Via Jornal GGN
Jornal "Estadão", que
colocou Haddad e Bolsonaro como equivalentes durante as eleições de 2018, agora
tenta se afastar do governo que ajudou a eleger. Assim como parte da mídia
tradicional
O Estado de S. Paulo usou a foto
de Gabriela Biló para ilustrar uma reportagem de capa daquele dia tratando de
uma das recentes crises ocorridas no governo. Essa, especificamente, dizia
respeito a ação da Policia Federal, comandada por Moro
da Rede Brasil Atual
por Laurindo Lalo Leal Filho
A fotógrafa Gabriela Biló já é
forte candidata ao prêmio da melhor foto do ano. Ela fixou para a posteridade
uma cena de elevado simbolismo. No último dia 15, durante uma cerimônia de
hasteamento da bandeira nacional, o presidente da República fez o seu
característico gesto de armas nas mãos apontando para o ministro Sérgio Moro,
sob os risos do colega Paulo Guedes. De cabeça baixa o ex-juiz passa a
impressão de total submissão e desamparo.
O Estado de S. Paulo usou a foto
para ilustrar uma reportagem de capa daquele dia tratando de uma das recentes
crises ocorridas no governo. Essa, especificamente, dizia respeito a ação da
Polícia Federal, comandada por Moro, contra o presidente do partido de
Bolsonaro, o PSL, Luciano Bivar. A foto permite diferentes interpretações,
entre elas a da rendição total de Moro ao presidente.
Somada à declaração do ministro
Gilmar Mendes de que o ex-juiz “virou personagem que Bolsonaro leva para jogo
do Flamengo” e da mensagem cifrada da mulher do próprio Moro escrevendo para
ter “coragem de dizer eu ‘mereço mai’’ e vá embora” forma-se um quadro
sintomático do enfraquecimento daquele que foi considerado no início do governo
um superministro.
Mas da parte do jornal pode-se
buscar outras interpretações para a publicação da foto com tanto destaque,
além, é claro, da sua qualidade jornalística. O Estadão já há algum tempo
desembarcou da canoa do presidente, formulando críticas duras em editoriais
contra sua forma de governar, especialmente na questão dos costumes.
Leia também: O avanço do Reich bananeiro…, por Fábio de
Oliveira Ribeiro
Todavia, poupa o ex-juiz de
Curitiba. Ele, na foto, pode ser visto como se estivesse cercado por seus
algozes, necessitando de apoio e proteção. Se essa foi a interpretação dos
leitores, o jornal teria conseguido através de uma imagem deixar claro o seu distanciamento
do presidente e, ao mesmo tempo, a sua proteção ao ex-juiz.
O que não seria nada incoerente.
Mesmo após as revelações dos atropelos de Moro na condução da Lava Jato, grande
parte da mídia continua o protegendo. Organizações como a Globo, por exemplo,
mantêm-se fiel a ele. Afinal foram cinco anos de uma ação conjunta entre os
veículos da empresa, o então juiz federal de primeira instância e os
procuradores de Curitiba. Esses laços, amarrados por fortes interesses
políticos e econômicos, não se desfazem tão facilmente.
As eleições presidenciais do ano
passado contaram com a participação decisiva da Lava Jato. Se os desvios legais
cometidos pelos integrantes da operação tivessem sido conhecidos naquela época,
os resultados certamente teriam sido diferentes. Seria muito mais difícil para
a mídia construir a “teoria dos dois demônios”, colocando como simétricos os
dois candidatos que foram para o segundo turno.
Em editorial, o Estadão, chegou a
dizer que a escolha entre eles “era difícil”. Lamentando a inexistência de um
candidato de centro, o jornal dizia que havia “de um lado, o direitista Jair
Bolsonaro (PSL), o truculento apologista da ditadura militar; de outro, o
esquerdista Fernando Haddad (PT), o preposto de um presidiário. Não será nada fácil
para o eleitor decidir-se entre um e outro”.
Leia também: Xadrez do auto-impeachment de Bolsonaro, por
Luis Nassif
Não só para o Estadão, mas para a
quase totalidade da mídia corporativa, os dois demônios só existiam porque, de
um lado, um dos candidatos era apoiado por um “presidiário”. Agora, com as revelações do site The
Intercept Brasil deixando cada vez mais evidente o teor político do processo e
da prisão ex-presidente Lula, a afirmação do jornal chega a ser ridícula.
Mas foi ela, com toda a sua
fragilidade, a base da argumentação usada para equiparar o candidato Fernando
Haddad a Jair Bolsonaro, ainda que fosse mencionada a sua truculência,
representada pelo apoio à ditadura militar. Apoio não só dele mas de
praticamente de toda a mídia, é sempre bom lembrar. No entanto, a diferenciação
entre o candidato da extrema-direita, categorização que a mídia se nega a usar,
e o da esquerda vai muito mais longe. Na verdade estava-se diante de uma
candidatura protofascista, cujos sinais já eram evidentes durante a campanha,
tornando-se palpáveis depois da vitória.
Quem não se lembra de Bolsonaro,
em discurso transmitido em telões na Avenida Paulista, definindo a esquerda
como inimiga a ser destruída, com ameaças de exílio ou prisão para os seus
integrantes. Tendo a violência como base de suas ações e a imagem da arminha
feita com as mãos, seu símbolo de campanha, o candidato deixava claro que sua
política seria do ‘nós’ e ‘eles’, cerne do fascismo. Como está sendo
demonstrado desde janeiro.
Ao se completar um ano das
eleições presidenciais que levou ao poder pela primeira vez, por meio do voto,
um candidato de extrema-direita, a imagem da “arminha” apontada pelo presidente
ao seu ministro revela não só a desagregação do governo eleito.
Mostra também as nefastas
incoerências da mídia que impuseram à sociedade uma equivalência inexistente
entre candidaturas, facilitando a vitória daquele do qual agora alguns tentam
se afastar. Para a soberania nacional e a sobrevivência da democracia, pode ser
tarde.
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