Artigo de Otto Filgueiras*
Via Correio da Cidadania
O jornal A Tarde, da Bahia, publicou uma reportagem no
último final de semana, em que um mestrando denunciou que o SNI, durante a
ditadura, usou as Colunas do Leitor do jornal, através de laranjas, para
criticar as autoridades eclesiásticas, tentando criar um clima de instabilidade
entre a igreja e o povo.
Não há novidade. O jornal Alarme, do Sindicato dos
Eletricitários do Estado da Bahia, fez a denúncia na época, publicada também
nas páginas dos jornais locais e no jornal Política, dirigido pelos jornalistas
Mino Carta e Raimundo Rodrigues Pereira.
Na época, o repórter responsável pelo Alarme procurou
jornalista importante do Jornal da Bahia (já vendido por João Falcão), que hoje
escreve livros sobre Carlos Lamarca e Carlos Marighela, denunciando a trama do
SNI, mas o colega não quis dividir bola com o SNI.
A ofensiva da extrema-direita contra a Igreja católica e os
sindicatos combativos, de esquerda, incluía a divulgação e falsificação do
jornal Iskra (dos tempos de Lênin na Revolução Russa) e plantava notícias na
mídia como se fosse gente de esquerda.
Diretores de sindicatos, muitos petistas e até o pessoal do
PCdoB, acharam que o material era de esquerda, por causa das contradições no
movimento sindical, entre CUT e o pessoal do PCB.
Mas o repórter responsável pelo Alarme não se enganou,
procurou o editor chefe do jornal A Tarde na ocasião e nunca mais saiu cartas
falsificadas. Também apurou que as falsificações eram feitas por gente ligada a
Toninho Malvadeza, mas como não conseguiu provas, não publicou a informação.
O brilhante e consequente jornalista José Carlos Prata, do
PCB e trabalhando no Sindicato dos Metalúrgicos do Estado da Bahia, foi acusado
levianamente de ser mentor do Iskra
E Carlos Valadares, ativista do Sindicato dos Trabalhadores
da Indústria Química, Petroquímica, Plástica, Farmacêutica do Estado da Bahia,
Sindiquímica, foi acusado também levianamente de ser responsável pelo jornal.
Aí a extrema-direita falsificou um boletim do Sindicato dos
Eletricitários da Bahia, como fez com o jornal O São Paulo, da arquidiocese, e
procurou envolver o comunista David Capistrano, o filho. A trama foi
desmascarada na imprensa em Salvador e, em São Paulo, pelo jornal Política.
No entanto, não podemos deixar de registrar a sedução do
militarismo nas manifestações, também infiltradas de agentes provocadores e
policiais. Nos tempos de combate à ditadura, organizações de esquerda
utilizaram o militarismo e o foquismo com a ilusão de que iriam derrotar o
regime dos generais. E pagaram caro por isso.
Na pesquisa para o livro da Ação Popular (AP), constatei
documentalmente os erros da esquerda e que a ditadura não foi derrotada pela
luta armada, e sim pela luta política. Claro que houve transição conservadora,
com muitos equívocos de correntes reformistas da esquerda, e foi vitorioso o
projeto de Ernesto Geisel.Se quisermos entender o presente, é fundamental
pesquisar e estudar o passado, pois só assim poderemos ver alguma luz marxista
no futuro.
*É jornalista e está lançando o livro Revolucionários sem rosto: uma história da Ação Popular
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