Jadson Oliveira é jornalista baiano. Trabalhou nos jornais Tribuna da Bahia, Jornal da Bahia, Diário de Notícias, O Estado de São Paulo e Movimento. Depois de aposentado virou blogueiro e tem viajo pela América do Sul e Caribe.
A direita tem uma hegemonia
esmagadora nos meios tradicionais de comunicação de massa. E é majoritária,
embora com disputa, nos digitais, cuja influência é crescente. A esquerda
precisa não só da democratização da mídia, mas duma rede de informação
contra-hegemônica.
De Salvador-Bahia – Na semana passada foi
divulgada uma pesquisa do Ibope dando conta de que 36% dos eleitores
brasileiros apontam que a Internet/redes sociais terão “muita influência” na
escolha do presidente da República em 2018.
Enquanto no
caso da mídia tradicional (TVs, rádios, jornais e revistas), dá quase o mesmo
percentual: 35%. A vantagem para a Internet é que sua influência é crescente e
os percentuais se distanciam quando são consultados os jovens: entre os de 16 a
24 anos, os números são 48% x 41%.
Sites da
blogosfera progressista, divulgando a matéria do Estadão assinada por José
Roberto de Toledo, deram o título ‘Internet terá mais influência que a Globo em
2018’.
Claro que
a pesquisa traz outros quesitos e outros percentuais (link abaixo para a
matéria). Mas o que me interessa mesmo é discutir tais números com referência à
esquerda (ou às esquerdas), especialmente levando em conta a posição
massacrante dos monopólios da mídia tradicional, em especial a Globo.
Porque me
parece que há a ilusão entre as esquerdas (e/ou centro-esquerda) de que “muita
influência” dos meios digitais significa maior influência das forças à
esquerda.
Não é
assim. Me atrevo a dizer que é o contrário. No que pese o combate travado no
dia-a-dia pelos “guerrilheiros” da blogosfera progressista e das redes sociais.
A direita
tem muito mais força na Internet do que as esquerdas. Além dos seus também
“guerrilheiros” e dos grandes portais dos veículos da imprensa hegemônica (G1,
UOL, etc), tem dinheiro à vontade para manejar “exércitos” de “militantes”
contratados, com nível sofisticado de profissionalização.
No caso,
o exemplo mais conhecido numa campanha eleitoral aqui na América Latina é a do
presidente argentino Mauricio Macri. Seu badalado marqueteiro – o “guru” equatoriano
Jaime Durán Barba –, dirigindo um grupo de 300 contratados, através de extensa
pesquisa e monitoramento do eleitorado, contribuiu, talvez decisivamente, para
o resultado do pleito.
Conforme
analistas, tal metodologia – com modernos instrumentos da Tecnologia da
Informação (TI) e considerada “revolucionária” -, foi utilizada também na
vitória de Donald Trump nos Estados Unidos.
Então, creio
que os 36% de “muita influência” da Internet/redes sociais acabam levando mais
água ao moinho da direita.
Talvez a
ilusão da esquerda, ao enxergar o contrário, seja vitaminada pela hegemonia
quase total da direita nos meios tradicionais: TVs abertas e por assinatura, todas
as rádios, todos os jornalões e três das quatro revistas semanais.
O domínio
da direita é tão avassalador nas mídias tradicionais – segundo a pesquisa, 35%
de “muita influência” - que o fato da esquerda ter um certo poder de fogo
(minoritário) nas digitais gera um distúrbio de visão.
Entre parênteses:
Não
confundir com a conjuntura atual, transitória, na qual esses meios hegemônicos
de comunicação de massa estão divididos diante do ‘Fora Temer’, porque os
verdadeiros donos do poder, que comandam das sombras – em especial o capital
financeiro – estão da mesma forma divididos.
Divisão
que chega aos seus tentáculos mais visíveis: além da mídia, Congresso
(partidos) e Judiciário. Divisão que reside na incerteza quanto à capacidade do
governo Temer de bancar as contrarreformas trabalhista e da Previdência.
Ou seja,
os golpistas não conseguiram chegar ainda a um consenso no ‘Fora Temer’. Mas no
tocante às esquerdas (e/ou centro-esquerda, inclusive e sobretudo o PT e Lula),
eles se unem sem dificuldades.
Conclusão:
Daí que,
voltando a bater na minha tecla de sempre, a esquerda precisa lutar pela
construção duma mídia contra-hegemônica, como fizeram governos progressistas e movimento
popular da Argentina (no tempo de Cristina Kirchner), Venezuela, Bolívia e
Equador. Mesmo agora, depois do golpe, em condições muito mais difíceis. É uma das
condições para ter chances de lutar, de verdade, contra a corrupção, e pelas
verdadeiras reformas, inclusive a democratização da mídia.
Link da matéria ‘Internet terá mais influência que
a Globo em 2018’:
Um comentário:
muito boa a abordagem do assunto em relação a Globo, cujo o fundador era extremamente meticuloso quando o assunto era eleger presidentes de República.
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