segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Joílson, o skinhead pernambucano

Via Blog Esqueda Caviar                            Humberto Capellari  

Joílson ( "Caveirão" ) estava muito excitado. O avião que trazia seu ídolo político, Jari Bolsonagro, acabara de aterrissar no Aeroporto de Guararapes. A turma de Joílson, que aguardava Jari no aeroporto há umas 2 horas, era comporta de uns 8 ou 10 skinheads. Todos eles se declaravam "nacionalistas, integralistas". ( "E nazistas", completa Joílson ).

"Isso aí! Tem que ter ordem. Tem que obedecer um líder, um cara de bem que vai limpar o país da corrupção e estabelecer a ordem. Que nem os militares fizeram em 64. Comunista virou comida de tubarão...", berrava Joílson.

Entrevistado por um repórter local, um dos parceiros de Joílson, Cícero "Bulldog", diz que se tivesse um Hitler no Brasil "isso aqui nunca mais ia ser entreposto de boliviano, haitiano e cubano" e que "o Brasil é dos brasileiros" (sic!). A seu lado, Gilson "Conan" completa:
- ... e chega desses refugiados 'islâmicos' da Síria, desses bolivarianos comunistas, desses pretos da África. Aqui já tem demais, infelizmente!!!!

Bruno ( "Brunão" ) olha pra Joílson, que berra no microfone:

- E chega dessas arrombadas feminazis e desses gayzistas. A família em primeiro lugar. 
- Mas tem a Pátria também..., diz outro.
- E Deus! Deus! Não pode esquecer! É ordem, família, pátria e Deus!
- E o direito de autodefesa! Esses viados querem ficar se beijando na rua! E os bandidos entram na tua casa e o governo comunista não deixa você se defender!
- Por quê pode ser comunista, mas não pode ser nazista!!!?, questionou Joílson.

(***)

Tempos depois, Joílson viaja pra São Paulo. Vai ficar uns tempos na casa de seus tios, que vieram de Pernambuco prá cá há cerca de 20 anos. Hoje em dia, moram na Vila Mariana. 

Joílson nunca veio para São Paulo, apesar dos frequentes convites de seus tios:

- Você vai se espantar com a grandeza disso aqui! É muito mais do que aparece nas novelas. Os prédios vão te deixar de queixo caído!

Enfim, chegou o dia.

Após seguir direitinho as instruções de seus tios quanto ao roteiro a ser seguido ( "Para você não se perder!" ), Joílson desembarcou em Congonhas, vindo de Porto Seguro e, neste momento, se encontra na esquina da Avenida Paulista com a Augusta, por sugestão dos tios, que acharam que seria o melhor ponto de encontro possível. Iriam de Metrô buscá-lo. 

Por ser um ponto bastante conhecido da Capital, ele não teria maiores dificuldades de chegar ali.
Sexta-feira à noite, Joílson está com sua bagagem no citado ponto, só observando o movimento. 
Não fica muito feliz com o que vê, sobretudo a quantidade de homossexuais circulando.

"Putaquepariu, quanto viado! Olha que lugar que eu vim parar, arreégua!"

De repente, ele é cercado:

- Aê cuzão, de onde você é?

Uma gangue de skinheads paulistanos, todos mais brancos que papel. Fortões e tatuados. Alguns deles usando camisetas com a imagem da bandeira paulista. Outros usam camisetas de bandas gringas. A camiseta de um outro tem a inscrição "White Power".

Joílson, por outro lado, tem a pele bastante curtida do sol ( por isso foi "escolhido" pela gangue diante dele ) e não está vestido como no dia em que foi ao Aeroporto de Guararapes recepcionar Jari Bolsonagro. Está vestido de forma "normal", digamos assim.

Ao responder que é de Pernambuco, toma um tapa na cara. É a última frase articulada que lhe permitiriam falar.

SLAP!!

Depois do tapa, que surpreendeu Joílson, vieram murros com soco inglês, porradas com cabos de vassoura e cassetetes. Uma lâmpada fluorescente explode em sua cabeça. Sangue por todo lado. Até corrente rolou na parada. 

Joílson no chão sendo brutalmente chutado por coturnos pesados. Seus algozes berram:
- Paraíba do caralho!
- Cabeça-chata filha da puta!
- Volta pra tua terra, baiano!!
- Vai, Bolsa-Família! Barata do sertão!! Ratazana do agreste!!
- Vem aqui fazer o quê, seu lugar não é aqui!!!!

A turba para com o espancamento e começa a dar no pé, antes da chegada da polícia. O objetivo, de "assustar aquele baiano", foi concretizado.

Um dos skinheads, Breno ( "Polaco" ) dá uma cusparada em Joílson e berra com ele:
- Aqui é São Paulo! Terra de coxinha! SÃO PAULO PARA OS PAULISTAS! Fala pra tua gente não vir mais pra cá!

FIM

Um comentário:

Lobo solitário disse...

Eu estava lá eu era o microfone na mão do repórter.