Coluna de Jadson Oliveira: jornalista baiano. Trabalhou nos jornais
Tribuna da Bahia, Jornal da Bahia, Diário de Notícias, O Estado de S.Paulo e
Movimento. Depois de aposentado virou blogueiro e tem viajado pela América do Sul e Caribe.
Lenín Moreno (atrás Rafael Correa) e Guillermo Lasso:
conclusão do escrutínio vai dizer se haverá segundo turno (Foto: AFP/Página/12)
Depois do golpe no
Brasil, da derrota eleitoral na Argentina e de outros estragos sofridos pelos
governos considerados progressistas na região, as forças à esquerda ganham
certo alento com a tripla vitória do presidente Rafael Correa.
De Salvador-Bahia - A
reeleição apertada de Dilma Rousseff em 2014 e o golpe
midiático-parlamentar-judicial de 2016 no “gigante” Brasil pareceram consolidar
o ‘direita volver’ na América Latina.
Isto depois duma década – a primeira do século 21 - de
ascensão de governos progressistas e aplicação de políticas de inclusão social,
a partir da eleição de Hugo Chávez na Venezuela em 1998.
Consolidar porque os processos liderados por forças à
esquerda (ou de centro-esquerda, talvez um enquadramento mais adequado), vinham sendo seguidamente golpeados:
Os presidentes de Honduras e Paraguai foram derrubados
através de golpe de Estado da nova modalidade em vigor, chamado “brando” ou
“suave”. Não mais “militar”, como nos anos 1960/1970, mas orquestrado através
dos conglomerados da comunicação de massa, do Parlamento e do Poder Judiciário,
como veio a ocorrer no Brasil.
Na Argentina, o neoliberalismo voltou com Mauricio Macri,
eleito democraticamente; na Venezuela, os anti-bolivarianos fizeram maioria,
também em eleições democráticas, na Assembleia (Congresso) Nacional.
No Peru, o presidente que tinha sido eleito com programa
supostamente progressista (Ollanta Humala) chegou tão desgastado à eleição que
nem sequer manifestou apoio a um candidato para sua sucessão.
Até na Bolívia, onde o governo exibe bons índices econômicos
em meio ao agravamento da crise geral do capitalismo, Evo Morales teve que
amargar uma derrota num referendo que autorizaria uma nova disputa para nova reeleição.
Mas nas eleições gerais do domingo, dia 19, no Equador, os
chamados progressistas respiraram mais aliviados: nem tudo na região parece ser
“restauração conservadora”.
Tripla vitória:
Presidência, Congresso e plebiscito
Vamos computar as dificuldades gerais do ponto de vista das
esquerdas: crise econômica e domínio do rentismo, com a ação concertada – sob
supervisão do império estadunidense – da mídia hegemônica (CNN, Rede Globo,
Grupo Clarín na Argentina, Televisa no México, Globovisión na Venezuela e
caterva do terrorismo midiático), e, na maioria dos casos, do parlamento e da Justiça/Ministério
Público.
No caso específico do Equador, vamos acrescentar: redução
drástica no preço do petróleo (responsável por um terço das exportações) e os
prejuízos causados pelo forte terremoto do ano passado.
A despeito disso, o partido governista Aliança País, liderado
pelo presidente Rafael Correa, venceu a disputa presidencial: Lenín Moreno,
ex-vice-presidente de Correa, chega a 39,11% dos votos válidos, com 89% dos
votos contados; o segundo colocado, o banqueiro Guillermo Lasso, chega a 28,34%.
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) marcou nesta
segunda-feira, dia 20, o prazo de mais três dias para chegar aos 100% da
contagem. Como a diferença percentual entre Moreno e Lasso vem paulatinamente
aumentando, há ainda possibilidade do governista ganhar neste primeiro turno.
Para isso, ele precisa atingir os 40% dos votos válidos, já
que a outra condição Moreno já conseguiu: tem mais de 10% sobre Lasso. (Uma
outra condição, já descartada, seria obter 50% mais um dos votos, conforme reza
a Constituição). Se não atingir os 40%, haverá um segundo turno em 2 de abril.
Além disso, a Aliança País deve fazer maioria absoluta na
Assembleia (Congresso) Nacional. Rafael Correa prevê a eleição de 75 deputados
dentre um total de 137.
Terceira vitória: um plebiscito inserido nestas eleições
gerais equatorianas deve ter também desfecho favorável aos partidários da
chamada Revolução Cidadã: conforme números que vêm sendo divulgados, a maioria aprova
a proposta do governo de proibir que autoridades tenham dinheiro em paraísos
fiscais. “Essa é a verdadeira luta contra a corrupção”, disse Correa.
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