Parte do telhado de vidro do Mercado de São Brás desabou ao ser atingido pela estrutura metálica que se soltou do prédio, depois da chuva na última quarta-feira. Todo o complexo está comprometido, e outras vidraças podem se espatifar no chão, comprometendo a segurança dos que ali trabalham e também de quem visita o local. O Mercado de São Brás tem 106 anos, está tombado pelo patrimônio histórico e é um dos lugares de maior beleza arquitetônica do país. Enquanto isso, o prefeito aproveita as férias e viaja para Enghien-le-Bains, na França, com diárias pagas pelo poder público.
É triste o descaso da gestão atual da com o espaço arquitetônico de Belém. Um dos meus arrependimentos como homem público foi o de não ter transformado o Mercado de São Brás num teatro de arena. Mas, recuperei totalmente o Mercado do Ver-o-Peso que ameaçava ser levado pela maré. Também recuperei o Palacete Bolonha, preservando sua pompa de casa da época da borracha. A mesma coisa fiz com o Palácio Lauro Sodré, hoje Museu do Estado. Todos os administradores devem ter o comprometimento de, se não fizer obras, pelo menos preservar as que já existem. O Palacete Faciola, de beleza sem igual e em pleno centro da cidade, está envolto em mato que já toma conta até da placa na qual está o aviso de que o prédio será recuperado. Ninguém acredita.
O caso da demolição do Grande Hotel, para a construção do Hotel Hilton, hoje Hotel Princesa Louçã, é um dos mais clássicos exemplos da arrogância comercial de quem desconhece o valor histórico e emocional dos espaços de uma cidade. Poderia ter sido preservado, e a construção do Hilton feita por trás do prédio. O Grande Hotel de Belém era uma réplica do Grande Hotel de Milão, sendo que o daqui era mais bonito por causa seu formoso terraço. Estive em Milão e, por coincidência, o quarto em que fiquei havia sido o mesmo quarto em que Dom Pedro II, imperador do Brasil, esteve hospedado pela última vez quando foi assistir à ópera O Guarani, de Carlos Gomes, no teatro Scala, bem próximo ao hotel. Aliás, no livro de registro do hotel, consta que Dom Pedro teria viajado para permitir que sua filha, a Princesa Isabel, assinasse a Lei Áurea, dando fim à escravidão no Brasil. Cheguei a achar o texto meio depreciativo, pois da forma como estava escrito, dava a entender que Dom Pedro havia fugido do país para não assinar a lei.
Por aqui, ainda continuamos como a quarta pior cidade do país para se morar porque os responsáveis pela administração da cidade têm mais experiência e foco no que pode ser destruído do que no que deve ser preservado, e seguem despreocupados com o bem estar da população.
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