Jadson Oliveira é jornalista baiano. Trabalhou nos jornais Tribuna da Bahia, Jornal da Bahia, Diário de Notícias, O Estado de São Paulo e Movimento. Depois de aposentado virou blogueiro e tem viajo pela América do Sul e Caribe.
"A percepção
generalizada hoje é que os políticos estão enlameados. As forças populares, com
fraca articulação e com o povo desinformado, tateiam no escuro em busca duma
luz de esperança. O que é trágico, porque a solução só pode vir da política."
Por Jadson Oliveira - jornalista/blogueiro
De Salvador-Bahia - Um dos traços mais
acentuados da conjuntura política brasileira é a criminalização da política e
dos políticos.
Não
é de hoje, por certo. Há uns 15/20 anos atrás me lembro dum deputado baiano
comentar que, quando chegava a um ambiente onde não era conhecido, nunca se
identificava como político pois tinha consciência da má fama.
A
partir das manifestações massivas de junho/2013 isto se tornou particularmente
alarmante, ao ponto de forças políticas que até então se mantinham latentes
saírem à luz do dia e começarem a se projetar no espaço público. Os círculos de
caráter fascista costumam germinar num clima de criminalização da política e de
incentivo ao ódio.
O
agente mais visível que fez prosperar tal marca da conjuntura tem dois canais
interligados: a Operação Lava Jato e a Rede Globo (com seus cúmplices da mídia
hegemônica). Um não vive sem o outro. Uma dupla infernal. Lembram Pelé e Pepe
no famoso ataque do Santos nos anos 60.
O
fermento a adubar tão exitosamente o processo de criminalização da política não
poderia ser mais eficiente: a corrupção, um câncer que corrói a alma da
sociedade brasileira há 500 anos, atinge todos os setores, em especial o mundo
empresarial, e que costuma ser tão ao gosto das relações capitalistas.
Na
semana passada, por exemplo, tivemos um espetáculo de corrupção explícita: a
maioria dos congressistas, na mesma Câmara dos Deputados que rifou Dilma – uma
presidenta até prova em contrário honesta -, acaba de salvar (ou conceder uma
sobrevida) Temer, um presidente ostensivamente corrupto.
Só
que a Globo e a Lava Jato, que se reforçam com a memória do chamado Mensalão,
tentaram fazer uma mágica impossível: meter na cabeça dos brasileiros que a
corrupção foi inventada a partir de 2003, com o advento da era Lula/PT.
Mas,
repito, seria uma mágica impossível, apesar da seletividade e partidarismo da
campanha bem encetada pelos dois principais protagonistas.
A
plateia acabou percebendo mais nuances no quadro que se pretendia apenas branco
e preto. Mesmo porque o escandaloso monopólio da comunicação tradicional tem de
conviver atualmente com o crescente poder da Internet/redes sociais.
Estão
conseguindo suas metas principais: tiraram Dilma da presidência, buscam carimbar
o PT como “organização criminosa” e avançam para tirar Lula do páreo de 2018.
Na
economia, conseguiram aprovar a contrarreforma trabalhista, agravada pela
terceirização total. O pré-sal foi entregue à sanha das empresas
multinacionais, como prometido. E tentam afastar dificuldades para a aprovação
das mudanças na Previdência, daí a divisão dos golpistas entre Fora Temer e
Fica Temer. Os trabalhadores são penalizados pelo desemprego, enquanto são
mantidos os ganhos do capital financeiro, do rentismo e dos especuladores. Os
bancos, o narcotráfico e a criminalidade nadam de braçada.
Mas,
entre as peripécias dos vazamentos e as tais delações premiadas, começaram a
aparecer inúmeros vilões que, em princípio, estariam fora do script: dos
manjadíssimos PMDB, PSDB e DEM, do famigerado Centrão e das bancadas do BBB
(Boi, Bala, Bíblia).
Eduardo
Cunha, um dos chefões – ao lado de Temer – do PMDB, está preso e condenado,
embora nossos altos juízes do Supremo Tribunal Federal tenham esperado 142 dias
para afastá-lo da presidência da Câmara (do dia do pedido feito pela PGR ao dia
do afastamento). Só o fizeram depois que ele fez aprovar o prosseguimento do
processo de impeachment de Dilma.
Mas,
que diabo! – exclamam muitos direitistas indignados -, não era só para
desencarnar esses petistas f.d.p.?
Era.
Mas às vezes é impossível segurar o processo de acordo com o projetado. A
dinâmica social e política é sempre mais complicada do que faz crer, na tela da
TV, a “sabedoria” dos especialistas.
O
fato concreto é que, hoje, a percepção generalizada é que os políticos estão
enlameados. As forças populares, com fraca articulação e com o povo
desinformado, tateiam no escuro em busca duma luz de esperança. O que é trágico,
porque a solução só pode vir da política.
Quer
dizer: uma política praticada em novos moldes, comprometida com o interesse
público e entrelaçada com os movimentos sociais. Voltarei a este tema.
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