sexta-feira, 21 de julho de 2017

Por que o povo não se levanta pelos direitos trabalhistas?

 

Coluna de Jadson Oliveira:  jornalista baiano. Trabalhou nos jornais Tribuna da Bahia, Jornal da Bahia, Diário de Notícias, O Estado de S.Paulo e Movimento. Depois de aposentado virou blogueiro e tem viajado pela América do Sul e Caribe.



Um governo e um Congresso de maioria corrupta aprovam leis que acenam com a volta da escravidão. Uma Justiça partidarizada condena Lula. E os brasileiros não se mexem para defender seus interesses e seu amado presidente. É a hora de ler ‘A Formação da Mentalidade Submissa”.



De Salvador-Bahia
Uma das minhas irmãs, Rubia Oliveira, aflita com o desfecho do golpe que derrubou Dilma Rousseff e a desorientação dos brasileiros, escreveu no Facebook:
Tá uma loucura. O povo tá louco ou totalmente perdido, não distingue uma coisa da outra. Parabéns pela competência da direita. Eles conseguiram e o povo perdeu”.
Creio que Rubia deveria ter guardado seu desabafo para a semana passada. Uma semana do pós-golpe realmente arrasadora:
Primeiro, o governo de Michel Temer, o ilegítimo, conseguiu entregar uma das encomendas fundamentais para o grande empresariado, os verdadeiros donos do poder: desmontou a rede de direitos conquistados a duras penas desde a década de 40 do século passado. Uma mostra do quanto a elite é saudosista da escravidão.
E o povo trabalhador não se mexeu, não foi para as ruas – pelo menos na proporção da gravidade do acontecimento. Como se dissesse: “Isso não é comigo, é lá coisa deles”.
Segundo, uma Justiça partidarizada conseguiu, finalmente, a primeira condenação de Lula, no caso do famoso Triplex do Guarujá, que não é de Lula, mas deveria ser. Os procuradores e o juiz não precisaram apresentar provas, isso não importa, já que neste caso a Justiça tem lado.
E o povo trabalhador não se mexeu, não foi para as ruas defender seu tão amado presidente, certamente o líder popular mais importante dos 500 anos de história brasileira. Como se pensasse: “Isso não é comigo, é lá coisa deles”.
Terceiro, uma sobremesa do banquete da semana: a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados indica ao plenário que Temer não é corrupto. Veremos no plenário. (Este caso, porém, não depende bem do povo, já que os donos do golpe e do poder – capital financeiro, Rede Globo e aliados - estão brigando entre si).
É hora, então, de indagações essenciais:
Por que os trabalhadores aceitam que tirem seus direitos?
Por que os explorados aceitam (muitos até aplaudem) a tirania dos exploradores?
Por que pobres votam em ricos? (Muitos, ingenuamente, dizem até que é melhor porque assim não precisam roubar).
Por que, por exemplo, a maioria dos baianos de Salvador vota num garoto herdeiro milionário (ACM Neto)?
Por que, outro exemplo, a maioria dos paulistanos vota num rico empresário, que se diz não político, e sim gestor (Dória)?
É o caso, portanto, de realçar a “competência da direita”, como faz Rubia Oliveira. E tentar compreendê-la.
A maior façanha das classes dominantes
Acredito, Rubia, que esta é a maior façanha das classes dominantes: fazer com que o povo trabalhador – as classes dominadas – apoie os dominadores. E pense e aja contra seus próprios interesses.
E muitas vezes – este é o cume da competência – os dominadores não precisam nem apelar para a ajuda da repressão policial. A dominação é introduzida na mente, através da ideologia, do cultivo de valores (ou antivalores).
Conheço um livro que dá uma tremenda contribuição para se entender esta estupenda “mágica”: ‘A Formação da Mentalidade Submissa’, do professor espanhol Vicente Romano. Pelo que sei, não há edição brasileira. Tive acesso a uma em espanhol quando estive na Venezuela e descobri depois uma edição portuguesa (em português de Portugal).
Por enquanto, direi pouco sobre o conteúdo do livro, pois o artigo está se alongando em demasia. Voltarei a ele.
Direi só que nosso Vicente Romano (infelizmente já morreu) fala dos diversos fatores que fazem a cabeça do povo: os meios de comunicação de massa (destaque para a TV, a disseminação da violência e do medo e o entretenimento), o sistema educacional (destaque para o ensino da Economia), a produção cultural, o bombardeio das mensagens publicitárias, as religiões.
A gente das esquerdas costuma comentar que “as pessoas, infelizmente, não têm consciência de seus direitos, de seus interesses...”
Vicente Romano fala da “falsa consciência”: “As pessoas aceitam as coisas porque ignoram que existem alternativas e até que extremos os governos violentam os seus interesses, ou ainda porque não identificam até que ponto saem prejudicadas pelos interesses que julgam ser os seus”.
Mais: “As preferências das pessoas podem ser produto de um sistema econômico, político e cultural contrário aos seus interesses e que estes apenas são por elas legitimamente identificados, quando se encontrem em condições de escolha livre e capacitada”. 


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