Assembleia do dia 29/08 que decidiu a Greve / Foto Rui Baiano Santana |
Na segunda-feira, dia 2,
começa a greve dos operários da Construção Civil de Belém e Região
Metropolitana. São quase 40 mil que irão cruzar os braços, por falta de uma
simples cesta básica. Os "barões" do setor levarão os trabalhadores à
greve, mesmo diante da constatação de que foi o que mais lucrou durante os dez anos do governo
petista.
É voz corrente que os empresários
paraenses ganharam tanto dinheiro, que, na roda deles, há uma piada, segundo a qual um deles reeditou a
época dourada dos “barões da borracha”: "Mandou a roupa da família
para lavar na Europa, e depois pegou um voo com a amante e foi buscar as
trouxas lavadas com água suja do poluído rio Sena".
Belém é uma das poucas
capitais a não ter cesta básica para os operários da Construção Civil. Em
Paragominas, eles conseguiram o benefício depois de uma greve. (Uma pergunta: a
cesta não dá direito a abatimento no imposto das empresas?)
A paralisação não só vai atrasar
a entrega dos empreendimentos, como também vai agravar o caótico trânsito
da cidade. Não tendo outro caminho a "andar", a massa operária toma
as ruas de Belém para chamar a atenção da população sobre as péssimas
condições de trabalho e as duras jornadas a que é submetida, uma pesada cota de
sofrimento que paga para construir o progresso paraense.
Uma situação sumamente
injusta que acontece no setor é com relação às mulheres operárias: elas entram como
serventes, trabalham 20 anos em obras e continuam serventes. Podem ser
carpinteiras, operadoras de máquinas jauzeiras (jaú andaime suspenso mecânico), na prática dos anos viraram profissionais, técnicas, mas o
patronato paraense, que só é moderno na hora de usufruir os lucros, impede que
as trabalhadoras cresçam como profissionais da categoria. Por que? Simples:
para que elas ganhem menos do que os homens (os quais, por seu lado, já ganham
bem pouco). Conclusão: não há qualquer valorização das mulheres, de acordo com
a cartilha dos “barões”. Há um relato de que um deles teria afirmado que mulher
profissional na sua obra só existe uma, a sua própria filha, que estudou e
é engenheira.
Os trabalhadores pediram
18,60% de reajuste salarial e os patrões ofereceram 6,38%, depois 7%, e
agora 9%, alertando que “se houver greve não daremos nada” (na visão dos “barões”
não há cidadania entre o operariado). Os sindicatos pediram uma cesta
básica, eles disseram não!
É a velha lógica da “caderneta”,
o trabalhador deixa na “venda”, no “barracão”, todo o minguado salário. O tempo
passa e os “barões” continuam os mesmos.
E quem está
esperando apartamento para sair do aluguel pode passar mais um tempinho tendo
que pagar ao senhorio. Com a greve, a entrega de imóveis deve atrasar
meses. Um operário rende anualmente para um patrão um carro popular,
segundo cálculos de um diretor do Sticmb (Sindicato dos Trabalhadores da Construção
Civil de Belém), enquanto uma cesta básica ajuda a família de um operário a economizar
150 reais por mês. Pense nisso.
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