segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Arte mulher: De uma prisão em Ananindeua para Europa



Via Agência Pará
Uma detenta do Centro de Recuperação Feminino (CRF), em Ananindeua, foi selecionada para ter uma obra de arte exposta em museus de vários países da Europa. A interna Cristiane Silva da Silva, de 27 anos, participou da 4ª Competição Artística Internacional, promovida pela ONG alemã Art and Prision e.V, que avaliou obras de artes de mulheres, homens e adolescentes de instituições correcionais de todo o mundo.
O tema da competição foi “Entre Aqui e Lá” e teve como objetivo incentivar os reeducandos a refletir sobre suas vidas por meio da arte e usar a imaginação para criar enquanto estão dentro do cárcere. A competição recebeu 371 inscrições de pessoas privadas de liberdade de 23 países, 78 deles da Polônia, 47 do Brasil, 39 da Alemanha, 28 da Suécia e 26 da Letônia.
“Aqui no CRF nós selecionamos cinco detentas que já têm um desenvolvimento melhor no curso de arte e a Cristiane foi a que mais se destacou. Ela levou uns dois meses para concluir a obra e utilizou uma técnica mista, com tinta acrílica sobre tela, além de outros materiais mais simples que temos aqui na unidade, como lápis de cor e tinta para tecido”, explica Valmir de Lima, professor de arte.
De acordo com o edital da competição, as obras incluídas farão parte de uma coleção única de "arte prisional" que será exibida de forma itinerante em toda a Europa. As coleções anteriores foram mostradas, por exemplo, nos Palácios de Justiça de Berlim e Munique, na Alemanha; no Centro Americano de Artes de Paris, na França, e no Museu Nacional de Liechtenstein, em Vaduz, na Suíça. A obra da detenta paraense ficou em 18º lugar entre as 50 que foram selecionadas para a mostra internacional.
“Eu nunca imaginei que um dia teria uma oportunidade de participar de um concurso de nível internacional e muito menos imaginava que minha obra seria selecionada e exposta em museus da Europa. Eu me inspirei na leitura para fazer a minha tela, porque é através dela que eu me sinto livre, é através dela que eu viajo para vários lugares, mesmo estando aqui dentro. Somente os 10 primeiros lugares ganhavam premiação em dinheiro, mas para mim o prêmio maior é o reconhecimento”, disse Cristiane.
Para Carmem Botelho, diretora do CRF, ter uma obra selecionada em uma mostra internacional é uma conquista significativa para o trabalho de reinserção social desenvolvido com as mulheres pelo Governo do Estado. “É a primeira vez que o CRF participa de uma competição em nível internacional e só de termos sido selecionados com uma das cinco obras que foram enviadas já é de grande relevância, pois estávamos concorrendo com países de todo o mundo com tradição nas artes plásticas. Considerando o fato de estarmos participando pela primeira vez e já termos sido selecionados entre as 50 melhores obras do mundo, essa é uma vitória imensurável para todos nós”, finalizou a diretora.
A exposição itinerante "Entre Aqui e Lá" começa no dia 21 de fevereiro de 2018, no Museu Nacional de Liechtenstein, em Vaduz, na Suíça.

Texto:
Timoteo Lopes

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