Estranheza
Artigo de Fabio Fonseca de Castro ex-Secretário de Estado de Comunicação no Governo do Estado do Pará (PT):
Os últimos dias têm sido estranhos. A conveniência dos acordos eleitorais dá uma sensação de estranheza fora do comum e faz-nos amargar um gosto travoso na garganta. Como se as coisas estivessem indo para além dos limites da ponderabilidade. Podem dizer que nem Freud explica, se quiserem, mas a verdade é que ele explica sim, e tem uma palavra para isso unheimlich, estranheza, coisa que se sente quando as conveniências da realidade superam a própria realidade. Quando se peca pelo excesso simbólico...
Vejo as coisas assim:
Vejo as coisas assim:
1) Receber o apoio político do PTB é excelente – porque governar e construir (e, ouso acrescentar, respeitar) alianças e o PTB possui um capital político importante, formado não apenas pela prefeitura de Belém mas também por outros municípios.
2) Repassar a quota-parte do ICMS devido pelo governo estadual à prefeitura de Belém é justo – ainda que, neste momento, vá ser visto, apenas, como um acordo eleitoral, e não como a reversão da política revanchista e autoritária dos governos do PSDB, que não repassaram, quando deviam, os recursos que cabiam a Belém porque o PT a ocupava, naquele momento.
3) Negociar o apoio do PT ao projeto do executivo municipal que municipaliza os serviços de abastecimento de água em Belém, abrindo a possibilidade de privatização da Saaeb – o sistema municipal de água – passando por cima de uma luta histórica, é inadmissível.
E tudo fica mais estranho quando vemos a aproximação do PT ao DEM.
PSDB e DEM são os rivais principais, o marco de luta, o oposto necessário. Alguém já disse que, quando se é político a primeira tarefa é eleger um inimigo principal. O PT fez isso. Lula fez isso. O inimigo principal é o projeto neoliberal encabeçado por esses dois partidos. É contra esse projeto que Lula governou e começou a reconstruir um estado desfeito.
PSDB e DEM são os rivais principais, o marco de luta, o oposto necessário. Alguém já disse que, quando se é político a primeira tarefa é eleger um inimigo principal. O PT fez isso. Lula fez isso. O inimigo principal é o projeto neoliberal encabeçado por esses dois partidos. É contra esse projeto que Lula governou e começou a reconstruir um estado desfeito.
Então, como é que pode, agora, do nada, surgir uma possibilidade de aliança com o DEM?
A questão é: vale à pena trocar um capital simbólico e político valiosíssimo, construído com o sacrifício de muitos, por uma aliança eleitoral conjuntural?
No futuro, um eleitor petista – e estou falando de alguém que faz parte daqueles 25% da sociedade que votam no PT independentemente de quem é o candidato – poderia até se sentir à vontade para votar num Vic Pires Franco ou numa Valéria... nunca se sabe. Isso equivale a jogar no lixo o capital político construído.
Ainda que saibamos que essa aliança dificilmente envolverá a cessão da segunda vaga ao senado para o DEM, ainda que saibamos, no caso da Saaeb, que a municipalização do serviço não significa, imediatamente, a sua privatização, e que o governo estadual poderá fazer os investimentos necessários, nos serviços de água de Belém para, com isso, evitar a privatização, o jogo que está sendo jogado tem um ar de estranheza.
Uma boa definição do que é a política, me parece, é a de transformar o que é unheimlich em um coisa heimlich, digamos... mas há limites para tudo, no campo simbólico. Será que dá, nesses dois casos?
O que me fica é que confirmou-se vencedor um projeto que, desde o primeiro momento, disputava espaço no governo Ana Júlia: o projeto da aproximação com o PTB e com o PR. E, ouso ir mais adiante, o projeto que convocava setores desses partidos para uma aliança tão ampla que ia além do âmbito meramente eleitoral.
A imprensa e mesmo os adversários políticos, tenho impressão, nunca perceberam bem essa dimensão da disputa interna; sempre observaram o que chamam de “núcleo duro” como uma coisa realmente “dura”, ou seja, politicamente compacta. Pouco se interessaram pela luta interna dentro da luta interna. Ou pelos projetos
6 comentários:
No Pasarán.
Reinaldo Sarmento
Hoje Duciomar pediu convocação extra na Câmara de Belém para aprovar o PPA, aquele que autoriza o prefeito abri caminho para privatização da SAAEB, Auditagem fiscal, cobrança de pedágio em mosqueiro e outeiro. Foi isso que os membros do diretório estadual do PT aprovou dando apoio a DUDU, que vergonha..
cláudio fereira
Ainda bem que o Edmilson vai voltar pra desprivatizar tudo.
Camaradas,
Sou um velho comunista que se aliançou, pois percebeu que teria que construir alianças em sua grande maioria táticas. O problema é quando ascende ao poder de instituições como o PT, aqueles que estão convencidos que é preciso fazer aliança a qualquer preço, sem considerar as disputas ideológicas que existem seja no interior do governo, seja, principalmente, no interior da sociedade. Aí se estabelece o vale tudo, não há mais resolução que deva ser obedecida, seja ela nacional ou estadual, ou seja, o partido poderia fazer aliança com todos os partidos, menos com os arautos do neoliberalismo (PSDB e o DEM). Alguém já escreveu que o PT perdeu a grande chance da esquerda brasileira de contruir um projeto de governo para o país. OPTou por um projeto de poder.
Não é com estranheza professor que devamos refletir sobre esse momento. É com tranquilidade de que infelizmente, ascendeu ao comando desse partido, que já foi o maior da América Latina, que representava a luta sofrida e engajada das comunidades eclesiais de base, dos comunitas, dos progressistas e de todos aqueles lutadores que sonharam e sonham com mundo melhor, mais justo e mais humano. São figuras como o atual Chefe da Civil, esse não tem escrúpulos, não tem limites ideológicos, não tem mais contornos entre esquerda e direita e o que importa é se perpetuar no poder, a qualquer preço, ainda que isso signifique perder a esperança, fazer sofrer milhares de despossuídos que muitas vezes não tem nem sua força de trabalho para vender ao capitalismo.
Alguns dirão mais, está nas resoluções do PT que ele é socialista. Hoje, quem esteve naquele Hangar, percebeu que ele é mais socialite do que socialista, e o espectro de esquerda que sempre rondou e fez tremer as elites desse país, hoje não passa de um espectro de centro-esquerda, flertando sem o menor pudor com a direita clássica.
Portanto, não há estranheza quando o diretório aprova as PPAs, afinal os sistemas públicos de abastecimento de água, sejam eles municipais ou estaduais são deficitários mesmo, deixa pros capitalistas explorar, ao Estado cabe somente criar as condições necessárias para que exploradores não tenham prejuízo.
O grande desafio que estará colocado é, até que ponto nossos vereadores na CMB resistirão ao "tacão da ordem partidária" e continuarão defendendo não os interesses (eleitoreiros e até mesmo ideológicos) partidários e sim os interesses da população sofrida deste nosso Estado.
Quem viver, verá!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Um grande abraço aos vereadores e aos lutadores do povo.
Camaradas,
Sou um velho comunista que se aliançou, pois percebeu que teria que construir alianças em sua grande maioria táticas. O problema é quando ascende ao poder de instituições como o PT, aqueles que estão convencidos que é preciso fazer aliança a qualquer preço, sem considerar as disputas ideológicas que existem seja no interior do governo, seja, principalmente, no interior da sociedade. Aí se estabelece o vale tudo, não há mais resolução que deva ser obedecida, seja ela nacional ou estadual, ou seja, o partido poderia fazer aliança com todos os partidos, menos com os arautos do neoliberalismo (PSDB e o DEM). Alguém já escreveu que o PT perdeu a grande chance da esquerda brasileira de contruir um projeto de governo para o país. OPTou por um projeto de poder.
Não é com estranheza professor que devamos refletir sobre esse momento. É com tranquilidade de que infelizmente, ascendeu ao comando desse partido, que já foi o maior da América Latina, que representava a luta sofrida e engajada das comunidades eclesiais de base, dos comunitas, dos progressistas e de todos aqueles lutadores que sonharam e sonham com mundo melhor, mais justo e mais humano. São figuras como o atual Chefe da Civil, esse não tem escrúpulos, não tem limites ideológicos, não tem mais contornos entre esquerda e direita e o que importa é se perpetuar no poder, a qualquer preço, ainda que isso signifique perder a esperança, fazer sofrer milhares de despossuídos que muitas vezes não tem nem sua força de trabalho para vender ao capitalismo.
Alguns dirão mais, está nas resoluções do PT que ele é socialista. Hoje, quem esteve naquele Hangar, percebeu que ele é mais socialite do que socialista, e o espectro de esquerda que sempre rondou e fez tremer as elites desse país, hoje não passa de um espectro de centro-esquerda, flertando sem o menor pudor com a direita clássica.
Portanto, não há estranheza quando o diretório aprova as PPAs, afinal os sistemas públicos de abastecimento de água, sejam eles municipais ou estaduais são deficitários mesmo, deixa pros capitalistas explorar, ao Estado cabe somente criar as condições necessárias para que exploradores não tenham prejuízo.
O grande desafio que estará colocado é, até que ponto nossos vereadores na CMB resistirão ao "tacão da ordem partidária" e continuarão defendendo não os interesses (eleitoreiros e até mesmo ideológicos) partidários e sim os interesses da população sofrida deste nosso Estado.
Quem viver, verá!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Um grande abraço aos vereadores e aos lutadores do povo.
Peço desculpas e a compreensão de todos os companheiros do PT e dos camaradas do PC do B, para me posicionar conforme minha compreensão do momento político. Penso que cada coisa deve ser feita a seu tempo e que neste momento o que devemos fazer é o debate sobre as eleições, deixando em segundo plano o que não estiver diretamente relacionado ao tema. De que nos adiantaria lutar contra a privatização do serviço d'água, agora, se o PSDB vier a ganhar a eleição? Aí ele vai fazer a privatização, mesmo que lutemos contra. Mas, se pelo contrário, ganharmos a eleição para o governo do Estado, ficará muito mais fácil lutar contra a privatização da COSANPA. Portanto companheiros e camaradas, primeiro temos que nos preocupar em reeleger o Projeto dos Trabalhadores, e isso, se for necessário inclui fazer aliança com quem estiver disposto, inclusive o DEM. Tem mais uma coisa, os partidos são feitos de pessoas e as pessoas tem seu jeito de ser que é individual, portanto não posso nivelar todas as pessoas do DEM, como se todos fossem maus, assim como não dá pra afirmar que todos os políticos do PT são bons. Só mais uma coisa: Ao vir pra nossa aliança, as pessoas e partidos estão concordando com nossas propostas e não ao contrário, pois ainda que se faça algumas concessões para selarmos as alianças que nos são necessárias, a Democracia nos permite reabrir o debate e refazer propostas que não estiverem de acordo com nossa estratégia. Confere?
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