Por Ana Silva*
O Brasil já soma cem mil mortes, com um presidente sem legitimidade. Cem mil vidas ceifadas. Perdemos árvores frondosas como as Samaumeiras, Castanheiras, Seringueiras; como Paulinho Paiakan, Aritana Yawalapiti, Amâncio Munduruku, Nelson Mutzie e muitas outras árvores-gente. Já perdemos mais de 48% de árvores-indígenas, mortas, envenenadas pela covid-19. Uma população de sábios, de parentes, de maracás. A floresta sangra pelos seus guardiões, o Brasil que ficou mais triste pós golpe de 2016, do golpe que veio a galope com seu projeto genocida, a cavalo, pra frente, andando e cagando, sem vacina, só cloroquina. Do Brasil dos 100 mil mortos, do Brasil da corrente pra frente, do Deus deles, necrófilo, sem pulmão. Do Brasil sem presidente reconhecido pelos que não se orgulham de Ustra, pelos que choram a derrubada de árvores-indígenas, de bibliotecas nativas, de Aldir Blanc, de Jorge Portugal, de Padre Bruno Sechi, de Dona Cleonice, primeira trabalhadora doméstica vítima da covid-19, de Dom Pedro Casaldáliga, dos carteiros e dos poetas. Dos guardas da santa que se foram, dos guardiões de Nossa Senhora de Nazaré.
O Brasil está sem ministro da saúde, sem ministro da educação, sem políticas públicas, sem presidente da nação reconhecido pela população! Só capitão! Capitão do asfalto, do assalto, do laranjal e do Planalto. Quem alimenta o Brasil da fome real e da fome poÉtica, é o Movimento Sem Terra.
Sem-terra e com ética! Sem veneno, alimento da terra. Da terra que produz arroz da utopia, feijão crioulo, mel de abelha da rebeldia e café da teimosia. Quem sustenta o Brasil cultural e poÉtico são os artistas, poetas, artistas da fome. O Capitão? Lança nota de R$ 200, quando o seu mandato não vale nem 1,99. Não reconhecemos esse que hoje é o presidente da nação, o que temos é um saqueaDor, sem legitimação.
Cem mil mortos, bibliotecas indígenas saqueadas, corpos pretos exterminados, vidas marcadas pelo sofrimento, adoecimento, esquecimento. Sem presidente da nação. Só capitão! Só devastação!
Isso tudo não vai ficar sem uma resposta a altura, para os que julgam a vida sem valor. Nossos maracás vão cobrar! Mais de cem mil vidas, esse é o preço do ódio instalado no Brasil, onde um capitão confisca uma nação em nome de seu projeto de repressão, em nome do ódio à vida, à terra, ódio aos que alimentam os sem presidente.
A conta é mórbida e não bate. O cálculo é bem maior, a devastação é sem precedente, no país sem presidente.
Por um Brasil sem necrofilia. Urgente!
*Ana Silva
Psicóloga, poeta, feminista negra, doutoranda em Saúde Pública e pesquisadora rolezeira. Integra vários coletivos políticos-poéticos, dentre estes o Movimento Feminista Marias, Slam Dandaras do Norte, CMAM, K-alas.
Idealizadora do projeto
Escuta poÉtica: me conte o seu conto!
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