segunda-feira, 25 de julho de 2016

As esquerdas radicais, o PT e o brasileiro existente, por Alexandre Tambelli




 GGN O Jornal de todos Brasis

por Alexandre Tambelli

Faltou combinar com as "massas"! (lendo o texto Crise: O "irreversível" impeachment e a crise da esquerda, de Alejandro Acosta, me vieram estas ideias).

http://jornalggn.com.br/blog/antonio-ateu/crise-o-irreversivel-impeachment-e-a-crise-da-esquerda-por-alejandro-acosta

Para polemizar um pouco mais.

Se Lula e Dilma fazem tudo como o Imperialismo deseja porque se precisa golpear Dilma do Poder e fazer qualquer coisa para Lula não se candidatar em 2018?

Não seria mais lógica a vitória de Lula, ele faria tudo o que o Imperialismo quer e seria capaz de acalmar as "massas", seja lá o que as "massas" signifique. E manutenção da Presidenta Dilma para a plutocracia e a Rede Globo & Cia não serem taxados de Golpistas.

O problema central dessas análises do PSTU & similares é não observar quem são os brasileiros, quais são suas características, suas ambições e suas formas de enxergar a realidade.

O brasileiro não consegue nem perceber que um banqueiro no comando da economia é prejudicial para a economia produtiva e vai perceber alguma coisa dos interesses imperialistas?

É ilógico.

Faça a prova das urnas. Algum radical da esquerda purista alguma vez foi eleito para Vereador, Deputado, Senador, Prefeito, Governador, Presidente? Acredito que nem para Vereador.

Não entender o que realmente está em jogo e importa para valer, que é tirar do mapa qualquer vestígio de esquerda, qualquer vestígio de Democracia, qualquer vestígio de solidariedade, qualquer vestígio de desenvolvimento, qualquer vestígio de Ciência e Tecnologia é grave.

Não podemos adentrar no mundo de uma esquerda purista, elevada, que se considera a única verdade e quer comandar as “massas”! Essa esquerda não tem voz na sociedade brasileira, sejamos realistas.

O PSTU & assemelhados, por exemplo, é visto pela sociedade mais como um personagem caricato e um grupo de radicais do que como um partido político, sejamos realistas.

Precisamos falar é das reais condições de comunicação com a sociedade e de como modificá-la, sem se ter como meta o meu "Projeto" e a "minha realização" e o meu “radicalismo impraticável”.

Se o mundo fosse assim simplório, PT é um traidor da causa operária, da classe trabalhadora, das "massas" seria fácil vencer uma Eleição dele, se candidata, discursa e vence. E, não se precisaria de Golpe de Estado. Não se precisaria destruir a imagem do partido 24 horas do dia e nem se precisaria acabar com Lula, antes das eleições de 2018.

O Brasil é muito mais complexo do que o mundo da Teoria, da vontade de querer ser a única verdade possível de se fazer uma "revolução".

Infelizmente, é impossível conciliar o Programa sócio-político de um conjunto de militantes da extrema-esquerda com o anseio dos brasileiros, que nunca quiseram ser revolucionários e nunca se debruçaram em temas sociais, em temas políticos, em temas econômicos, em temas culturais com profundidade.

O brasileiro é individualista, é consumista, é conservador no sentido de ser influenciado pelo Cristianismo dos neopentecostais, da Renovação Carismática católica, da Opus Dei e assemelhados. Papa Francisco é novidade. E, o principal: desinformado.

As “massas” não querem fazer "revolução" no Brasil, não querem ser revolucionárias, esta é a realidade nua e crua. As “massas” querem é dinheiro no bolso, querem não ser importunadas com discursos muito radicais e querem trabalhar e curtir a vida com familiares e amigos.

Vamos ao que interessa.

O establishment quer destruir o PT, Lula e Dilma, não o contrário. Não foi o PT que abortou a “revolução”, ela nunca fez parte da cultura do brasileiro!

Vamos ser realistas.

As esquerdas radicais com a destruição desse trinômio (Lula, Dilma e PT)  acabam junto. É só ver a votação de uma clausula de barreiras para retirar os pequenos partidos das eleições, em especial impedir de o PSOL e o PCdoB darem uma crescida, a partir de 2016 com as eleições municipais e em 2018 nas eleições estaduais e federal.

Nós temos a chance de que a volta da Presidenta Dilma ao cargo que lhe foi usurpado seja uma retomada de um modelo de desenvolvimento pensado pelo PT e que foi exitoso.

Modelo baseado nos investimentos em infraestrutura, na valorização das grandes empreiteiras, se tornando players mundiais, na Petrobrás e a política de conteúdo nacional alavancando a indústria nacional a partir dos mais de 3 mil derivados do Petróleo, no Pré-Sal e os royalties para Educação, Ciência e Tecnologia e Saúde, na sociedade de consumo, na promoção de programas de Governo para inclusão da classe trabalhadora em cursos técnicos e na universidade para poderem ter um emprego mais qualificado e melhorar a qualidade da mão-de-obra brasileira, etc.

Tudo visando a ampliação do mercado de trabalho, o trabalho formalizado e o bem-estar da população. Claro que dentro da perspectiva do brasileiro que existe, não do brasileiro que a extrema-esquerda purista quer moldar.

E, desse processo de apoderamento da classe trabalhadora, dentro da perspectiva dela, e não dos “revolucionários” houve inclusão da quase totalidade da população brasileira no direito de ao menos ter três refeições ao dia e ascensão social de mais de 40 milhões de brasileiros, migrando para um estrato social diverso do básico de não ir além do seu bairro e do consumo de sobrevivência.

Foi contra esta realidade que se deu o Golpe de Estado. E, com apoio das classes sociais média e médio-alta tradicionais que se sentiram invadidas na sua “distinção”, vendo os de baixo invadirem os espaços antes exclusivos da sociedade de castas dos 30%: aeroportos, praias, restaurantes, baladas, universidades, etc.

Fiquemos atentos, sempre! Não é revolucionário o brasileiro comum. O brasileiro quer é uma casa confortável, um carro novo, smartphone novo, viajar, baladas, essas coisas, e não “socialismo” ou embates ideológicos com o Capitalismo Financeiro e o Imperialismo, que eles nem compreendem os significados e os malefícios deles para a continuidade do processo de crescimento econômico com inclusão e ascensão social dos brasileiros, promovidos a partir da Era Petista.

As “massas” querem sossego para trabalhar e viver a Vida, esta é a dura realidade que, nós das esquerdas, temos de encarar.

O trabalhador sonha com uma vida confortável e não com a Revolução do proletariado.

Se a gente ficar preso na ideia de que a população vai abraçar a causa da Revolução a gente não vai chegar a lugar nenhum.

O PT não acabou. O lulismo está forte ainda. As pesquisas de opinião mostram que Lula tem ao menos 30% de votos em primeiro turno em 2018, dai para mais.

Imaginemos Lula desprendido das amarras de ter de pedir votos para uma coligação com o fim do Presidencialismo de Coalisão e pedir apenas votos para ele o PT? (Afinal todos o traíram, ele está livre para pedir votos apenas para seu partido e poucos aliados, talvez, o PCdoB). 4 minutos na TV em primeiro turno e já será um renascimento e tanto do PT.

O PT cresce da noite para o dia.

Por esta razão que temem e querem tirar Lula do páreo e se possível nem realizar eleições em 2018.

O PT é temido pelo que fez no Governo Federal e não pelo que não fez.

Porém, o PT é um partido que sabe o que a população quer, não vive nos manuais revolucionários sonhando com uma “massa” que não existe e que não lhe propiciaria votos em lugar nenhum.

Temos que ser realistas.

Um outro ponto importante.

O homem tem uma duplicidade, é ao mesmo tempo um Ser social e um Ser individual. Podemos querer uma sociedade mais justa, podemos lutar por ela, todavia, o Ser individual quer para si coisas, também. Ele sonha, tem seus desejos e ambições.

Discursar para as “massas” requer esse entendimento. Senão se fala para as paredes. E, não se muda nada, não se convence ninguém, não se traz para o seu lado da Luta “massa” nenhuma.

Devemos sempre nos perguntar: o que quer o trabalhador, o estudante, o aposentado, o brasileiro médio? Esta é a pergunta que nos cabe.

E, a nossa Luta é chegar até os brasileiros o compreendendo, não o contrário.

Precisamos nos moldar à realidade e não a realidade se moldar a nós. Não é o Eleitor, o brasileiro que deve aceitar a nossa proposta, nós é que devemos compreender o que ele quer e tentar conciliar uma forma capaz de ouvi-lo + atendê-lo e ao mesmo tempo de produzir uma consciência coletiva de que podemos ter nossas individualidades conciliadas a uma realidade mais justa para todos, com combate ao Imperialismo e seus tentáculos financistas e excludentes, sem necessariamente, impedir os desejos, os sonhos do Ser individual.

Há um mundo coletivo e um mundo interior brigando diuturnamente na Vida em sociedade. Não podemos nos esquecer desta duplicidade.

E precisamos lembrar, sempre, no Brasil a sociedade não foi produzida com uma visão Europeia, com maior apreço aos bens culturais em detrimento das posses, e sim! A sociedade foi produzida sob uma ótica americanizada, meritocrática e baseada no individualismo e no consumo; por décadas seguidas é assim.

Esta realidade americanizada precisa ser levada em conta para o nosso discurso, para as plataformas políticas de esquerda adentrar na sociedade sem tornar nossas ideias um sonoro silêncio.

As “massas”, o que entendem de Imperialismo, Capitalismo Financeiro, de Revolução?

Falemos a linguagem das “massas”, busquemos conciliar discurso e prática possível, senão a realidade brasileira será dominada pela direita, por anos e anos.

Por mais que nós saibamos o que o ultraneoliberalismo quer fazer no Brasil, as “massas” não compreendem nem um milímetro do que passa. Para as “massas” tiraram o PT do Poder porque é um partido corrupto. E não muito mais que isto.

Compreender as “massas” e não pensar que ela nos compreende, eis a grande lição, penso eu, que as esquerdas precisam aprender nestes tempos bicudos de julho de 2016.

Não podemos fugir, também, do conceito meritocrático, desenhado na Educação brasileira escolar e cotidianamente aceito por parcelas inteiras da sociedade.

Talvez, o silêncio sepulcral da população média, pós-afastamento da Presidenta Dilma e chegada de Temer ao Poder, se dê, em boa parte, porque o Governo Temer trabalha no campo da percepção de um brasileiro que gosta de se sentir valorizado por suas conquistas, dentro da ideia do individualismo e mérito. E, não, do “suposto” encurtamento das vias de acesso ao sucesso, ao conseguir das coisas, via programas sociais e bolsas para cursos técnicos e universitários.

É loucura pensar isto, mas o brasileiro confere para si méritos, que são em boa parte de um Projeto de Governo de Esquerda, como foi o do PT.

E, por isto, o brasileiro médio, não se desespera e nem crê que seja a saída imediata de Michel Temer uma solução definitiva para os problemas crescentes da economia e que afetam seu bolso e seus objetivos presentes e futuros.

Enfim, se as esquerdas querem transformar o Brasil em um País desenvolvido, industrializado, soberano e com Justiça Social, primeiro, se faz necessário abdicar dos dogmas, das cartilhas e modelos pré-estabelecidos de sociedade ideal e adentrar na sociedade que o brasileiro, ou melhor, que as “massas” querem.

Lula foi um revolucionário de verdade porque dialogou com as “massas”, enxergou no horizonte o brasileiro existente. E, tende a crescer eleitoralmente até 2018. O PT não morreu, ele vai se reerguer, junto com as “massas”, porque as ouve.

E ouvir e agir conforme a realidade do brasileiro existente vai ser o caminho para a retomada do crescimento econômico, social e da volta de uma sociedade que se orgulha de olhar para o Mundo de cabeça erguida e de se desenvolver de forma independente e inclusiva.

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