sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

O general, o deputado e o motorista

                  Os Bolsinhos

Muito se falou nessa semana sobre a derrota de Onyx Lorenzoni – o futuro chefe da Casa Civil colocado sob a mira do general Santos Cruz por Bolsonaro. Seu papel como articulador no Congresso foi atropelado pelo general, que adentrou o Planalto anunciandoque vai acabar com o “toma lá, dá cá” entre governo e parlamento. “Se você for raciocinar, para fazer o trabalho certo não tem dificuldade nenhuma, só ser norteado por bons princípios”, disse o general.

A frase soa ingênua para quem tem acompanhado os movimentos do Congresso brasileiro nas últimas décadas. Mas pode não ser. A aparente candura do general contrabalança a presença de Onyx (contra quem na terça-feira o STF abriu investigação por caixa 2 em doações eleitorais) em um governo eleito com a bandeira anticorrupção. Ontem, o repórter Fausto Macedo noticiou que um cheque de 24 mil reais compensado em favor de Michelle Bolsonaro, futura primeira-dama, foi encontrado em uma conta com movimentação considerada suspeita pelo Coaf.

O titular da conta é um ex-assessor de Flávio Bolsonaro, o policial militar Fabrício José Carlos Queiroz – segurança e motorista do então deputado, filho do presidente eleito. Queiroz movimentou 1,2 milhão de reais na conta entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. Segundo o Coaf, “incompatíveis com o patrimônio, a atividade econômica ou ocupação profissional e a capacidade financeira” do ex-assessor, que recebia pouco mais de 8,5 mil reais como funcionário da Alerj. Ele foi exonerado em 15 de outubro passado por Flávio, pouco depois de ele se eleger para o Senado.

Vale a pena acompanhar essas histórias – a do deputado com a cabeça na bandeja, a do general que diz que vai enquadrar o Congresso, e a do cheque de Michelle flagrado pelo Coaf na conta do ex-motorista. Afinal, quem pretende comandar também o Coafé outro símbolo anticorrupção do governo, o superministro Sérgio Moro.

A conduta do ex-juiz – inclusive em relação às informações que serão ou não repassadas à imprensa – pode ser a prova de fogo para sua reputação, chamuscada durante sua rápida transição do Judiciário para a política – logo depois de, às vésperas das eleições, tornar pública a delação de Palocci, o ex-ministro do PT, partido que disputava as urnas com o PSL do capitão reformado eleito.
Marina Amaral, codiretora da Agência Pública

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