segunda-feira, 20 de março de 2017

Jornadas de 15/março sinalizam novo patamar na luta popular?

 
Coluna de Jadson Oliveira:  jornalista baiano. Trabalhou nos jornais Tribuna da Bahia, Jornal da Bahia, Diário de Notícias, O Estado de S.Paulo e Movimento. Depois de aposentado virou blogueiro e tem viajado pela América do Sul e Caribe.
   

 
 
 
 
Foto Jornal Brasil de Fato SP
Muitos ressaltam a força mobilizadora da luta contra a proposta de Reforma da Previdência (além da trabalhista), um tema que ameaça diretamente o bolso e a vida do chamado povão.
 
De Salvador-Bahia – As forças de esquerda (e/ou centro-esquerda) saíram das jornadas do último dia 15 bem otimistas:
 
Foto Jadson Oliveira Salvador
O principal líder dos Sem-Teto de SP, Guilherme Boulos, por exemplo, viu “o início de um novo momento”. “Começou a cair a ficha sobre o tamanho do ataque das reformas trabalhista e da Previdência”, avaliou.
 
O jornalista Renato Rovai, editor de Fórum, professor e blogueiro respeitado entre correntes de esquerda, vai no mesmo rumo, assim como outros analistas e lideranças: diz que talvez estejamos entrando num patamar mais alto na luta democrática e popular.
 
Muitos ressaltam a força mobilizadora da luta contra a proposta de Reforma da Previdência (além da trabalhista), um tema que ameaça diretamente o bolso e a vida do chamado povão.
 
Não é à toa que o deputado direitista Arthur Maia (PPS-Bahia), relator do projeto de reforma da Previdência na Câmara, andou falando que o governo está perdendo a "guerra da comunicação": "A trincheira da comunicação é nas redes sociais. Essa batalha precisa ser travada. O governo não pode se restringir a rádio e televisão", lamentou.
 
 
Falando de números, a blogosfera chamada progressista alardeia um milhão de pessoas nas ruas, somando as estimativas de manifestantes da última quarta-feira, dia 15, numas 20 capitais do país, mais dezenas de cidades do interior.
 
De olho, especialmente, nas 250 mil a 300 mil pessoas na Avenida Paulista, em SP, conforme as estimativas mais citadas na blogosfera progressista.
 
Dou um testemunho pessoal de Salvador, onde acompanho todas (ou quase todas) manifestações da esquerda: esta última – à tarde, do Campo Grande à Praça Castro Alves, no centro histórico da cidade (houve outra menor pela manhã no Iguatemi) - foi a maior desde as realizadas a partir da campanha eleitoral de Dilma, em 2014, incluindo, evidentemente, as contra o golpe e as “Fora Cunha”/“Fora Temer”.
 
Calculei em torno de 30 mil manifestantes. A PM calculou em torno de 19 mil a 22 mil, conforme me revelou um militar de serviço no local (a maior estimativa da PM, no período mencionado acima, tinha sido 12 mil pessoas).
 
Estes números, que atestam o avanço na mobilização popular, podem significar um equilíbrio na correlação de forças na conjuntura política atual?
 
Infelizmente, não creio. Concordo com o companheiro Jorge Ramos (Jorginho para os íntimos), até recentemente - e por vários anos - dirigente do jornalismo da TV Educativa daqui da Bahia, que a mobilização popular, mesmo com o evidente crescimento registrado nas jornadas de 15/março, ainda não é suficiente para quebrar a maioria governista no Congresso Nacional (estávamos falando justamente da Reforma da Previdência).
 
Acho muito desconfortável ficar jogando água gelada no otimismo dos companheiros. Mas, depois de atingir a cifra dos 70 e de muito apanhar politicamente, procuro estar vacinado contra o vírus do wishful thinking (pensamento desejoso), um vírus devastador na história das esquerdas (ou centro-esquerdas) brasileiras.
 
Nunca é demasiado assinalar que não estamos em minoria apenas no Parlamento. A direita tem a Globo e demais monopólios da mídia hegemônica (equilibramos o jogo somente nos sites/blogs/plataformas da web, hoje meios de comunicação crescentemente influentes); e domina o esquema da Operação Lava Jato (hoje um fator de grande potência no jogo do poder, inclusive com o protagonismo do império).
 
E tem predomínio de forças na Justiça (inclusive no STF), no Ministério Público, na Polícia Federal e agora, depois do golpe, no Executivo federal (para não mencionar as Forças Armadas e atores do poder efetivo que atuam nas sombras, como os entrelaçados com os banqueiros/especuladores/rentistas).
 
Conclusão: precisaríamos ampliar bem mais a mobilização popular para tentar equilibrar os fatores de poder na atual conjuntura brasileira. 
 
 

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