Jornal GGN - A repercussão dos atos realizados
neste domingo (04) em favor da Operação Lava Jato recebeu ao longo do
dia e noite outras conotações, além dos motivos protestados: colocar o
presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o presidente da
Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), como escudos à revelia de Michel Temer.
O recado estava claro: o líder do movimento que organizou os
protestos, Vem Pra Rua, Rogério Chequer explicou nas redes sociais que o
grupo "não é a favor do Fora Temer". "Nós não temos nenhum interesse de
tirar o Temer do poder", afirmou. E mais, em entrevista à BBC Brasil, o
organizador disse que não podia controlar quem participa de seus atos,
mas que esperava "que pessoas desalinhas das não se interessem em vir".
Defendeu diretamente Temer, afirmando que o novo presidente "tem
intenções extremamente positivas para o Brasil". O aviso do líder do Vem
Pra Rua está em consonância com a reunião realizada no Planalto, em que
Michel Temer pediu que os movimentos de direita o ajudassem.
Eram atos em favor da Operação Lava Jato e contra qualquer medida
que pudesse impedir sua continuidade e avanço. Mas a "ameaça" à operação
incluía não só a aprovação na Câmara dos Deputados, na calada da noite
na última quarta-feira (30), das 10 Medidas incluindo tentativas de
cercear atuação de investigadores, como também o Projeto de Lei do
Senado 280, de Abuso de Autoridade, que quer evitar qualquer que seja o
abuso cometido por juízes, delegados e procuradores.
Mas a aprovação da Câmara, alterando as medidas um dia antes da
agenda prevista no Senado para discutir a outra pauta, essa sim
exclusiva aos abusos, provocou na população, com a ajuda dos meios de
comunicação, uma interpretação de que tudo se tratava de ameaçar a Lava
Jato.
Diante disso, as manifestações que eram para ser contra as
alterações feitas pelos deputados federais na última quarta-feira,
ampliou seu leque e, além de defender o próprio avanço da Operação Lava
Jato, criticando o presidente da Câmara Rodrigo Maia, também pos na mira
Renan Calheiros, presidente do Senado. Mas não Michel Temer, a voz
ordenante do Executivo para as medidas que estão sendo aprovadas no
Congresso.
Também os meios de comunicação fizeram seu papel. Apoiaram
expressivamente as manifestações, destacando "famosos que defendem" os
atos, a Lava Jato e contra a corrupção, nas propostas do Congresso.
"Das dez medidas sugeridas pelo Ministério Público Federal e que
contaram com mais de 2 milhões de assinaturas de apoio, salvaram-se
integralmente apenas duas. Os parlamentares ainda incluíram no projeto a
tipificação do crime de abuso de autoridade para magistrados e
integrantes do Ministério Público", divulgou O Globo, em reportagem que
fez o balanço das manifestações.
A Folha trouxe destaque para as celebridades, como os atores Regina
Duarte, Malvino Salvador, Susana Vieira e Juliana Paes, que ou
integraram os atos, ou manifestaram seus apoios pelas redes sociais com
fotografias e frases.
A resposta de Temer foi de agradecimento. Em nota oficial, o
Palácio do Planalto destacou o "comportamento exemplar" das
manifestações deste domingo (04) por cerca de 200 cidades do Brasil e
avaliou que os atos "fortalecem ainda mais" as instituições brasileiras.
"A força e a vitalidade de nossa democracia foram demonstradas mais
uma vez, neste domingo, nas manifestações ocorridas em diversas cidades
do país", elogiou o governo, por meio da Secretaria de Comunicação.
"Milhares de cidadãos expressaram suas ideias de forma pacífica e
ordeira. Esse comportamento exemplar demonstra o respeito cívico que
fortalece ainda mais nossas instituições. É preciso que os Poderes da
República estejam sempre atentos às reivindicações da população
brasileira", disse.
Por outro lado, o comunicado trará mais pressões para o governante,
após as pautas de sua ampla base de apoio do Congresso serem aprovadas.
A população que foi às ruas e os próprios jornais que valorizaram os
atos ficarão atentos se Temer sancionará as leis dos deputados e
senadores.
O Estadão mostrou isso, ao publicar reportagem de que as
"manifestações país afora" devem "desacelerar" os projetos como o de
Abuso de Autoridade. "A matéria poderá sair da pauta de votação do
plenário do Senado amanhã", cobrou o jornal.
Ao mesmo tempo que a notícia revela pressão, tanto popular, quanto
dos veículos de comunicação, para que o tema seja descartado pelo
governo, também demonstra a tentativa de se misturar os dois projetos em
andamento, um na Câmara e outro no Senado, como se fossem iguais.
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