quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Declaração de Bolsonaro sobre queimadas provoca protestos




Declaração de Bolsonaro sobre queimadas provoca protestos
Via Jornal Nacional - O Presidente Bolsonaro provocou, nesta quarta-feira (21), protestos veementes de ambientalistas. Ao comentar as queimadas que se multiplicam nas matas, o presidente levantou a suspeita de que organizações não governamentais seriam responsáveis por incêndios criminosos, mas não apresentou nenhuma prova pra sustentar a tese.
E em um dia em que as queimadas já repercutiam na imprensa internacional, novos números mostraram um aumento dos focos de incêndio no norte do Brasil.
A Amazônia enfrenta a pior onda de incêndios em sete anos. O Inpe, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, atualiza diariamente o número de queimadas em todo o país.
A Amazônia concentra mais da metade dos focos de queimadas no Brasil neste ano (52,6%) - são 39 mil. No mesmo período do ano passado, não chegaram a 16 mil focos de queimadas.
Na Amazônia Legal, composta por oito estados e parte do Maranhão, apenas no Amapá houve redução, de 48%. O maior aumento foi no Pará: 207%. Em seguida, aparecem o Acre, Rondônia, Roraima e Amazonas. Em Mato Grosso, o estado com o maior número de queimadas, o aumento foi de 91%. Tocantins e Maranhão fecham a lista.
A Nasa, agência espacial americana, também captou o aumento nos focos de queimadas no Norte e Centro-oeste, que formou um corredor de fumaça que chegou ao Sudeste. Na segunda-feira (19), a cidade de São Paulo escureceu mais cedo e a água da chuva coletada por moradores tinha cor cinzenta e cheiro forte de fumaça.
Este especialista, o professor Eraldo Aparecido Trondoli Matricardi, aponta três fatores para o aumento nas queimadas: seca, maior desmatamento e redução da fiscalização: “A gente está no período seco; em um período seco com certa extremidade. Mas, aliado a isso, você tem uma série de outras coisas que estão acontecendo, como o aumento do desmatamento, a redução, talvez, das ações de fiscalização. Tudo isso contribui com a ocorrência”.

Uma lei de 1988 diz que é crime ambiental provocar incêndio em mata ou floresta. Se o ato for sem intenção, a pena é de seis meses a um ano de prisão e multa. Mas em caso de queimada intencional, a punição passa para dois a quatro anos de prisão, além da multa.
Os incêndios na Amazônia repercutiram na imprensa internacional. A rede britânica BBC destaca: ''Número recorde de incêndios na floresta tropical brasileira''. O texto lembra que os dados foram divulgados uma semana depois de Bolsonaro demitir o diretor do Inpe, por duvidar das informações da agência. A reportagem afirma ainda que a Amazônia é vital pra diminuir o ritmo do aquecimento do planeta.
O site do jornal alemão Spiegel traz a manchete: "Floresta tropical do Brasil está pegando fogo. Incêndios na bacia amazônica são os piores em anos - centenas de quilômetros quadrados estão em chamas''. O texto afirma que Bolsonaro tem uma política ambiental inconsequente.
E o francês Le Monde: ''No Brasil, seca e desmatamento disparam o número de incêndios em mais de 80%''. No final da reportagem, um vídeo com o título ''Bolsonaro contra a Amazônia'' traz mais detalhes sobre o assunto.
Em entrevista na saída do Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que ONGs, organizações não governamentais, podem estar por trás de queimadas na região amazônica para, nas palavras do presidente, "chamar atenção" contra o governo. O presidente não deu nomes.
“O crime existe. Isso aí nós temos que fazer o possível pra que este crime não aumente, não vá avante. Mas nós tiramos dinheiros de ONGs, de repasses de fora, que 40 % ia para as ONGs, né? Não tem mais. Acabamos também com a questão de repasses de ONGs, de órgãos públicos aqui. De modo que esse pessoal tá sentindo a falta de dinheiro. Então pode estar havendo, sim - pode, eu não estou afirmando -, ação criminosa desses ongueiros para, exatamente, chamar atenção contra a minha pessoa, contra o governo do Brasil”, declarou.
O repórter do G1 Guilherme Mazui perguntou se há investigação pra apurar essa denúncia. “Cara, vocês têm que entender uma coisa: que isso não está escrito, não está escrito. Não têm um plano para isso aí. Isso é conversa. Pessoal faz, toma decisão e ponto final. Você pode ver... Pega o que se manda, essas verbas bilionárias, 40% para ONG. Essa grana vai para mão dessas pessoas, para ficar rodando a Amazônia e ficar fazendo campanha contra nós o tempo todo. Perderam a boquinha também”, respondeu.
O presidente disse ainda que governadores da região estariam coniventes com as queimadas: “Tem governador - não quero citar nome - que está conivente com o que está acontecendo e bota a culpa no governo federal. Tem estados aí, que não quero citar, na região Norte, que o governador não está movendo uma palha para ajudar a combater incêndio. Está gostando disso daí”.
O Palácio do Planalto não quis comentar se existem evidências contra as ONGs. A Polícia Federal também não informou se há investigações em andamento contra alguma organização não governamental que atue na Amazônia. E não obtivemos respostas sobre o assunto do Ministério do Meio Ambiente.
Pela manhã, em Salvador, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, participou do terceiro dia da conferência climática. Ele foi vaiado por ativistas que levaram cartazes com críticas à atuação dele no ministério. Houve bate boca com algumas pessoas da plateia que queriam ouvir os discursos.
Antes de saber das críticas do presidente às ONGs, Ricardo Salles reconheceu a gravidade das queimadas: “É uma situação realmente preocupante, agravada pelo clima seco, pelo calor. E nós vamos atuar. Aliás, tanto o ICM Bio quanto o Ibama estão com todas as equipes de brigadistas, equipamentos, aeronaves e recursos disponíveis para apoiar os governos dos estados nesse combate às queimadas”.
Organizações ligadas ao meio ambiente criticaram fortemente as declarações do presidente Jair Bolsonaro. Consideraram os comentários levianos, irresponsáveis e afirmaram que não poderiam ser feitos por um presidente da república sem a apresentação de provas.
Uma das críticas partiu de Carlos Bocuhy, presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental: “Essa afirmativa da presidência da república é completamente irresponsável, porque as ONGs tem como objetivo estatutário a defesa do meio ambiente de forma prioritária. Então, não faz nenhum sentido de dizer que ONG tá colocando fogo em floresta, né? Pelo contrário: isso é um grande absurdo.”
O diretor de justiça sócio-ambiental da ONG WWF Brasil, Raul Valle, condenou as declarações do presidente. Disse que as queimadas abrem espaço para o desmatamento e que falta controle do governo: “É uma declaração leviana, irresponsável, diversionista do presidente. Quem ele acha que está enganando? Os dez municípios com maior foco de incêndio esse ano na Amazônia são os mesmos dez municípios que tem o maior número de desmatamento. Só não vê quem não quer”.
À noite, questionado sobre se concordava com a afirmação do presidente de que ONGs estão provocando incêndios na Amazônia pra desgastar o governo, o ministro do Meio Ambiente desconversou: “O que nós verificamos, em todos os focos que vimos, são alguns lugares em que foi fogo intencional e alguns, fogos incidental. Aqui na cidade, claramente no perímetro urbano, fogo colocado proposital”.

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