NR. O Blog Ananidneuadebates deu destaques em alguns trrechos da entrevista
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A BELÉM
29/10/2016 20h00
O presidente nacional do PSOL,
Luiz Araújo, escolheu acompanhar o segundo turno em Belém, a sua cidade natal.
Mas o motivo é outro: o candidato do partido, Edmilson Rodrigues, tem mais
chances de vitória aqui do que no Rio com Marcelo Freixo, segundo pesquisas (NR. perdeu nas duas capitais).
Em entrevista à Folha na sexta
(28), Araújo diz que o PSOL começou a ocupar o vácuo deixado pelo PT, seu
antigo partido, mas que não conseguirá reconstruir a esquerda sozinho.
Professor de pedagogia da UnB
(Universidade de Brasília), Araújo, 53, deixou o PT junto com seu grupo
político em 2005, ano em que estourou o escândalo do mensalão. A seguir, a
entrevista concedida no comitê de campanha do PSOL em Belém.
Balanço eleitoral
Essa talvez tenha sido a eleição
mais difícil para a esquerda. Apesar de a gente ter saído do PT há 11 anos, o
desastre que a eleição foi pro PT atingiu toda a esquerda.
Radicalizou-se um eleitorado mais
conservador, principalmente as camadas médias nas cidades. Por um lado, [há] um
ceticismo com a política, o que nos prejudica, porque a politização nos ajuda
como candidatura de esquerda. E, por outro lado, o crescimento de partidos com
candidaturas mais conservadoras stricto sensu. Os Bolsonaros da vida.
Mas nós crescemos também. Foi um
bom resultado no meio de um péssimo resultado. A eleição foi uma vitória da
direita, mas, olhando pelo lado da esquerda, o PT perdeu protagonismo no país
inteiro, e o PSOL começou a ocupar esse espaço, guardadas as suas proporções.
Quem disputava esse espaço? PC do
B, que tinha uma vinculação mais estreita com o PT; a Rede, que teve uma
disputa contraditória porque se dividiu muito no dia anterior à votação do
impeachment e não teve candidaturas muito competitivas.
Por esse lado, foi muito
positivo: chegar a três segundos turnos [Rio, Belém e Sorocaba (SP)], quando o
PT chegou a um só segundo turno [em capitais]. Lógico que ganhar ou não onde
estamos disputando o segundo turno fará muita diferença na avaliação.
Segundo turno no Rio
A gente não tem uma aliança com a
Globo. O que preside a Globo bater no Marcelo Crivella? Um problema comercial.
Crivella assumindo tem o efeito colateral de turbinar as finanças da principal
concorrente da Globo [a Rede Record].
É lógico que houve uma
mobilização desses setores que não gostam muito do Freixo, mas o Crivella pode
ser um tiro no escuro. Não é um plano de alianças. Os interesses olham para as
candidaturas e dizem: qual o mal menor pros meus interesses? É lógico que a
afinidade ideológica da Globo com PSDB seria maior.
Mas acho que isso é bom,
educativo. Durante um período no PSOL, as pessoas não conseguiam enxergar que o
segundo turno é um plebiscito.
Reconstrução da esquerda
A esquerda está num momento de
reorganização. Temos o passivo de uma experiência que não deu certo pelo campo
econômico. A nossa crítica ao governo Lula e o PT é de que não foi radical o
suficiente no seu programa, fez concessões demais.
Enquanto essas concessões foram
suportáveis pela elite, o PT conseguiu governar. Quando não tinha mais dinheiro
pra isso, optou por fazer os ajustes que o [presidente Michel] Temer está
fazendo com muito mais propriedade e capacidade política, digamos assim.
Mas também [de reorganização]
pelo campo ético, de práticas da chamada governabilidade, o eufemismo inventado
no Brasil para corrupção e compra de apoios em troca de cargos.
A pergunta é: que tipo de
esquerda pode ser reconstruída? Algumas pessoas dentro da esquerda dizem: o
problema do PT foram as alianças. O PSTU, por exemplo: "Melhor sozinho do
que mal acompanhado".
O PSOL não pensa assim. Achamos
que existe um segmento da esquerda dentro do petismo e em outros partidos que
continuam lutando, defendendo teses, lutando em movimentos sociais e que não
estão no PSOL.
O PSOL não basta para reconstruir
a esquerda. Nós assumimos um protagonismo recentemente, mas sozinhos a gente
não consegue reconstruir.
Então essas experiências que
estamos tendo fazem parte desse processo: ter políticas de alianças que não sejam
troca de cargos, trazer segmentos que estavam na órbita do PT para apoiar
nossos candidatos, ter sido contra o impeachment mesmo fazendo oposição ao
governo Dilma.
Ascensão do PC do B no Maranhão
É uma questão delicada. O
governador Flavio Dino até mandou apoio pro Edmilson, se conhecem. O PC do B
está nos apoiando aqui no segundo turno.
Mas eu não acho que seja um
projeto de esquerda lá. Tem um filme do Glauber Rocha, "Maranhão 66".
Foi o primeiro filme de propaganda eleitoral do Brasil, sobre a vitória do José
Sarney, em 1966. Nesse filme, tem um discurso do Sarney mostrando essa
desigualdade, essa pobreza que tinha no Maranhão e que ele ia acabar com as
oligarquias.
O que ele fez depois? Criou uma
oligarquia em torno dele, cooptando a oligarquia a partir do aparato do
governo. O meu medo é que o Dino esteja fazendo um caminho parecido. É um
risco. Eu não vou comparar porque seria uma grosseria. Ele é muitas vezes
melhor do que o Sarney. Ele tem uma trajetória, mesmo que, nos últimos tempos,
tenha ficado muito pragmático.
Que 46 prefeitos são esses [do PC
do B no Estado]? São satélites do campo do governo, não foram 46 comunistas
eleitos. Nem na China nem lá. Foram 46 prefeitos conquistados pela relação com
o governo num Estado muito dependente, porque as prefeituras precisam estar do
lado do governador pra ter qualquer coisa extra pra fazer, que não seja o FPM
(Fundo de Participação dos Municípios). Não acho que foi tão relevante como ele
apresenta.