sábado, 16 de janeiro de 2016

Artigo do Prof. Luiz Feitosa* : Como os políticos farão campanha sem grana das empresas?

O darwinismo nas eleições/2016
Na minha modesta história de vida, sempre sonhei com uma eleição como será realizada em 2016, com edição da lei federal nº 13.165/2015 que alterou a lei eleitoral vigente, além de reduzir o tempo de campanha, veda a participação das empresas no financiamento de campanha. Os únicos recursos aceitáveis são do Fundo Partidário e das contribuições das pessoas físicas até o limite de 10% do declarado no imposto de renda do ano anterior.
As empresas que detinham um poder acima da normalidade que influenciavam a elaboração dos orçamentos públicos desde antes do tempo do império. A disputa pelo voto ficava muito desiquilibrada, pois o interesse que prevalecia era o interesse particular das empresas em detrimento dos interesses populares.
O conflito de interesses era nítido, lembro que quando trabalhava para Mineração Novo Astro S/A entre 1990-1991, chegou ao almoxarifado da empresa um carregamento de camisas que seriam doadas aos políticos do Amapá. Notadamente eram ligados aos partidos de centro- direita. Era assim que funcionava a política no Brasil.
Quando o PT começou a ganhar espaço na sociedade, elegendo prefeitos, governadores e finalmente a presidência da República com Lula em 2002, foram elaboradas alterações na legislação eleitoral, tais alterações foram nitidamente para diminuir ou retardar o crescimento eleitoral dos petistas, basta à recordação da proibição dos megacomícios e brindes (camisas, bonés, chaveiros e etc.) e outdoor, além dos efeitos especiais modernos utilizados na TV com destaque feito por Collor em 1989. Cada mudança visava não só baratear os custos das campanhas como era difundido por Jorge Bornhausen, na época presidente do DEM (ex-PFL).
Feito esse pequeno preambulo, vamos ao cerne da questão do financiamento das campanhas eleitorais, como sabemos os políticos estavam acostumados a ter volumes e volumes de dinheiro captado junto às empreiteiras, agora estão assustados com os destinos da operação Lava Jato da PF.

 O Ministério Público e órgãos de fiscalização estão com um rol vastíssimo de práticas e métodos nefastos para sangrar o cofre público, desde o superfaturamento de obras, aditivos graciosos e repasse de dinheiro em espécie ou através de paraísos fiscais, até mesmo a compra de obras de arte para lavagem de dinheiro.
Uma pessoa para ser um Político com p maiúsculo deveria, segundo Max Weber, viver para a política ao invés de viver da política. A primeira parte da assertiva desde sociólogo pressupõe que a pessoa traz consigo o espirito de liderança para atuar naturalmente em prol da coletividade, para isso conta com o carisma, o poder de discussão e espirito colaborativo. A segunda parte é oriunda da vontade a partir dos negócios públicos ou prestando serviços políticos.
Sem o financiamento empresarial, os políticos e partidos políticos devem atuar na captação de pessoas, ocorre que na cultura brasileira isso é altamente improvável de acontecer espontaneamente, pois associam que o político profissional é rico, ou que enriquece a partir do cargo que ocupa. Partindo deste pressuposto, ocorrerá uma seleção natural dos políticos, eliminando aqueles que estavam acostumados a comprar voto com o dinheiro vindo da corrupção. Outros eliminados serão os políticos sem carismas, pois compensavam essa qualidade com dinheiro. Ou usam o recurso do seu patrimônio particular ou se valerão de caixa dois, algo bem caro e sensível em tempos de operação Lava Jato.
A ausência do empresariado neste momento permitiria o fortalecimento dos políticos que vivem realmente à política, isso tanto faz a sua opção ideológica. Defendo que foi benéfica essa alteração. Aqueles que tiverem bandeiras de lutas e que encantem a maioria serão mais lembrados para uma votação. Nunca antes neste país, o conteúdo das propostas de trabalho será tão importante.
Fico à disposição para fazer a consultoria de pessoas que precisem de ajuda para encontrar uma estratégia que de fato permita a sua aceitação, com boas ideias e a dose certa de comunicação o dinheiro não será tão preponderante neste processo eleitoral. A política é arte, e arte é uma produção intelectual e que atrai pessoas que pensam na mesma linha de ação. Precisamos de uma nova safra de líderes, assim poderemos constatar que haverá uma mudança significativa na sociedade.
*Estatístico, especialista em estatística e mestre em Ciência Política. Professor e pesquisador da opinião pública.

Um comentário:

Thiago Oliveira disse...

O tempo de campanha foi diminuído, perde-se eleitor. O Brasil apresenta um sistema eleitoral que precisa ser reformado, também temos um quadro politico precisando de renovação, novas lideranças precisariam ser construídas. Como fortalecer novos líderes políticos em um tempo tão curto? O povo, não acostumado a debater política, e precisando aprender isso, será pego de surpresa, talvez nem se interesse em aprender, pelo menos em curto prazo. Encurtar o prazo, foi mais um erro. Reformas eram necessárias para reaproximar candidato e eleitor, mas por conta dessa histeria coletiva a qual o país foi colocado, perdeu-se o momento. As ruas estão órfãs de líderes políticos. Há um grande vazio de ideias. Quem souber capitalizar esse eleitorado se dará bem. Enfim, com poucos recursos, sobra o corpo a corpo. Resta-nos saber se os candidatos querem ser políticos do povo ou do gabinete.