sexta-feira, 16 de maio de 2014

Imprensa paraense: O Jornalixo dos “Secos e Molhados” e a manifestação dos operários da construção civil de Belém


No último dia 9 os operários da construção civil de Belém realizaram uma passeata para cobrar do sindicato patronal (Sinduscon) uma cesta básica, tudo organizado pelo sindicato da categoria (Sticmb). Seis mil operários tomaram as ruas congestionadas de Belém, saindo da Avenida 9 de Janeiro, onde fica localizado o sindicato, e seguindo para a Praça Brasil, sede do Tribunal do Trabalho.

A movimentação foi seguida pela Polícia Militar e jornalistas a serviço de vários órgãos de imprensa. Foi o evento que mereceu a maior cobertura da imprensa até esta altura do ano, no Pará: matérias locais e também a nível estadual e nacional, inclusive no jornal O Globo (leia aqui).

Durante a caminhada, que percorreu três quilômetros pelas ruas de Belém, não houve nenhum incidente, nenhuma ocorrência policial, tudo televisionado e com cobertura em tempo real pelas redes sociais. Uma comissão foi recebida pela desembargadora Odete Alves, que avisou aos dirigentes sindicais que iria chamar os representantes dos dois sindicatos – o patronal e o dos trabalhadores - para se sentarem à mesa visando debater a reivindicação pela Cesta Básica. Poderíamos terminar aqui e ponto. 
                                                                                 Foto /Rui Baiano Santana

Só que a cobertura de algumas empresas de comunicação deu um show à parte. Resolveram criminalizar um movimento pacifico: a TV Record dos bispos caça-níqueis fez do movimento reivindicatório um caso de policia (com tanta polícia na passeata, por que ninguém foi preso?), passando um  vídeo onde trabalhadores, em um ato isolado, participaram de uma ação chutando o portão de uma empresa; a matéria da emissora dos bispos exibiu a mesma cena mais de 10 vezes, e tome sangue onde não houve nem sequer um pinguinho de ketchup para armar o cenário!.
                                                          Foto/ Rui Baiano Santana

A TV Liberal, dos Maioronas, conhecida por suas relações com governos e o setor imobiliário (são donos de uma construtora e têm uma grande conta de publicidade das empresas imobiliárias), também aderiu à onda de criminalização. No jornal do grupo  prevaleceu a versão de que os trabalhadores são baderneiros. 

Tal comportamento lembra a famosa frase do saudoso Millôr Fernandes, classificando alguns órgãos de imprensa como armazéns de “Secos e Molhados”.

Na verdade, aqui no Pará temos o Jornalixo. A imprensa paraense é uma das piores do Brasil. A falta de critérios jornalísticos dos meios de comunicação paraenses acaba caindo na vala comum da imprensa marrom; repórteres acabam sendo tratados como meros meninos de recado, pegam a informação, passam para o editor e este molda a notícia ao gosto do chefe, isto é, ao gosto de quem paga.

É por isso que o debate sobre a comunicação no Brasil está hoje na ordem do dia, mobilizando as atenções do movimento democrático e popular. Recentemente foi aprovado no Congresso Nacional o Marco Civil da Internet, justamente fortalecendo a luta pela liberdade de expressão de toda a sociedade e limitando o escandaloso arbítrio dos monopólios da mídia.

Os grupos de comunicação que administram a velha mídia tornam sempre atual, especialmente no Pará, a frase de Millôr: “Imprensa é oposição, o resto é secos e molhados”.

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