Coluna de Jadson Oliveira: jornalista baiano. Trabalhou nos jornais
Tribuna da Bahia, Jornal da Bahia, Diário de Notícias, O Estado de S.Paulo e
Movimento. Depois de aposentado virou blogueiro e tem viajado pela América do
Sul e Caribe.
As
mentes e corações dos brasileiros, há décadas, estão submetidos ao
massacre incessante dos noticiários manipulados e visões de mundo
vomitados pelas forças de direita, através da Globo e demais monopólios
da mídia hegemônica.
De Salvador-Bahia – É importante que um líder
popular da envergadura de João Pedro Stédile, o dirigente de maior
destaque do MST, reconheça, claramente, essa tremenda falha das
esquerdas brasileiras.
(Li no site do jornal Brasil de Fato, sob o título ‘Espero que a
classe trabalhadora comece a se mexer’. O entrevistador Paulo Moreira
Leite perguntou: “Onde foi que nós erramos”? Stédile menciona erros dos
governos Lula e Dilma e do movimento popular e democrático, cita várias
falhas e insuficiências, como a falta de democratização da mídia, e no
final: “E não conseguimos construir nossos próprios meios de comunicação
de massa”).
Só esta frase sobre o assunto no meio da entrevista, que se estende
sobre o sufoco atual da luta popular, a reação contra as consequências
do golpe midiático/judicial/parlamentar (a serviço do capital
financeiro/rentismo) e também sobre o apoio do papa Francisco ao
movimento popular.
Nada mais foi comentado ou perguntado sobre o tema específico, no
qual venho insistindo há alguns anos, sob a consigna da necessidade da
luta pela construção duma mídia contra-hegemônica.
As esquerdas no Brasil são refratárias a este tema e agora, com o
golpe e a destruição de pequenas conquistas no âmbito da EBC, tudo fica
mais difícil. Daí que vejo esta pequena menção do líder dos Sem-Terra
como alvissareira.
Parece uma declaração óbvia e sem grande relevância, mas não é, pelo
menos para quem matraca nessa tecla há muito tempo e não vê repercussão,
como é o caso deste modesto escrevedor que vos fala.
Digo a vocês: ou estou redondamente enganado ou não há consciência
desta falha entre as lideranças políticas do Brasil envolvidas na luta
democrática, popular, nacionalista e de esquerda.
E nem entre os chamados blogueiros progressistas, que se esfolam para
tentar fazer o contraponto à Globo e demais meios hegemônicos. Tentam
heroicamente e – me parece – não demonstram ter consciência de que não
têm armas e munições suficientes para fazê-lo.
Faltam armas na batalha da comunicação
As mentes e corações dos brasileiros, há décadas, estão submetidos ao
massacre incessante dos noticiários manipulados e visões de mundo
(ideologia e cultura do ódio, da violência, do consumismo e da
futilidade) vomitados pelas forças de direita, através da Globo e demais
monopólios da mídia hegemônica.
Enquanto isso, os meios de comunicação de massa com algum compromisso
democrático e nacionalista – honestos do ponto de vista jornalístico -,
são raros e fracos, levando em conta os meios tradicionais (TV, rádio,
jornal e revista).
O que alivia o nosso sufoco são os meios digitais, hoje uma força
crescente: blogs/sites, jornais online, portais e redes sociais. Para se
ter uma ideia é bastante anotar o poder de reação da rede de blogs
chamados progressistas.
Mas, mesmo aí, creio que muita gente se ilude, inclusive companheiros
de esquerda. Temos um bom poder de fogo em se tratando da web, mas é
preciso compreender que aí também a direita tem mais força, tem mais
dinheiro, tem mais influência, mesmo estando longe da hegemonia
avassaladora exercida nos meios tradicionais.
Diante desse quadro, volto a constatar: lideranças das esquerdas não
têm consciência desta nossa fraqueza. Quantas vezes você já viu Stédile
dizendo algo semelhante?
Lula, perseguido pelo poderoso condomínio formado pelas forças
golpistas, aponta o dedo acusador, a todo momento e com toda razão,
contra a Globo e cúmplices da imprensa. Antes do golpe estar configurado
e, em seguida, consumado, quantas vezes você viu Lula acusar,
explicitamente, a Globo?
A ex-presidenta Dilma nem se fala: quem não se lembra daquela
besteirada que ela dizia referindo-se ao controle remoto como o meio
mais eficaz de fazer a regulamentação da mídia?
E o nosso José Dirceu, talvez a vítima mais escancarada do ódio da
plutocracia brasileira, proclamando em carta ao amigo e escritor
Fernando Morais “delenda Rede Globo”? Quem não se lembra que ele chegou a
pensar que a Globo era “nossa”, isto é, do governo “petista”?
Consciência da fraqueza das esquerdas
O artigo já vai se alongando e andam me avisando que escrevo textos
longos demais. Mas não tem jeito. Tenho que registrar que pelo menos
dois líderes políticos brasileiros mostram-se sensíveis à necessidade
duma imprensa alternativa forte: o senador Roberto Requião (PMDB-Paraná)
e o cientista político Roberto Amaral, ex-presidente do PSB (já falei
deles em outro artigo).
Registro também um companheiro que sempre defende como fundamental a
existência de veículos da mídia contra-hegemônica: o jornalista Beto
Almeida, dirigente da TV Comunitária de Brasília e conselheiro da TV
Telesur. Ele lembra sempre o protagonismo relevante do jornal Última
Hora, de Samuel Wainer.
Temos que discutir vários aspectos, mobilização, organização,
táticas, estratégias, etc, mas carentes de meios que possam dialogar com
as massas – a fim de expressar com amplitude nossa versão dos fatos,
nossa interpretação e nossas opiniões – temos diminutas chances de
construir algum avanço na luta pelos interesses populares e nacionais.
Fecho com uma declaração, de 2014, de Carlos Araújo, ex-marido e
ex-companheiro de militância política da então presidenta Dilma
(lembrada em matéria do jornal argentino Página/12, assinada por Gustavo
Veiga, edição de 13/05/2016, intitulada ‘Un actor clave en el show
opositor’, sobre o escandaloso poder das Organizações Globo):
Traduzo: “É incompreensível que o governo não tenha o respaldo de
nenhum jornal do Brasil, um jornal que consiga que nossas ideias sejam
publicadas. Para discordar ou debater é necessário um jornal. Só há uma
pequena revista nacional e alguns meios de comunicação digitais que
apoiam o governo. Nós temos que trabalhar para isso”.
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