Artigo Rui Baiano Santana e José Oeiras
A última pesquisa de intenções de votos feita pelo Instituto Paraná apontou um cenário preocupante para o Prefeito Pioneiro (PSDB), com 24,2%. Ele tem o Coronel Neil (PSD), com 18%, no seu encalço. À frente vem seu principal rival, o radialista Jéferson Lima (PMDB), com 31,5%. Ananindeua é uma cidade estratégica para o ministro Helder Barbalho na sua pretensão de governar o Pará, já que na ultima eleição ele perdeu na Região Metropolitana e a máquina eleitoral do PMDB vai priorizar a campanha de Jéferson Lima.
A gestão Pioneiro tem apresentado índice
baixíssimo de apoio por parte da população em relação à gestão. Com três mandatos como prefeito, sem
dúvida é o político mais conhecido no município. Ele ganhou seu primeiro
mandato, quando Ananindeua tinha um orçamento de 22 milhões anuais, No ano
seguinte viu o orçamento crescer, via repasses de impostos e reformas
constitucionais, para 100 milhões. Pegou um município dormitório, com ruas sem
asfalto e quase nada de políticas públicas. Recebeu grande apoio do governador
Almir Gabriel, com verbas desviadas da prefeitura de Belém provenientes do
repasse do ICMS, conseguindo implantar sua política de asfalto, pão e circo.
Isenções tucanas
Seguiu a
política dos tucanos de dar isenção sem avaliar o impacto financeiro futuro no
município, o que resultou na atração de grupos comerciais do setor de
supermercados e atacadistas. Dizem à boca pequena que o grupo Formosa, por conta das isenções de
ISS, IPTU e outras taxas, deu 200 vagas de empregos e outros mimos para
Pioneiro distribuir entre seus cabos eleitorais.
Distrito Industrial
Na indústria não teve tanto êxito. O Distrito Industrial de Ananindeua nunca vingou. Sem uma política de incentivo à indústria, o precário “parque industrial” é composto apenas de algumas médias empresas de beneficiamento alimentício e de artefatos de concreto. Ananindeua é uma dessas grandes cidades que não têm planejamento urbano e sua forma de crescimento e expansão espacial são ditadas pelos interesses do capital imobiliário especulativo.
Política do asfalto
A marca do prefeito é o asfalto; educação e
políticas públicas de saúde são os pontos fracos da gestão pioneirista. Passadas três gestões à frente da
prefeitura, Pioneiro manteve a velha fórmula: asfalto e festa. Mas hoje as
demandas da população são outras. Com ações da gestão petista no governo
federal, uma boa parte da população teve acesso à saúde, educação e a políticas
sociais, como
é o caso da construção de mais de 5 mil habitações e outras milhares em fase de
contratação do Programa Minha Casa Minha Vida; de duas UPAs 24 horas (hoje
negligenciadas em seu funcionamento e gestão, devido à ausência do poder público
municipal que não investe em profissionais da área em quantidade suficiente
para o atendimento à população); de obras de infraestrutura básica em áreas de
grande densidade populacional, como é o bairro do Aurá e adjacências, das casas
rurais e da eletrificação nas ilhas do município; há ainda a construção da
primeira Estação Elevatória de Esgoto no bairro de Jaderlândia, com recursos da
Funasa.
Ananindeua não quer só asfalto e festa
As demandas aumentaram, inclusive com a ampliação do crédito para consumo, e o debate sobre políticas públicas saiu dos projetos e foi para as ruas, enquanto a gestão de Pioneiro não acompanhou. Ananindeua é a 40ª. cidade brasileira em número de habitantes, a 3ª. da região norte e a 2ª. cidade do estado do Pará, mas cresceu sem planejamento urbano. O Plano Diretor está completando 10 anos e nunca saiu do papel, ou seja, é uma pequena metrópole amazônica com problemas de uma grande metrópole.
A violência
Os índices nacionais apontam Ananindeua como uma das cidades mais violentas do país; a juventude negra tem o peso da falta de políticas sociais e o peso da política da bala, o que deve ser o mote da campanha de um dos candidatos, o coronel Neil. Pioneiro não opera a política da bala, mas virou as costas para a juventude ananindeuense. A cidade não tem teatro, cinema, praças e políticas para a juventude. Qual o orçamento para políticas públicas destinadas à juventude? Este é um dos flancos mais fracos da gestão, vai pesar na eleição. Hoje 30% dos eleitores de Ananindeua estão na faixa de 18 a 25 anos.
Violência contra mulher e falta de políticas públicas
O município ficou na 7ª posição nacional em assassinatos no percentual de cada grupo de 100 mil mulheres; segundo o mapa da violência contra a mulher, igualmente entre os jovens, há uma incidência muito grande de morte violenta, a maioria (67%) são jovens negros ou pardos. Em número de homicídios pesquisados, em municípios brasileiros acima de 10 mil habitantes, Ananindeua figura em primeiro lugar no estado e em quinto lugar no Brasil.
Festeiro
Uma vez em um taxi chegando a Ananindeua no período carnavalesco, o editor do Blog ouviu do motorista o seguinte comentário: “A cidade só é chuva e festa, Pioneiro é boiadeiro, gosta de festa”. Em Ananindeua já passaram os grandes nomes do Axé e do Sertanejo, com seus cachês astronômicos, fazendo show de uma hora.
Sem política cultural
Enquanto isso, a cultura popular local não tem qualquer apoio. Um exemplo é a Escola de Samba Caprichosos da Cidade Nova, que desfilou este ano em Belém porque não teve apoio da prefeitura (PMA). O cantor de brega raiz Jorge Benner levou um ano para receber um cachê. Ananindeua é rica em manifestações culturais: esta é uma das marcas de Pioneiro, nenhum apoio à cultura local, só esmola.
Esgotamento sanitário
A cidade não figura no índice do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), com uma taxa de 0,1% de coleta de esgoto sem tratamento e com cerca de 40% de atendimento no abastecimento de água para uma população de meio milhão de habitantes. Quando chove a cidade vira um grande rio, arrasando o precário sistema de mobilidade urbana.
Aconteceu um boom de condomínios verticais em
Ananindeua. Um exemplo é a estrada do 40 Horas (hoje Av. Hélio Gueiros), que
nos últimos anos recebeu mais de 30 empreendimentos. O esgoto doméstico (via
pias) corre em céu aberto, porque a cidade só tem em torno de 14% de drenagem
para águas servidas. Um escândalo, autêntico vertedor de transmissão de
doenças. Não há um sistema de infraestrutura de esgotamento sanitário, o
que acarreta enorme impacto nas nascentes dos rios, os quais pouco a pouco vão
desaparecendo.
Por outro lado, a gestão ambiental foi
entregue à família Begot, que tem em seu currículo a devastação de uma boa parte
de terras, como é o caso da área quilombola conhecida como Abacatal.
A política de assistência social
É quase inexistente. Há uma Secretaria inoperante, que tem como sua maior marca a contratação de servidores por chamadas públicas (sem concurso) e aluguéis de imóveis, aos montes. As ações sociais decorrem dos programas e projetos de maior peso do governo federal(Gestão Dilma), com repasse de Fundo a Fundo: o Bolsa Família Benefício da Prestação Continuada (BPC) e o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), hoje ameaçados de diminuição em razão de cortes previstos pela política de austeridade do governo interino do golpista Michel Temer (PMDB).
Câmara de Vereadores de Ananindeua
Trata-se de um gasto desnecessário para o município, funciona só um dia na semana as terças. A maioria da bancada vota cegamente sem sequer ler os projetos do prefeito. A presidenta Francy Pereira no ano passado comprou um milhão de reais em gêneros alimentícios. Até hoje esperamos a abertura do restaurante da Câmara. Fiscalizar o Executivo? Nem pensar. A CPI das milícias do Semutran foi barrada. Em torno de 60% dos atuais vereadores provavelmente não serão reeleitos.
O risco de não ir para o segundo turno
Se Pioneiro ficar fora do segundo turno da eleição municipal, seria a maior derrota para quem pensa em disputar o governo do estado em 2018. Temos que admitir que ele é um político matreiro: tem três meses para mexer no tabuleiro político e tentar reverter os índices negativos para sua reeleição, já que a parte administrativa da gestão está perdida.
Um comentário:
Isso é um absurdo. Eu trabalhei com o professor Marcos Klautau quando ele foi secretário de finanças de Ananindeua. Ele resolveu vários problemas que não cobravam o iptu a vários anos, diminuiu o IPTU e a receita aumentou. Agora esse prefeito quer aumentar o valor? A receita vai cair. Prefeito, chame de volta o professor Klautau.
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