sábado, 21 de dezembro de 2019

Eleitorado de Bolsonaro está cada vez mais desconfiado, diz analista


O filho Flávio, alvo de investigação, e o governador do RJ e hoje desafeto, Wilson Witzel, são problemas do presidente. | Foto: Valter Campana/Agência Brasil

Via Rede Brasil Atual
Por Eduardo Maretti
São Paulo – A nova pesquisa CNI/Ibope, divulgada nesta sexta-feira, segundo a qual 56% dos brasileiros não confiam no presidente Jair Bolsonaro, parece mostrar não só que a maior parte da população está desconfiada do chefe de governo, mas também que ele hoje tem o apoio apenas daquele um terço do eleitorado brasileiro chamado de “eleitor de raiz”, mais próximo do ideário de Bolsonaro, que analistas apontam como sendo em torno de 30% , na opinião da cientista política Maria do Socorro Sousa Braga, da Universidade Federal de São Carlos. Segundo a pesquisa, 29% dos brasileiros consideram o governo ótimo ou bom.

“A tendência é ele manter um eleitorado fixo, que ele faz de tudo para manter, com essas questões conservadoras, moralistas, relativa à agenda comportamental, que atende às expectativas de um eleitorado, no caso, mais ligado à classe média e também a parte dos evangélicos.”



De acordo com a pesquisa, o percentual de brasileiros que avalia o governo como ruim ou péssimo passou de 34%, em setembro, para 38% em dezembro. Em abril, apenas 27%  dos entrevistados tinham essa avaliação.


Para Maria do Socorro, a queda ininterrupta da popularidade de Bolsonaro desde abril pode mostrar a tendência de perda de popularidade, de certa maneira esperada, entre o eleitorado que votou no atual presidente pelo antipetismo, ou por não ver opção que o representasse, seja no PT ou mesmo nos partidos de direita ou centro-direita.

“Esse eleitorado procurou uma alternativa de quem se dizia fora da política. Mas hoje se tem mais conhecimento de suas propostas, dos escândalos da Vaza Jato, e as pessoas estão cada vez mais desconfiadas mesmo. Estão aos poucos perdendo a venda que colocaram nos olhos antes da eleição e pouco depois.” A professora da Ufscar acha que os membros da família Bolsonaro têm motivos “para passar um final de ano muito preocupados”.


A pesquisa CNI/Ibope foi realizada entre os dias 5 e 8 de dezembro, portanto antes do novo escândalo envolvendo Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), alvo de operação do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) em endereços ligados ao senador, acusado de praticar “rachadinha” quando era deputado estadual do Rio de Janeiro. As investigações envolvem suspeitas de lavagem e desvio de dinheiro público. A defesa de Flávio entrou com habeas corpus preventivo no Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quinta-feira (19),  tentando suspender as investigações.

Maria do Socorro concorda com a avaliação do deputado Enio Verri (PT-PR), para quem o discurso de Jair Bolsonaro começará a não funcionar quando a população entender que a agenda do governo é a principal responsável, hoje, pelo seu empobrecimento.

Apesar da concordância, a professora opõe duas ressalvas. “Bolsonaro ainda tem argumentos que vai usar para se defender. Ele vai dizer que o Legislativo é moroso e não deixa passar a agenda que ele quer, como ele quer. E também que os indicadores econômicos e de desemprego já vinham ruins desde o final do governo Dilma.”

Para Maria do Socorro, para se chegar à situação prevista por Enio Verri, o real entendimento da população sobre a gestão Bolsonaro, “o PT e a esquerda têm que fazer um contraponto programático”. “A população só vai enxergar que as propostas do governo não dão certo e não ajudam a economia crescer quando esquerda e PT tiverem outra narrativa, construída em cima de programas”, diz. “Não adianta ficar só na crítica. O Lula foi solto, o tema Lula livre já acabou, embora ele ainda possa enfrentar problemas com a Justiça. Hoje eu não poderia discutir a questão programática do PT, porque não tem.”


Observação da Rede Brasil Atual: recentemente o partido apresentou um plano de recuperação econômica com propostas para a combater a onda de desemprego e estabelecer  um sistema de cobranças de impostos mais justo, como ferramentas para fazer o país voltar a crescer.

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