Via GGN
O Jornal de todos Brasis
Por Antônio Lassance, José
Machado, Renato Maluf e Ronaldo Coutinho Garcia
A indisfarçável crise do PT
requer revisões profundas.
Para esse desiderato, antecedendo
à reunião do Diretório Nacional do partido, muito contribui a proposta lançada
pelo Diretório Estadual do Rio Grande do Sul, propugnando pela convocação
imediata do Congresso partidário, com plenos poderes para renovar os métodos
organizativos, a direção e a linha política estratégica e programática do
partido. A rejeição ao Processo de Eleição Direta (PED), que compõe o
posicionamento gaúcho, é fundamental, já que esse mecanismo de eleição da
direção, supostamente democrático, tem se revelado um foco de deformação das
práticas partidárias: vence quem, pelo poderio material e financeiro, é mais
capaz de arregimentar e transportar filiados para votar e não pelo salutar
embate de ideias.
A decisão gaúcha é histórica e
emblemática, porque unitária; porque assumida por uma seção estadual de grande
tradição de lutas, na construção do PT e na experiência institucional; e porque
tomada na esteira de um clamor que se amplia a cada dia em razão da
insatisfação com a crise partidária interna que se arrasta há anos e que
imobiliza o partido diante dos monumentais desafios que se antepõem a ele e à
esquerda em geral na atual quadra da vida nacional. A gota d’água foi o desastroso desempenho do
PT nas últimas eleições municipais, caindo por terra qualquer outra cogitação
para solucionar o impasse que aflige o universo petista.
Para um segmento do partido,
representado pelo chamado campo majoritário, ou parte dele, ainda resistente a
qualquer mudança de rumos, postulação como a feita pelo PT gaúcho soa traiçoeira
porque, no entender desse campo, fragiliza ainda mais a agremiação, compromete
a sua defesa e a de Lula e, consequentemente, a luta contra a sanha neoliberal
da era Temer que solapa os direitos sociais dos trabalhadores e a soberania
nacional. Essa posição é decididamente equivocada e injusta.
Primeiramente, porque o PT, mercê
do seu enorme desgaste, que lhe subtraiu fortemente credibilidade e confiança,
já não é mais capaz de sustentar, no estágio em que se encontra, um papel de
liderança no conjunto das forças democráticas e populares do país. O partido,
através de sua direção, segue errático, emitindo, dia sim dia não, comunicados
e resoluções que não sensibilizam e movem ninguém, nem mesmo sua própria
militância, que dirá para fora de sua linha divisória. A militância petista,
conforme se percebe nas mensagens postadas nas redes sociais, exibe a sua
tradicional e reconhecida combatividade, mas está completamente desnorteada e
dominada pelo voluntarismo porque carece de orientação e plano estratégico de
lutas. É um salve-se quem puder, que extrapola para a esquerda como um todo.
E depois, porque o debate público
sobre suas mazelas, seus erros e seus acertos só pode fortalecer o partido,
pois ilumina o caminho e permite a fixação de novos métodos organizativos e de
novos rumos programáticos e estratégicos, restabelecendo a confiança interna e
possibilitando a reconstrução dos laços com a sociedade. A autocrítica que o PT
precisa fazer não deve e não pode ser autofágica; tem que ser dura, sem perder,
jamais, a ternura. E ela é um dever coletivo e não se circunscreve à direção,
pois todos, indistintamente, militantes fervorosos ou não, têm culpa no
cartório, senão pelo protagonismo no processo decisório, certamente pela
omissão ou pela condescendência. O risco de o debate descambar deve ser
prevenido e mitigado por um efetivo pacto interno, subscrito por todas as
correntes, organizadas ou não. A preparação e a condução do Congresso poderia,
nesse sentido, ser coordenada por uma comissão ad hoc de alto nível e
representatividade, nomeada e apoiada pela Direção Nacional.
Como diz o ditado, há que se
chupar cana e assoviar ao mesmo tempo. A condução de um urgente reencontro do
PT com seu leito histórico, que o livre dos miasmas que o assombram e o
rejuvenesçam pela inventiva e pelo espírito revolucionário, terá que ser levada
adiante no calor da luta contra o neoliberalismo e o Estado de exceção que
medram no país. Dialeticamente, uma dinâmica haverá de robustecer a outra, e
vice-versa. Não podem ser tratadas como antagônicas.
O imediato resgate do PT, nos
moldes preconizados pelos petistas gaúchos, é condição sine qua non para
requalificar o partido, perante a sociedade e perante os demais parceiros do
campo democrático-popular, para seguir tendo um papel construtivo e influente
nas duras jornadas de luta que se descortinam pela frente. Afinal de contas,
apesar de fragilizado, ele tem raízes nos movimentos sociais, tem experiência
vivida e tem uma militância inigualável. E, caramba, tem Lula.
Antônio Lassance (Cientista
Político e Professor Universitário)
José Machado (Ex-Prefeito de
Piracicaba e Ex-Deputado Federal - PT/SP)
Renato Maluf (Economista e
Professor Universitário)
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