Coluna de Jadson Oliveira: jornalista baiano. Trabalhou nos jornais
Tribuna da Bahia, Jornal da Bahia, Diário de Notícias, O Estado de S.Paulo e
Movimento. Depois de aposentado virou blogueiro e tem viajado pela América do
Sul e Caribe.
O
grande erro foi ter pensado que sabia como construir o socialismo. Quantos
líderes revolucionários, filósofos, comandantes, chefes políticos das esquerdas
ou simples militantes não pensamos um dia, também, que sabíamos como construir
o socialismo? A começar por Lênin, talvez o maior de todos...
De
Salvador-Bahia – A revelação é de fonte inteiramente confiável, seu grande
amigo e companheiro, o ex-presidente venezuelano Hugo Chávez, numa das
entrevistas que concedeu ao jornalista José Vicente Rangel, editadas no livro ‘De
Yare a Miraflores’ el mismo subversivo’ (Ediciones Correo del Orinoco – Yare é
uma prisão e Miraflores é o palácio presidencial em Caracas).
Fidel Castro confessou a Chávez – contou o comandante da
denominada Revolução Bolivariana – que seu grande erro foi ter pensado que
sabia como construir o socialismo.
Quantos líderes revolucionários, filósofos, comandantes,
chefes políticos das esquerdas ou simples militantes não pensamos um dia,
também, que sabíamos como construir o socialismo?
A começar por Lênin, talvez o maior de todos, líder da
Revolução Bolchevique de 1917, a pioneira, que espalhou auroras e promessas de
redenção por esse mundão todo, aquecendo corações e levantando em rebeldia as
maiorias de trabalhadores, de oprimidos e injustiçados. E após muitos êxitos,
foi se perdendo nos descaminhos naturais diante da enorme fortaleza do
capitalismo.
Passamos pela grande revolução chinesa, liderada por Mao Tse
Tung, que acabou desembocando na grande potência econômica dos nossos dias,
sustentada por um regime que muitos chamam – não sei qual a melhor
caracterização – de capitalismo de Estado.
Houve ainda as experiências conhecidas formalmente como
socialistas dos países do Leste europeu, um processo imposto de cima para baixo
em decorrência da vitória da então União Soviética na Segunda Guerra Mundial e
a partilha das zonas de influência acordada com as outras potências vitoriosas
- Estados Unidos e Inglaterra. Era o chamado socialismo real que desmoronou
junto com a URSS em 1989/92.
Cuba de Fidel – não me sai da memória em 2007, Fidel ainda
vivo mas já afastado da governança, a estudantada gritando nas ruas de Havana um
grito cadenciado, soberano, marcial, “Esta terra é de Fidel” – foi e ainda é,
depois de mais de meio século de luta, um caso à parte, apesar do empenho
cotidiano do gigante imperial e do bombardeio incessante da mídia hegemônica
mundial.
Independência
e soberania
Depois de quase meio século, passando pela tentativa
rechaçada de invasão da ilha, por atos terroristas, pelo desumano bloqueio econômico,
pelo poderoso e moderno aparato de propaganda da “inteligência” imperial,
inclusive através de meios de comunicação clandestinos, pelo cerco infernal da
cultura consumista, pelas inúmeras tentativas de assassinato de Fidel até a incrível
sobrevivência após a queda da União Soviética.
É quase inacreditável: os cubanos – um país diminuto de 11
milhões de habitantes, localizado nas barbas do império – estão lá resistindo,
qual os míticos gauleses de Obelix e Asterix nas barbas do império romano!
No quesito ‘independência e soberania’, plenamente
vitoriosos. No quesito ‘qualidade de vida’, garantindo o mínimo de dignidade
pessoal, com comida, moradia, educação e saúde para todos. No quesito ‘integração
soberana da América Latina’, uma influência exemplar e poderosa, espraiando
especialmente através de Chávez e da ALBA (Aliança Bolivariana para os Povos da
nossa América).
No quesito ‘construção do socialismo”, certamente há muito a
discutir. Fidel já destacou seu grande erro. Mas creio não restar dúvidas de
que se trata da tentativa mais exitosa e duradoura de construção do socialismo
no mundo.
Mesmo com erros no varejo, que são justamente os que são trombeteados
e amplificados pelos monopólios da mídia inimiga, no Brasil plenamente
dominante: estatização de pequenos negócios, repressão exercida por um forte Estado
policial, perseguição a minorias religiosas, como os adeptos da santería (candomblé)
e aos homossexuais, distorções que nos últimos anos vêm sendo enfrentadas e
revertidas.
Há também os defeitos que são inventados e as qualidades que
são transformadas em defeitos, pois não há limites éticos para uma imprensa
hegemônica e raivosa contra tudo que possa significar uma esperança de melhoria
de vida para as maiorias.
Deixo aqui a antevisão dos que sonhamos com um mundo melhor e
mais justo: mais para frente – 50, 100, 200 anos? -, quando o socialismo – “a
verdadeira democracia”, como gostava de dizer Chávez – criar mais asas, a obra
monumental de Fidel terá o reconhecimento devido, ao lado de revolucionários e
humanistas da altura de Marx, Lênin, Mao Tse Tung, Che Guevara... Quem mais? Talvez
Jesus, separado da hipocrisia de muitos autocelebrados cristãos.
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