Coluna de Jadson Oliveira: jornalista baiano. Trabalhou nos jornais
Tribuna da Bahia, Jornal da Bahia, Diário de Notícias, O Estado de S.Paulo e
Movimento. Depois de aposentado virou blogueiro e tem viajado pela América do Sul e Caribe.
Muitos
ressaltam a força mobilizadora da luta contra a proposta de Reforma da
Previdência (além da trabalhista), um tema que ameaça diretamente o bolso e a
vida do chamado povão.
De
Salvador-Bahia – As
forças de esquerda (e/ou centro-esquerda) saíram das jornadas do último dia 15
bem otimistas:
O principal líder dos Sem-Teto de SP, Guilherme
Boulos, por exemplo, viu “o início de um novo momento”. “Começou a cair a ficha
sobre o tamanho do ataque das reformas trabalhista e da Previdência”, avaliou.
O jornalista Renato Rovai, editor de Fórum, professor e blogueiro
respeitado entre correntes de esquerda, vai no mesmo rumo, assim como outros
analistas e lideranças: diz que talvez estejamos entrando num patamar mais alto
na luta democrática e popular.
Muitos ressaltam a força mobilizadora da luta
contra a proposta de Reforma da Previdência (além da trabalhista), um tema que
ameaça diretamente o bolso e a vida do chamado povão.
Não é à
toa que o deputado direitista Arthur Maia (PPS-Bahia), relator
do projeto de reforma da Previdência na Câmara, andou falando que o
governo está perdendo a "guerra da comunicação": "A trincheira
da comunicação é nas redes sociais. Essa batalha precisa ser travada. O governo
não pode se restringir a rádio e televisão", lamentou.
Falando de números, a blogosfera chamada
progressista alardeia um milhão de pessoas nas ruas, somando as estimativas de
manifestantes da última quarta-feira, dia 15, numas 20 capitais do país, mais
dezenas de cidades do interior.
De olho, especialmente, nas 250 mil a 300 mil
pessoas na Avenida Paulista, em SP, conforme as estimativas mais citadas na
blogosfera progressista.
Dou um testemunho pessoal de Salvador, onde
acompanho todas (ou quase todas) manifestações da esquerda: esta última – à
tarde, do Campo Grande à Praça Castro Alves, no centro histórico da cidade
(houve outra menor pela manhã no Iguatemi) - foi a maior desde as realizadas a
partir da campanha eleitoral de Dilma, em 2014, incluindo, evidentemente, as
contra o golpe e as “Fora Cunha”/“Fora Temer”.
Calculei em torno de 30 mil manifestantes. A PM
calculou em torno de 19 mil a 22 mil, conforme me revelou um militar de serviço
no local (a maior estimativa da PM, no período mencionado acima, tinha sido 12
mil pessoas).
Estes números, que atestam o avanço na mobilização
popular, podem significar um equilíbrio na correlação de forças na conjuntura
política atual?
Infelizmente, não creio. Concordo com o companheiro
Jorge Ramos (Jorginho para os íntimos), até recentemente - e por vários anos -
dirigente do jornalismo da TV Educativa daqui da Bahia, que a mobilização popular,
mesmo com o evidente crescimento registrado nas jornadas de 15/março, ainda não
é suficiente para quebrar a maioria governista no Congresso Nacional (estávamos
falando justamente da Reforma da Previdência).
Acho muito desconfortável ficar jogando água gelada
no otimismo dos companheiros. Mas, depois de atingir a cifra dos 70 e de muito
apanhar politicamente, procuro estar vacinado contra o vírus do wishful thinking
(pensamento desejoso), um vírus devastador na história das esquerdas (ou
centro-esquerdas) brasileiras.
Nunca é demasiado assinalar que não estamos em
minoria apenas no Parlamento. A direita tem a Globo e demais monopólios da
mídia hegemônica (equilibramos o jogo somente nos sites/blogs/plataformas da
web, hoje meios de comunicação crescentemente influentes); e domina o esquema
da Operação Lava Jato (hoje um fator de grande potência no jogo do poder, inclusive
com o protagonismo do império).
E tem predomínio de forças na Justiça (inclusive no
STF), no Ministério Público, na Polícia Federal e agora, depois do golpe, no
Executivo federal (para não mencionar as Forças Armadas e atores do poder
efetivo que atuam nas sombras, como os entrelaçados com os banqueiros/especuladores/ rentistas).
Conclusão: precisaríamos ampliar bem mais a
mobilização popular para tentar equilibrar os fatores de poder na atual
conjuntura brasileira.
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