segunda-feira, 2 de março de 2020

"SERÁ QUE NÃO TEM UM GENERAL DE VERRRRGONHA PRA DAR UM JEITO NESTE PAÍS!?”


Por Jadson Oliveira (jornalista/blogueiro) – editor deste Blog Evidentemente

Corina, Fabrício e Adelino: irmãos dos Oliveira dos Fabrício de Seabra
A memória infantil é inesgotável, embora seletiva e arbitrária: a década de 1950 tem um recorte especial na mente do cronista.

Perguntava indignado Adelino Oliveira, lá pela segunda metade da década de 1960, em Seabra, então uma cidadezinha menor e mais atrasada que as vizinhas Palmeiras e Lençóis. Hoje – graças ao empurrão da BR-242 (Bahia-Brasília) – é considerada a capital da Chapada.

“Será que não tem um general de verrrrgonha pra dar um jeito neste país!?” – se indignava seo Adelino, ex-escrivão de Coletoria estadual, caçula do clã dos Oliveira dos Fabrício. (Irmão de Fabrício d’Oliveira, rábula e chefe político, neto do irmão do afamado coronel Manuel Fabrício de Oliveira, de Campestre/Seabra).

O general aí vem por conta da vigência da ditadura militar. Mas não só. A família Oliveira dos Fabrício, liderada por Fabrício d’Oliveira, lá pela década de 1950, era oposição na política seabrense. E, então, ligada à velha UDN (União Democrática Nacional), nacionalmente sempre pobre de votos e chegada aos militares e aos golpes (ou tentativas de).

Não era à toa que seo Adelino ansiava por um “general de verrrrgonha” (nunca passaria pela cabeça dele a possibilidade do protagonismo popular). O candidato a presidente dos sonhos da família, nesses tempos de hegemonia do getulismo/trabalhismo, era o brigadeiro Eduardo Gomes, nunca emplacado no veredito das urnas.

E sua grande estrela, como não poderia deixar de ser, o famigerado Carlos Lacerda, ex-comunista que “costeou o alambrado” (expressão ao gosto do velho Brizola, virou a casaca, passou para o lado do inimigo) e tornou-se virulento líder direitista, a serviço do império estadunidense.

Na Bahia, a família seguia o general Juracy Magalhães, tenente interventor da Revolução de 30 que tomou gosto pelo poder e virou chefe político. Tornou-se superconhecido nacionalmente como chanceler da ditadura, quando disparou a célebre sentença: “O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil” (Bolsonaro tem aí um notável precedente).

Mas, pelo menos na visão do clã dos Fabrício, localmente nós éramos os “bons”: sérios, bem intencionados, oposicionistas, pobres. Eles eram os “maus”, os donos do poder, representados entre as autoridades locais pelo prefeito e o delegado de polícia.

Os seus líderes: Manoel Teixeira Leite (pai do ex-prefeito Dálvio Leite), Sílvio Almeida, Jorge Alves de Oliveira (de Jatobá/Baraúnas, pai do querido companheiro Jorginho Oliveira), Aloísio Rocha (pai de Aloisinho, jornalista, cantor/compositor, mora em Belo Horizonte), Walter Coutinho (de Parnaíba/Iraporanga/Iraquara, pai do hoje vice-prefeito de Iraquara Nino Coutinho) e o jovem (na época) deputado Osvaldo Teixeira (filho de Sílvio Almeida), do PR (Partido Republicano), velho partido do cacique Manoel Novaes.

(Osvaldo é um dos poucos que podem confirmar ou contestar as informações disseminadas por aqui: dos protagonistas citados, é o único vivo).

Pela década de 1950, Waldemar Santos (“Preto” de Zé de Cabocla) circulava pelas ruas da pequenina cidade, durante as campanhas eleitorais, alardeando pelo serviço de alto-falante instalado num jeep: era a voz da “coligação PSD/PTB/PR” em disputa com a UDN (PSD – Partido Social Democrata e PTB – Partido Trabalhista Brasileiro, ambos fundados a partir da liderança de Getúlio).

A memória infantil é inesgotável, embora seletiva e arbitrária: ainda na década de 1950 (exatamente 1958), seo Adelino foi candidato a prefeito e “quase ganha”, dizem;

Em 1952, quando da morte de Eva Perón, a fada dos “descamisados” argentinos, ele teve relevante papel na cobertura “jornalística” da trágica perda popular, pelo menos a nível local: instalou um rádio (daqueles radjão de madeira, com um grande “olho mágico” verde) numa das janelas da frente de sua casa, a todo volume. De modo que os seabrenses que passavam por ali puderam acompanhar, “ao vivo”, os lances do fascinante velório de repercussão internacional;

Em 1954, quando do suicídio de Getúlio, um outro membro do clã, conhecido como Zeno (Naziozeno José de Oliveira), foi visto pelas ruas da cidade, chorando, secando as lágrimas com um lenço e lastimando: “Um homem tão bom...” (contraditoriamente, porque não eram chegados ao getulismo/trabalhismo).

Seo Adelino se foi aos 81 anos. E o ansiado “general de verrrrgonha”, pelo jeito, ainda não apareceu. Para consolo, resta incensar com o comentário lisonjeiro de um conterrâneo: “Seo Adelino é um homem de sabença” (Na verdade, o elogio foi motivado pela suposta excelência dos nomes que escolheu para os primeiros filhos: Stimson, Jadson, Esthônia e Smitson).

PS 1: Quem merece mesmo uma crônica (de fato, várias) é o chefe político da família, Fabrício d’Oliveira, um genuíno humanista, defensor dos direitos humanos. E um respeitado rábula, com quem tive o privilégio de aprender o sábio preceito jurídico: In dubio pro reo (‘Na dúvida, em favor do réu’, a valiosa presunção da inocência, estuprada pelo lavajatismo).

PS 2: Um pouco antes do período focado, foram destaques na política de Seabra: Tito Luna Freire, primeiro prefeito eleito (1948/1951), pai do nosso cantor/compositor Hugo Luna; e o tenente Silvino Pires (com sua mulher, dona Santinha), juracisista roxo, aliado dos Fabrício.

PS 3: No próximo 2 de maio (um sábado), os descendentes dos Fabrício farão seu segundo encontro de confraternização em Seabra. O primeiro, realizado no ano passado (9/fevereiro), foi um sucesso.

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