O
TERRORISMO – CIVIL E DE ESTADO – deve ser visto como a maior ameaça à
paz mundial e à sobrevivência da espécie humana. Fazer da luta pela paz o
objetivo prioritário da política mundial é a tarefa de todos os homens e
mulheres minimamente conscientes, em qualquer lugar que vivam e
qualquer que sejam suas crenças. (Foto reproduzida do Nodal)
Por Arnoldo Mora Rodríguez (*) – do portal Nodal – Notícias da América Latina e Caribe, de 12/09/2017 – Tradução: Jadson Oliveira
Devemos aos sofistas, os ideólogos do nascimento histórico da democracia tal como a entende a civilização ocidental, ter defendido a palavra, ou mais exatamente, o discurso ou a linguagem oral pública, como arma por excelência para fazer política. O ato de convencer a maioria de cidadãos mediante argumentos racionais na procura da conquista de ideais que buscam um futuro melhor, isso é a política no melhor sentido da palavra. É esta a razão de ser da práxis política que nos tempos atuais se perdeu, como preocupante expressão duma sociedade decadente que só busca o lucro e que só valoriza a ganância imediata como fim em si mesmo. A pseudo cultura do atual capitalismo imperial globalizado acusa um crescente processo de decomposição, que nos recorda a situação das últimas décadas do Império Romano. O mundo inteiro dá a impressão de haver optado pelo suicídio coletivo como meta última da história.
Devemos aos sofistas, os ideólogos do nascimento histórico da democracia tal como a entende a civilização ocidental, ter defendido a palavra, ou mais exatamente, o discurso ou a linguagem oral pública, como arma por excelência para fazer política. O ato de convencer a maioria de cidadãos mediante argumentos racionais na procura da conquista de ideais que buscam um futuro melhor, isso é a política no melhor sentido da palavra. É esta a razão de ser da práxis política que nos tempos atuais se perdeu, como preocupante expressão duma sociedade decadente que só busca o lucro e que só valoriza a ganância imediata como fim em si mesmo. A pseudo cultura do atual capitalismo imperial globalizado acusa um crescente processo de decomposição, que nos recorda a situação das últimas décadas do Império Romano. O mundo inteiro dá a impressão de haver optado pelo suicídio coletivo como meta última da história.
Em maior ou menor medida, não parece que haja um canto da terra que
seja inteiramente imune diante desta apocalíptica voragem de violência e
morte. Dentro deste angustiante contexto, a finalidade do poder
político não é outra que o extermínio físico do adversário e não sua
derrota mediante o convencimento ou a persuasão. O direito internacional
e, em geral, o Estado de direito, se vê convertido num formalismo sem
conteúdo real, que somente é invocado quando serve de pretexto para
facilitar a obtenção de seus vergonhosos objetivos de dominação e
exploração.
Nunca a humanidade esteve tão submetida ao temor das ameaças de seus
medíocres “dirigentes”. O terror como atmosfera que se respira
cotidianamente é assumido como arma ou argumento político permanente.
Hoje o terror se converteu em ideologia. A ameaça de perpetrar massacres
e genocídios sem precedentes na história faz com que se recorra a
“argumentos” duma irracionalidade surrealista, como quando Henry
Kissinger, o todo-poderoso chanceler de Nixon, afirma com desenvoltura
que 20% (cerca de 1,5 bilhão) de seres humanos são supérfluos (Nota do
tradutor: no original, ‘está de sobra’)… Diante deste cinismo, Hitler
nos parece uma criança de colo.
Tudo isso só se explica se levamos em conta que a matriz ideológica
dessas posições políticas se inspira no mais irracional fundamentalismo,
que abarca todas as dimensões do pensamento e da práxis humana. Assim
se dá um fundamentalismo religioso, seja cristão predominante no sul dos
Estados Unidos, seja muçulmano em organizações terroristas como o
Estado Islâmico; mas igualmente se dá o fundamentalismo
ultranacionalista em que se inspira a xenofobia, que justifica os campos
de concentração nos quais se amontoam os imigrantes que, provenientes
do Sul, não naufragaram nas águas do Mediterrâneo na Europa, ou
conseguiram chegar até a fronteira entre o México e os Estados Unidos.
Os fundamentalismos, de qualquer raiz ideológica de onde provenham,
somente servem de desculpa para massacrar famílias esfomeadas e fazer do
genocídio a arma política por excelência. Como vimos na ‘bella rampla’
de Barcelona por parte dos extremistas islâmicos; mas igualmente e com
um ódio não menor em Charlottesville no estado sulista de Virgínia nos
Estados Unidos, onde o racismo de séculos passados e o ‘nacismo’ (NT:
nazismo?) de tempos mais recentes ainda permanecem, com uma virulência
ostentada por grupos terroristas que hoje se sentem incitados por nada
menos que o grotesco inquilino da Casa Branca, ao qual lembram com
prepotência que eles constituem sua base social de apoio. E para
culminar os males, os líderes políticos da Coreia do Norte e Estados
Unidos se insultam e ameaçam como se fossem dois bêbados num boteco
qualquer. O mais grave deste espetáculo abominável é que não se ameaçam
com facas, mas fazendo ostentação irresponsável de um arsenal nuclear
capaz de colocar em risco a paz mundial.
Por todas estas razões, o terrorismo – civil e de Estado – deve ser
visto como a maior ameaça à paz mundial e à sobrevivência da espécie
humana. Fazer da luta pela paz o objetivo prioritário da política
mundial é a tarefa de todos os homens e mulheres minimamente
conscientes, em qualquer lugar que vivam e qualquer que sejam suas
crenças. Muitas medidas podem ser adotadas de imediato neste sentido. A
primeira é tomar consciência da gravidade da situação. Criar movimentos
massivos em todos os lugares do mundo em favor da paz e em busca da
solução de conflitos mediante métodos políticos. Analisar com
honestidade as causas econômicas, culturais e históricas dos conflitos.
Fortalecer as Nações Unidas como espaço institucional onde dialoguem as
partes em contenda. Líderes religiosos, intelectuais, artísticos e
políticos do mundo inteiro devem levantar sua voz e exercer sua
autoridade e liderança pondo-as desinteressadamente a serviço da mais
importante e urgente das causas: a paz.
(*) Filósofo de Costa Rica, ex-ministro da Cultura e membro da Academia Costarriquense da Língua.
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