sábado, 3 de outubro de 2009

A ESQUERDA NO PARÁ, MEMÓRIAS - 4ª PARTE


Prende e arrebenta

Com um projeto gráfico mais bonito o jornal declara apoio explícito a Jader Barbalho, candidato ao governo do Pará, sob a justificativa de que o deputado federal do PMDB arregimentava as forças capazes de derrotar a ditadura, liderada por Jarbas Passarinho.
Dois dias antes do Círio de Nazaré, a maior manifestação religiosa do Brasil, a Polícia Federal invadiu a gráfica do jornal e a sede da Comissão Pastoral da Terra, em Belém, a fim de recolher materiais que seriam distribuídos no dia da romaria, em protesto contra a prisão e condenação dos 15 presos do Araguaia (padres e posseiros). No dia 8 (de outubro de 1982) os homens de confiança do general João (Figueiredo) compareceram à Suyá (nome da gráfica) para, mais uma vez, prender e arrebentar. Espancaram, algemaram, provocaram, espancaram novamente, identificaram, fotografaram, seqüestraram objetos. Ameaçaram pessoas de morte. Tudo no melhor estilo do general João. Tudo como manda o figurino do regime militar. Foram duas horas de terror na gráfica do jornal. O editor Luiz Maklouf Carvalho foi espancado e ameaçado de fuzilamento. O distribuidor do Resistência, Carlos Boução, foi algemado, junto com o repórter João Vital e o vice-presidente da SDDH, Daniel Veiga. Dois gráficos, Alberdan Batista, vice-presidente do Sindicato dos gráficos, e o impressor Arlindo Rodrigues fizeram companhia aos outros quatro. Dezenas de pessoas entre colaboradores, funcionários, clientes da gráfica e amigos foram presos aos chegar ao prédio. Eram colocados de frente para uma parede e fotografados. O jornalista Paulo Roberto Ferreira, gerente da gráfica e diretor do jornal, conseguiu perceber a movimentação, correu, avisou a imprensa e amigos, e voltou. Foi preso e levado para depor na sede da Polícia Federal. Novo inquérito policial militar foi aberto contra os jornalistas, diretores da SDDH e colaboradores do jornal, que também foram enquadrados na Lei de Segurança Nacional. Depois de meses de apuração, o inquérito foi arquivado. Mas as perseguições continuaram. Em 1983 o jornal enfrenta sua pior crise, agravada pela falta de dinheiro e pelas profundas divergências no seio da SDDH. O resultado é que o editor se afasta, em setembro de 1983, e todos os membros do núcleo de imprensa o acompanham. O Resistência passa por uma nova pausa. Mas, voltou aos poucos, chegando a circular em 1984, sem uma periodicidade irregular. Até que, na véspera da visita de Tancredo Neves a Belém, então candidato a presidente da República, em pleito indireto, um incêndio (pela madrugada) destruiu as instalações e parte da gráfica que editava o jornal. Daí em diante a publicação foi se reduzindo até desaparecer por completo. Não chegou a ser comprovado se o incêndio foi criminoso, porém o prejuízo foi grande e abalou fortemente as finanças da SDDH. A tiragem do jornal Resistência na primeira fase oscilou entre 2 mil e 5 mil exemplares. Mais de 500 exemplares eram distribuídos gratuitamente aos movimentos sociais. Em outubro de 1979 o jornal ganhou o Prêmio Wladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos pela primeira vez. Depois ganhou mais três vezes a mesma premiação.

Texto: Jornalista Paulo Roberto Ferreira - Belém do Pará

5 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns ao Ananindeua Debates pela publicação da "A Esquerda no Pará,Memórias..". Precisamos também produzir a nossa trajetória politica em Ananindeua, principalmente em nas década de 80 e inicio dos anos 90.
abs
Oeiras

Anônimo disse...

Boa. É sempre bom resgatar esses fatos. Até porque os militantes de hj não conheçam a história

Manuel Bazane

Anônimo disse...

Parabéns pela matéria.

A história é importante e seu resgate também.
Se não me falha a memória - precisaria consultar os anais - a primeira investida contra o "Jornal Resistência" deu-se em 79. Jornal Resitência foi o nome sugerido pelo saudoso João Marques, advogado dos movimentos populares e grande militante da SPDDH. Havia outras proposta de nomes, mas esta foi a vencedora numa grande assembléia na igraja da Aparecida, na Pedreira. Ganhou esta proposta pela simbologia que representava contra os demandos da Ditadura Militar (que não faça mais parte da história do Brasil), cujo slogan era: "Resitir é preciso". Voltando: essa investida se deu porque a 5ª edição do Jornal publicou depoimentos de companheiros que foram torturados nos porões da ditadura: Paulo Fonteles, Hecilda Veiga, Humberto Cunha e outros. Esta edição foi produzida às vésperas da passagem de Miguel Arraes por Belém, vindo do exílio, resultados do Movimento pela Anistia. Na ocasião foi a gráfica da Escola Salesiana do Trabalho, na Sacramenta que foi invadida e com atos represivos. O deputado Paulo Rocha, na ocasião era o reponsável pela gráfica e foi um dos atingidos pelos atos truculentos da ditadura.
A segunda metada da década de 70 e a primeira da década de 80, foram muito importantes do ponto de vista das lutas populares e sindicais - resgatar é preciso. A história dos trabalhadores é construída com base nas análises dos fatos do passado e no estabelecimento de estratégias positivas.
Dizia Bené Monteiro, no hino da CBB (que saudades!): "...a história não falha, nós vamos ganhar...".
Um abraço.
Bira Diniz.

P.S. Gostaria de receber as três partes anteriores de: "A esquerda no Pará, momórias"; que não recebi. Ficaria muito grato.

Anônimo disse...

De fato o companheiro Bira Diniz é parte dessa memória da esquerda do Pará. Precisamos resgatar em nossas mémorias politicas nomes do Bira, Pedro Paulo Penelba entre outros companheiros/as.
abs
Oeiras

Anônimo disse...

POR ISSO MEU BEM HÁ PERIGO NA ESQUINA E O SINAL ESTA FECHADO PRA NOS QUE SOMOS JOVENS""

E MARAVILHOSO REVER A HISTORIA ; NO ENTANTO E TRISTE VER QUE TODOS AQUELES INIMIGOS DE ONTEM ESTÃO NO MESMO PALANQUE!!!!!

TA NA HORA DE UMA NOVA ORDEM MUNDIAL!!!!!!!!!!

ZECA PEDRA - MILITANTE DE BASE DO PARTIDOS DOS TRABALHADORES!!!!