que atuam em nossa capital. A opinião pública o tempo inteiro colocou-se ao lado dos trabalhadores. Enquanto isso, a cada declaração, a cada nota, a cada decisão judicial que atacava o movimento, vinha a público a dura frieza dos donos das construtoras.
Convictos de que “eles têm o poder”, os patrões destilaram veneno por todos os lados e anunciavam que “cortariam o salários de todos os grevistas”, quando se referiam ao adiantamento quinzenal que para maioria dos operários significa R$ 280,00. Isso mesmo! Esse é o valor de 40% do salário de um ajudante de pedreiro em Belém. E foi assim, com essa virulência que os empresários ameaçaram e negaram a concessão de uma cesta básica para a categoria.
Na luta pelos 15% de vagas e a profissionalização da mulher operária, foram muitos os momentos de emoção, expectativa e frustração. Esta última imposta pela patronal. Em Belém, uma mulher entra ajudante e morre ajudante dentro do canteiro de obras. Elas marcharam em coluna todos os dias pelas ruas da cidade e, pelo terceiro ano, enfrentaram um desprezo repugnante pela sua causa. E, o que é pior, do lado dos empresários, o que não faltou foi mulher burguesa para emperrar qualquer avanço nesse tema. As mulheres operárias, com o apoio de toda categoria, seguirão marchando pelos seus direitos e agora estarão ainda mais fortes, pelas lições que acumularam.
A greve teve seu desfecho com 9% de reajuste; redução dos descontos de vale-transporte de 2% para um 1%; reajuste de 7% no valor da PLR; nenhum reflexo dos dias de greve nas férias e PLR; compensação de quatro dias e desconto de outros quatro (parcelado nos meses de setembro e outubro). A redação final do acordo obrigou os empresários a se comprometerem em incentivar a concessão de cesta-básica, por empresa. A imagem dos representantes do sindicato patronal em negociação, em plena greve, e ainda tendo de negociar os dias de paralisação deixa um signo: Se nós temos a força, somos capazes de dobrar a arrogância deles.
Sendo “o tempo, o mais absoluto de todos os bens” e a “transformação de algo, impossível, até que se torne necessário”, podemos crer que a greve dos operários e operárias da construção civil de Belém teve seus fatos e atos inteiramente recheados por essas hipóteses, dando-lhes um certo ar de que é por esta via que se gesta a liberdade.
Como pode a não concessão de uma cesta básica tornar-se uma questão de honra a um grupo de ricos empresários? A busca por esta resposta norteou o desenrolar de uma longa conversa com esse bravo companheiro que queria continuar a greve, e concluímos que: “Nunca foi só por uma cesta básica”. Mas é por essa cesta e pelas bandeiras das mulheres que, em Belém, seguiremos a nossa batalha. Uma batalha, sabemos, que é parte da luta de classes e são quando esses conflitos acontecem que colhemos e plantamos os sonhos da classe trabalhadora até juntarmos em nós: Força e Poder.
Fotos Rui Baiano Santana
Atnágoras Lopes é da direção nacional da CSP Conlutas