Da CPT
Dom Tomás Balduino, fundador da CPT, fez a sua páscoa
“Para tudo há uma ocasião certa;
há um tempo certo para cada propósito
debaixo do céu: Tempo de nascer e tempo de morrer,
tempo de plantar
e tempo de arrancar o que se plantou...
tempo de lutar e tempo de viver em paz”.
(Eclesiastes 3:1-8)
É com grande pesar e muita tristeza
que a Comissão Pastoral da Terra (CPT) comunica a todos e todas o
falecimento de Dom Tomás Balduino. Fundador da CPT, bispo emérito da
cidade de Goiás e frade dominicano, Dom Tomás lutou por toda sua vida
pela defesa dos direitos dos pobres da terra, dos indígenas, das demais
comunidades tradicionais, e por justiça social. Nem mesmo com a saúde
debilitada e internado no hospital ele deixava de se preocupar com a
questão da terra e pedia, em conversas, para saber o que estava
acontecendo no mundo.
Aos 91 anos, completados em dezembro
passado, Dom Tomás Balduino, o bispo da reforma agrária e dos indígenas,
nos deixa seu exemplo de luta, esperança e crença no Deus dos pobres.
Ficamos, hoje, todos e todas um pouco órfãos, mas seguimos na certeza de
quem Dom Tomás está e estará presente sempre, nos pés que marcham por
esse país e nas bandeiras que tremulam por esse mundo em busca de uma
sociedade mais justa e igualitária.
Dom Tomás faleceu em decorrência de
uma trombo embolia pulmonar, às 23h30 de ontem, 02 de maio de 2014. Ele
permaneceu internado entre os dias 14 e 24 de abril último no hospital
Anis Rassi, em Goiânia. Teve alta hospitalar dia 24, e no dia seguinte
foi novamente internado, porém desta vez no Hospital Neurológico, também
em Goiânia.
O Corpo será velado na Igreja São
Judas Tadeu, no Setor Coimbra, em Goiânia, até às 10 horas do domingo,
dia 4 de maio, momento em que será concelebrada a Eucaristia, e logo em
seguida será transladado para a cidade de Goiás (GO), onde será velado
na Catedral da cidade até às 9 horas da segunda-feira, 5 de maio, e logo
em seguida será sepultado na própria Catedral.
Biografia de Dom Tomás Balduino
Dom Tomás Balduino nasceu em Posse,
Goiás, no dia 31 de dezembro de 1922. Ele é filho de José Balduino de
Sousa Décio, goiano, e de Felicidade de Sousa Ortiz, paulista. Seu nome
de batismo é Paulo, Paulo Balduino de Sousa Décio. Foi o último filho
homem de uma família de onze filhos, três homens e oito mulheres. Ao se
tornar religioso dominicano recebeu o nome de Frei Tomás, como era
costume.
Até os cinco anos de idade viveu em
Posse. Depois a família migrou para Formosa, onde seu pai se tornou
promotor público, depois juiz e se aposentou como tal.
Fez o Seminário Menor – Escola
Apostólica Dominicana – em Juiz de Fora, MG. Fez os estudos secundários
no Colégio Diocesano, dirigido pelos irmãos maristas, em Uberaba.
Cursou filosofia em São Paulo e Teologia em Saint Maximin, na França,
onde também fez mestrado em Teologia.
Em 1950, lecionou filosofia em
Uberaba. Em 1951 foi transferido para Juiz de Fora como vice-reitor da
então Escola Apostólica Dominicana e lecionou filosofia, na Faculdade de
Filosofia da cidade.
Em 1957, foi nomeado superior da
missão dos dominicanos da Prelazia de Conceição do Araguaia, estado do
Pará, onde viveu de perto a realidade indígena e sertaneja. Na época a
Pastoral da Prelazia acompanhava sete grupos indígenas. Para desenvolver
um trabalho mais eficaz junto aos índios, fez mestrado em Antropologia e
Linguística, na UNB, que concluiu em 1965. Estudou e aprendeu a língua
dos índios Xicrin, do grupo Bacajá, e Kayapó.
Para melhor atender a enorme região da
Prelazia que abrangia todo o Vale do Araguaia paraense e parte do baixo
Araguaia mato-grossense, fez o curso de piloto de aviação. Amigos
solidários da Itália o presentearam com um teco-teco com o qual prestou
inestimável serviço, sobretudo no apoio e articulação dos povos
indígenas. Também ajudou a salvar pessoas perseguidas pela Ditadura
Militar.
Em 1965, ano em que terminou o
Concílio Ecumênico Vaticano II, foi nomeado Prelado de Conceição do
Araguaia. Lá viveu de maneira determinante e combativa os primeiros
conflitos com as grandes empresas agropecuárias que se estabeleciam na
região com os incentivos fiscais da então SUDAM, e que invadiam áreas
indígenas, expulsavam famílias sertanejas, os posseiros, e traziam
trabalhadores braçais de outros Estados, sobretudo do nordeste
brasileiro, que eram submetidos, muitas vezes, a regimes análogos ao
trabalho escravo.
Em 1967, foi nomeado bispo diocesano
da Cidade de Goiás. Nesse mesmo ano foi ordenado bispo e assumiu o
pastoreio da Diocese, onde permaneceu durante 31 anos, até 1999 quando,
ao completar 75 anos, apresentou sua renúncia e mudou-se para Goiânia.
Seu ministério episcopal coincidiu, a maior parte do tempo, com a
Ditadura Militar (1964-1985).
Dom Tomás, junto à Diocese de Goiás,
procurou adequar a Diocese ao novo espírito do Concílio Ecumênico
Vaticano II e de Medellín (1968). Por isso sua atuação, ao lado dos
pobres, no espírito da opção pelos pobres, marcou profundamente a
Diocese e seu povo. Lavradores se reuniam no Centro de Treinamento onde
Dom Tomás morava, para definir suas formas de organização e suas
estratégias de luta. Esta atuação provocou a ira do governo militar e
dos latifundiários que perseguiram e assassinaram algumas lideranças dos
trabalhadores. Em julho de 1976, Dom Tomás foi ao sepultamento do Padre
Rodolfo Lunkenbein e do índio Simão Bororo, assassinados pelos
jagunços, na aldeia de Merure, Mato Grosso. Em sua agenda estava
programada uma outra atividade. Soube depois, por um jornalista, que
durante esta atividade programada, estava sendo preparada uma emboscada
para eliminá-lo.
Alguns movimentos nacionais como o
Movimento do Custo de Vida, a Campanha Nacional pela Reforma Agrária,
encontraram apoio e guarida de Dom Tomás e nasceram na Diocese de Goiás.
Dom Tomás foi personagem fundamental
no processo de criação do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), em
1972, e da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em 1975. Nas duas
instituições Dom Tomás sempre teve atuação destacada, tendo sido
presidente do CIMI, de 1980 a 1984 e presidente da CPT de 1999 a2005. A
Assembleia Geral da CPT, em 2005, o nomeou Conselheiro Permanente.
Depois de deixar a Diocese, além de
ser presidente da CPT, desenvolveu uma extensa e longa pauta de
conferências e palestras em Seminários, Simpósios e Congressos, tanto no
Brasil quanto no exterior. Por sua atuação firme e corajosa recebeu
diversas condecorações e homenagens Brasil afora. Em 2002, a Assembleia
Legislativa do Estado de Goiás lhe concedeu a medalha do Mérito
Legislativo Pedro Ludovico Teixeira. No mesmo ano recebeu o Título de
Cidadão Goianiense, outorgado pela Câmara Municipal de Goiânia.
Foi designado, em 2003, membro do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, CDES, do
Governo Federal, cargo que deixou por sentir que pouco ou nada
contribuía para as mudanças almejadas pela nação brasileira. Foi também
nomeado membro do Conselho Nacional de Educação.
No dia 8 de novembro de 2006, Dom
Tomás recebeu da Universidade Católica de Goiás (UCG) o título de Doutor
Honoris Causa, devido ao comprometimento de Dom Tomás com a luta pelo
povo pobre de Deus.
No dia 18 de abril de 2008 recebeu em
Oklahoma City (EUA), da Oklahoma City National Memorial Foudation, o
prêmio Reflections of Hope. A organização considerou que as ações de Dom
Tomás são exemplos de esperança na solução das causas que levam a
miséria de tantas pessoas em todo o mundo. A premiação Reflections of
Hope foi criada em 2005 para lembrar o 10º aniversário do atentado
terrorista de Oklahoma – quando um caminhão-bomba explodiu em frente a
um edifício, matando 168 pessoas – e para homenagear aqueles que
representam a esperança em meio à tragédia e dedicam suas vidas para
melhorar a vida do próximo.
De 22 até 29 de março 2009 foi em Roma
para participar das palestras em homenagem de Dom Oscar Romero e dos 29
anos do seu assassinato.
Em 2012 a Universidade Federal de
Goiás (UFG) também lhe outorgou o título de Doutor Honoris Causa. Em
dezembro do mesmo ano, durante as comemorações dos seus 90 anos, a CPT
homenageou-o dando o seu nome ao Setor de Documentação da Secretaria
Nacional, que passou a se chamar “Centro de Documentação Dom Tomás
Balduino”.
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HOMENAGEM DOS MILITANTES DO MST
Nossa eterna gratidão a Dom Tomas Balduino..
usamos a palavra do poeta para homenagea-lo.
Calou-se uma voz dos oprimidos
por Pedro tierra
Calou-se a voz de Tomás Balduíno,
nessa noite de 2 de maio.
Uma voz que nunca quiz ser sozinha,
sabia, desde os anos de chumbo:
uma voz solitária não suspende a manhã.
Quiz ser uma voz entre vozes,
ergueu sua voz dentro do vasto coro dos oprimidos:
os índios, os posseiros, os lavradores,
os retirantes da seca e da cerca
e os que se levantam contra elas,
as mulheres, os negros, os migrantes, os peregrinos
para forçar claridades, para ensinar amanhecer.
Tomás é palavra.
A palavra que banha como bálsamo.
A palavra que fustiga.
Incendeia.
A palavra que perdoa
mas aponta - sempre - o caminho da Justiça.
E o que somos na vida?
Somos os ossos das palavras
que povoam o caminho de pedra ou flores
que sangram os pés dos nossos filhos.
Tomás é sertão.
O sertão e suas armadilhas.
O sertão e suas infinitas contradições.
Tomás é sertão
onde se dobram os ventos de Goiás e Minas,
onde nascem águas
nessa infinita geografia
que alimenta nossas esperanças.
Calou-se a voz de Tomás Balduíno.
Permanecerá sua palavra.
Tomás é sertão:
gesto de fé nessa gente que não se dobra.
Brasilia,Manhã de 3 de maio 2014, como um quadro de Goya
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