No último dia 9 os
operários da construção civil de Belém realizaram uma passeata para cobrar do
sindicato patronal (Sinduscon) uma cesta básica, tudo organizado pelo sindicato
da categoria (Sticmb). Seis mil operários tomaram as ruas congestionadas de
Belém, saindo da Avenida 9 de Janeiro, onde fica localizado o sindicato, e
seguindo para a Praça Brasil, sede do Tribunal do Trabalho.
A movimentação foi
seguida pela Polícia Militar e jornalistas a serviço de vários órgãos de
imprensa. Foi o evento que mereceu a maior cobertura da imprensa até esta
altura do ano, no Pará: matérias locais e também a nível estadual e
nacional, inclusive no jornal O Globo (leia aqui).
Durante a caminhada, que
percorreu três quilômetros pelas ruas de Belém, não houve nenhum incidente,
nenhuma ocorrência policial, tudo televisionado e com cobertura em tempo real
pelas redes sociais. Uma comissão foi recebida pela desembargadora Odete Alves, que
avisou aos dirigentes sindicais que iria chamar os representantes dos dois
sindicatos – o patronal e o dos trabalhadores - para se sentarem à mesa visando
debater a reivindicação pela Cesta Básica. Poderíamos terminar aqui
e ponto.
Foto /Rui Baiano Santana |
Só que a cobertura de
algumas empresas de comunicação deu um show à parte. Resolveram criminalizar um
movimento pacifico: a TV Record dos bispos caça-níqueis fez do movimento reivindicatório
um caso de policia (com tanta polícia na passeata, por que ninguém foi preso?),
passando um vídeo onde trabalhadores, em um ato isolado, participaram de
uma ação chutando o portão de uma empresa; a matéria da emissora dos bispos exibiu
a mesma cena mais de 10 vezes, e tome sangue onde não houve nem sequer um
pinguinho de ketchup para armar o cenário!.
Foto/ Rui Baiano Santana |
A TV Liberal, dos
Maioronas, conhecida por suas relações com governos e o setor imobiliário (são
donos de uma construtora e têm uma grande conta de publicidade das empresas
imobiliárias), também aderiu à onda de criminalização. No jornal do grupo prevaleceu a versão de que os trabalhadores
são baderneiros.
Tal comportamento lembra
a famosa frase do saudoso Millôr Fernandes, classificando alguns órgãos de
imprensa como armazéns de “Secos e Molhados”.
Na verdade, aqui no Pará
temos o Jornalixo. A imprensa paraense é uma das piores do Brasil. A falta de
critérios jornalísticos dos meios de comunicação paraenses acaba caindo na vala
comum da imprensa marrom; repórteres acabam sendo tratados como meros meninos
de recado, pegam a informação, passam para o editor e este molda a notícia ao
gosto do chefe, isto é, ao gosto de quem paga.
É por isso que o debate
sobre a comunicação no Brasil está hoje na ordem do dia, mobilizando as
atenções do movimento democrático e popular. Recentemente foi aprovado no
Congresso Nacional o Marco Civil da Internet, justamente fortalecendo a
luta pela liberdade de expressão de toda a sociedade e limitando o escandaloso
arbítrio dos monopólios da mídia.
Os grupos de comunicação que
administram a velha mídia tornam sempre atual, especialmente no Pará, a
frase de Millôr: “Imprensa é oposição, o resto é secos e molhados”.
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