quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Governo precisa dizer quem toma decisão na Venezuela, diz opositor

Via folha de São Paulo
ISABEL FLECK
ENVIADA ESPECIAL A CARACAS


Ao ver a euforia com que os manifestantes reunidos numa praça de Caracas no último sábado receberam o o coordenador do partido Vontade Popular, Leopoldo López, 41, não seria absurdo inferir que a oposição tem ali um candidato pronto a disputar uma possível nova eleição presidencial no país.
Aos gritos de "Leopoldo presidente", López foi cercado por uma multidão afoita por fotos e beijos do político com pinta de galã.
Em entrevista à Folha, López não descartou que possa ser o candidato da oposição a enfrentar um sucessor de Hugo Chávez numa possível eleição -ainda que, neste momento, siga inabilitado pela Justiça da Venezuela.
No fim de 2011, ele era o segundo nome com mais apoio da oposição para concorrer, perdendo só para Henrique Capriles.
López, no entanto, desistiu da candidatura depois de não conseguir reverter uma decisão de 2008 do Tribunal Supremo de Justiça que o impede de assumir qualquer cargo público até 2014 por acusações de corrupção. López não chegou a ser julgado.
Há dez dias, foi o Ministério Público que abriu um processo contra ele por envolvimento em doações irregulares da PDVSA quando sua mãe trabalhava na estatal.
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Folha - No caso de serem convocadas novas eleições, o Sr.. é um possível candidato?
Leopoldo López - Não podemos nos adiantar mas nem nos postergar. O gerenciamento do tempo agora é muito importante, porque anunciar uma candidatura antes que esse cenário se materialize seria atropelar as coisas. Neste momento, temos que estar unidos com a candidatura que gere mais apoio popular e também mais consenso. Não é só termos um candidato único, mas também uma estratégia compartilhada, unitária e a busca de maior apoio popular nessas eleições. Mas, sim, temos que estar preparados.
Você se considera preparado para concorrer?
Mais do que querer ou não querer [ser candidato], o que se está colocando é que a candidatura seja um reflexo de um debate, de um consenso que garanta maior efetividade e maior coesão.
Como a oposição pretende pressionar o governo para que resolva o impasse político que há hoje no país?
Vamos estar nas ruas, não só na capital, mas em toda a Venezuela, debatendo nossas propostas e nosso descontentamento sobre esse "pacotaço vermelho" [a série de medidas econômicas do governo que incluem a desvalorização da moeda].
Mas não é preciso que se decrete ausência temporária do presidente?
O que o governo deve fazer agora é dizer a verdade e que, ante esta situação, se esclareça, por exemplo, quanto tempo isso deve durar, se é preciso se colocar uma transição. É preciso que se esclareça ao povo quem está tomando as decisões.
Mas o que está ocorrendo em paralelo para mim, é muito mais importante. O governo já desvalorizou a moeda, estão criando o ambiente para o aumento da gasolina e de impostos, e isso não é outra coisa senão um "pacotaço" econômico. O fato de que, no meio de um "boom" econômico, estejamos desvalorizando e tomando medidas que são características de momentos de recessão indica o tamanho da irresponsabilidade desse governo.
É preciso mais transparência sobre Chávez?
Numa manhã, o governo diz que o presidente está com uma complicação; à noite, que conversaram com ele por cinco horas. E assim já se vão vários meses. Presidentes que foram visitá-lo [em Cuba e na Venezuela] não puderam vê-lo. Não há nenhum sinal do que está ocorrendo, além da manipulação informativa do governo.

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