GGN O Jornal de todos Brasis
por Alexandre Tambelli
Faltou combinar com as "massas"! (lendo o texto
Crise: O "irreversível" impeachment e a crise da esquerda, de
Alejandro Acosta, me vieram estas ideias).
http://jornalggn.com.br/blog/antonio-ateu/crise-o-irreversivel-impeachment-e-a-crise-da-esquerda-por-alejandro-acosta
Para polemizar um pouco mais.
Se Lula e Dilma fazem tudo como o Imperialismo deseja porque
se precisa golpear Dilma do Poder e fazer qualquer coisa para Lula não se
candidatar em 2018?
Não seria mais lógica a vitória de Lula, ele faria tudo o
que o Imperialismo quer e seria capaz de acalmar as "massas", seja lá
o que as "massas" signifique. E manutenção da Presidenta Dilma para a
plutocracia e a Rede Globo & Cia não serem taxados de Golpistas.
O problema central dessas análises do PSTU & similares é
não observar quem são os brasileiros, quais são suas características, suas
ambições e suas formas de enxergar a realidade.
O brasileiro não consegue nem perceber que um banqueiro no
comando da economia é prejudicial para a economia produtiva e vai perceber
alguma coisa dos interesses imperialistas?
É ilógico.
Faça a prova das urnas. Algum radical da esquerda purista
alguma vez foi eleito para Vereador, Deputado, Senador, Prefeito, Governador,
Presidente? Acredito que nem para Vereador.
Não entender o que realmente está em jogo e importa para
valer, que é tirar do mapa qualquer vestígio de esquerda, qualquer vestígio de
Democracia, qualquer vestígio de solidariedade, qualquer vestígio de
desenvolvimento, qualquer vestígio de Ciência e Tecnologia é grave.
Não podemos adentrar no mundo de uma esquerda purista, elevada,
que se considera a única verdade e quer comandar as “massas”! Essa esquerda não
tem voz na sociedade brasileira, sejamos realistas.
O PSTU & assemelhados, por exemplo, é visto pela
sociedade mais como um personagem caricato e um grupo de radicais do que como
um partido político, sejamos realistas.
Precisamos falar é das reais condições de comunicação com a
sociedade e de como modificá-la, sem se ter como meta o meu "Projeto"
e a "minha realização" e o meu “radicalismo impraticável”.
Se o mundo fosse assim simplório, PT é um traidor da causa
operária, da classe trabalhadora, das "massas" seria fácil vencer uma
Eleição dele, se candidata, discursa e vence. E, não se precisaria de Golpe de
Estado. Não se precisaria destruir a imagem do partido 24 horas do dia e nem se
precisaria acabar com Lula, antes das eleições de 2018.
O Brasil é muito mais complexo do que o mundo da Teoria, da
vontade de querer ser a única verdade possível de se fazer uma
"revolução".
Infelizmente, é impossível conciliar o Programa
sócio-político de um conjunto de militantes da extrema-esquerda com o anseio
dos brasileiros, que nunca quiseram ser revolucionários e nunca se debruçaram
em temas sociais, em temas políticos, em temas econômicos, em temas culturais
com profundidade.
O brasileiro é individualista, é consumista, é conservador
no sentido de ser influenciado pelo Cristianismo dos neopentecostais, da
Renovação Carismática católica, da Opus Dei e assemelhados. Papa Francisco é
novidade. E, o principal: desinformado.
As “massas” não querem fazer "revolução" no
Brasil, não querem ser revolucionárias, esta é a realidade nua e crua. As
“massas” querem é dinheiro no bolso, querem não ser importunadas com discursos
muito radicais e querem trabalhar e curtir a vida com familiares e amigos.
Vamos ao que interessa.
O establishment quer destruir o PT, Lula e Dilma, não o
contrário. Não foi o PT que abortou a “revolução”, ela nunca fez parte da
cultura do brasileiro!
Vamos ser realistas.
As esquerdas radicais com a destruição desse trinômio (Lula,
Dilma e PT) acabam junto. É só ver a
votação de uma clausula de barreiras para retirar os pequenos partidos das
eleições, em especial impedir de o PSOL e o PCdoB darem uma crescida, a partir
de 2016 com as eleições municipais e em 2018 nas eleições estaduais e federal.
Nós temos a chance de que a volta da Presidenta Dilma ao
cargo que lhe foi usurpado seja uma retomada de um modelo de desenvolvimento
pensado pelo PT e que foi exitoso.
Modelo baseado nos investimentos em infraestrutura, na
valorização das grandes empreiteiras, se tornando players mundiais, na
Petrobrás e a política de conteúdo nacional alavancando a indústria nacional a
partir dos mais de 3 mil derivados do Petróleo, no Pré-Sal e os royalties para
Educação, Ciência e Tecnologia e Saúde, na sociedade de consumo, na promoção de
programas de Governo para inclusão da classe trabalhadora em cursos técnicos e
na universidade para poderem ter um emprego mais qualificado e melhorar a
qualidade da mão-de-obra brasileira, etc.
Tudo visando a ampliação do mercado de trabalho, o trabalho
formalizado e o bem-estar da população. Claro que dentro da perspectiva do
brasileiro que existe, não do brasileiro que a extrema-esquerda purista quer
moldar.
E, desse processo de apoderamento da classe trabalhadora,
dentro da perspectiva dela, e não dos “revolucionários” houve inclusão da quase
totalidade da população brasileira no direito de ao menos ter três refeições ao
dia e ascensão social de mais de 40 milhões de brasileiros, migrando para um
estrato social diverso do básico de não ir além do seu bairro e do consumo de
sobrevivência.
Foi contra esta realidade que se deu o Golpe de Estado. E,
com apoio das classes sociais média e médio-alta tradicionais que se sentiram
invadidas na sua “distinção”, vendo os de baixo invadirem os espaços antes
exclusivos da sociedade de castas dos 30%: aeroportos, praias, restaurantes,
baladas, universidades, etc.
Fiquemos atentos, sempre! Não é revolucionário o brasileiro
comum. O brasileiro quer é uma casa confortável, um carro novo, smartphone
novo, viajar, baladas, essas coisas, e não “socialismo” ou embates ideológicos
com o Capitalismo Financeiro e o Imperialismo, que eles nem compreendem os
significados e os malefícios deles para a continuidade do processo de
crescimento econômico com inclusão e ascensão social dos brasileiros,
promovidos a partir da Era Petista.
As “massas” querem sossego para trabalhar e viver a Vida,
esta é a dura realidade que, nós das esquerdas, temos de encarar.
O trabalhador sonha com uma vida confortável e não com a
Revolução do proletariado.
Se a gente ficar preso na ideia de que a população vai
abraçar a causa da Revolução a gente não vai chegar a lugar nenhum.
O PT não acabou. O lulismo está forte ainda. As pesquisas de
opinião mostram que Lula tem ao menos 30% de votos em primeiro turno em 2018,
dai para mais.
Imaginemos Lula desprendido das amarras de ter de pedir
votos para uma coligação com o fim do Presidencialismo de Coalisão e pedir
apenas votos para ele o PT? (Afinal todos o traíram, ele está livre para pedir
votos apenas para seu partido e poucos aliados, talvez, o PCdoB). 4 minutos na
TV em primeiro turno e já será um renascimento e tanto do PT.
O PT cresce da noite para o dia.
Por esta razão que temem e querem tirar Lula do páreo e se
possível nem realizar eleições em 2018.
O PT é temido pelo que fez no Governo Federal e não pelo que
não fez.
Porém, o PT é um partido que sabe o que a população quer,
não vive nos manuais revolucionários sonhando com uma “massa” que não existe e
que não lhe propiciaria votos em lugar nenhum.
Temos que ser realistas.
Um outro ponto importante.
O homem tem uma duplicidade, é ao mesmo tempo um Ser social
e um Ser individual. Podemos querer uma sociedade mais justa, podemos lutar por
ela, todavia, o Ser individual quer para si coisas, também. Ele sonha, tem seus
desejos e ambições.
Discursar para as “massas” requer esse entendimento. Senão
se fala para as paredes. E, não se muda nada, não se convence ninguém, não se
traz para o seu lado da Luta “massa” nenhuma.
Devemos sempre nos perguntar: o que quer o trabalhador, o
estudante, o aposentado, o brasileiro médio? Esta é a pergunta que nos cabe.
E, a nossa Luta é chegar até os brasileiros o compreendendo,
não o contrário.
Precisamos nos moldar à realidade e não a realidade se
moldar a nós. Não é o Eleitor, o brasileiro que deve aceitar a nossa proposta,
nós é que devemos compreender o que ele quer e tentar conciliar uma forma capaz
de ouvi-lo + atendê-lo e ao mesmo tempo de produzir uma consciência coletiva de
que podemos ter nossas individualidades conciliadas a uma realidade mais justa
para todos, com combate ao Imperialismo e seus tentáculos financistas e
excludentes, sem necessariamente, impedir os desejos, os sonhos do Ser
individual.
Há um mundo coletivo e um mundo interior brigando
diuturnamente na Vida em sociedade. Não podemos nos esquecer desta duplicidade.
E precisamos lembrar, sempre, no Brasil a sociedade não foi
produzida com uma visão Europeia, com maior apreço aos bens culturais em
detrimento das posses, e sim! A sociedade foi produzida sob uma ótica
americanizada, meritocrática e baseada no individualismo e no consumo; por
décadas seguidas é assim.
Esta realidade americanizada precisa ser levada em conta
para o nosso discurso, para as plataformas políticas de esquerda adentrar na
sociedade sem tornar nossas ideias um sonoro silêncio.
As “massas”, o que entendem de Imperialismo, Capitalismo
Financeiro, de Revolução?
Falemos a linguagem das “massas”, busquemos conciliar
discurso e prática possível, senão a realidade brasileira será dominada pela
direita, por anos e anos.
Por mais que nós saibamos o que o ultraneoliberalismo quer
fazer no Brasil, as “massas” não compreendem nem um milímetro do que passa.
Para as “massas” tiraram o PT do Poder porque é um partido corrupto. E não
muito mais que isto.
Compreender as “massas” e não pensar que ela nos compreende,
eis a grande lição, penso eu, que as esquerdas precisam aprender nestes tempos
bicudos de julho de 2016.
Não podemos fugir, também, do conceito meritocrático,
desenhado na Educação brasileira escolar e cotidianamente aceito por parcelas
inteiras da sociedade.
Talvez, o silêncio sepulcral da população média,
pós-afastamento da Presidenta Dilma e chegada de Temer ao Poder, se dê, em boa
parte, porque o Governo Temer trabalha no campo da percepção de um brasileiro
que gosta de se sentir valorizado por suas conquistas, dentro da ideia do
individualismo e mérito. E, não, do “suposto” encurtamento das vias de acesso
ao sucesso, ao conseguir das coisas, via programas sociais e bolsas para cursos
técnicos e universitários.
É loucura pensar isto, mas o brasileiro confere para si
méritos, que são em boa parte de um Projeto de Governo de Esquerda, como foi o
do PT.
E, por isto, o brasileiro médio, não se desespera e nem crê
que seja a saída imediata de Michel Temer uma solução definitiva para os
problemas crescentes da economia e que afetam seu bolso e seus objetivos
presentes e futuros.
Enfim, se as esquerdas querem transformar o Brasil em um
País desenvolvido, industrializado, soberano e com Justiça Social, primeiro, se
faz necessário abdicar dos dogmas, das cartilhas e modelos pré-estabelecidos de
sociedade ideal e adentrar na sociedade que o brasileiro, ou melhor, que as
“massas” querem.
Lula foi um revolucionário de verdade porque dialogou com as
“massas”, enxergou no horizonte o brasileiro existente. E, tende a crescer
eleitoralmente até 2018. O PT não morreu, ele vai se reerguer, junto com as
“massas”, porque as ouve.
E ouvir e agir conforme a realidade do brasileiro existente
vai ser o caminho para a retomada do crescimento econômico, social e da volta
de uma sociedade que se orgulha de olhar para o Mundo de cabeça erguida e de se
desenvolver de forma independente e inclusiva.
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