segunda-feira, 3 de julho de 2017

Artigo de Jader Barbalho: BELÉM CAINDO AOS PEDAÇOS



Parte do telhado de vidro do Mercado de São Brás desabou ao ser atingido pela estrutura metálica que se soltou do prédio, depois da chuva na última quarta-feira. Todo o complexo está comprometido, e outras vidraças podem se espatifar no chão, comprometendo a segurança dos que ali trabalham e também de quem visita o local. O Mercado de São Brás tem 106 anos, está tombado pelo patrimônio histórico e é um dos lugares de maior beleza arquitetônica do país. Enquanto isso, o prefeito aproveita as férias e viaja para Enghien-le-Bains, na França, com diárias pagas pelo poder público.

É triste o descaso da gestão atual da com o espaço arquitetônico de Belém. Um dos meus arrependimentos como homem público foi o de não ter transformado o Mercado de São Brás num teatro de arena. Mas, recuperei totalmente o Mercado do Ver-o-Peso que ameaçava ser levado pela maré. Também recuperei o Palacete Bolonha, preservando sua pompa de casa da época da borracha. A mesma coisa fiz com o Palácio Lauro Sodré, hoje Museu do Estado. Todos os administradores devem ter o comprometimento de, se não fizer obras, pelo menos preservar as que já existem. O Palacete Faciola, de beleza sem igual e em pleno centro da cidade, está envolto em mato que já toma conta até da placa na qual está o aviso de que o prédio será recuperado. Ninguém acredita.

O caso da demolição do Grande Hotel, para a construção do Hotel Hilton, hoje Hotel Princesa Louçã, é um dos mais clássicos exemplos da arrogância comercial de quem desconhece o valor histórico e emocional dos espaços de uma cidade. Poderia ter sido preservado, e a construção do Hilton feita por trás do prédio. O Grande Hotel de Belém era uma réplica do Grande Hotel de Milão, sendo que o daqui era mais bonito por causa seu formoso terraço. Estive em Milão e, por coincidência, o quarto em que fiquei havia sido o mesmo quarto em que Dom Pedro II, imperador do Brasil, esteve hospedado pela última vez quando foi assistir à ópera O Guarani, de Carlos Gomes, no teatro Scala, bem próximo ao hotel. Aliás, no livro de registro do hotel, consta que Dom Pedro teria viajado para permitir que sua filha, a Princesa Isabel, assinasse a Lei Áurea, dando fim à escravidão no Brasil. Cheguei a achar o texto meio depreciativo, pois da forma como estava escrito, dava a entender que Dom Pedro havia fugido do país para não assinar a lei.

Por aqui, ainda continuamos como a quarta pior cidade do país para se morar porque os responsáveis pela administração da cidade têm mais experiência e foco no que pode ser destruído do que no que deve ser preservado, e seguem despreocupados com o bem estar da população.

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