Via GGN por Natalia Fingermann
Os setores da direita podem mais uma vez se utilizarem do movimento para inserir suas demandas e desestabilizar o governo. Estava morando em Maputo quando as manifestações de junho de 2013 eclodiram pelas ruas do Brasil. Acompanhei o movimento pelas redes sociais e, por meio dela, comecei a perceber a expansão das manifestações e a mudança na pauta do movimento. No meu timeline, amigos que normalmente ficavam distantes dos temas da política nacional começaram a postar selfies nos atos, com cartazes que iam desde “Fora Dilma” até a “Volta dos militares”.
As consequências de junho de 2013 ainda estão em debate, porém muitos analistas apontam que esse movimento foi chave para o processo de articulação do impeachment-golpe de Dilma Rousseff. Um dos pontos mais importantes para a repercussão de junho de 2013 foi a sua adesão pela classe intelectual. Professores universitários das grandes faculdades públicas do país disseminavam nos grandes veículos de imprensa a importância do movimento, ao mesmo tempo, que auto- fortaleciam a sua adesão difusa. Hoje, a greve das universidades federais tem a adesão dessa mesma classe intelectual, sendo totalmente diferente das greves de 2019 e 2022, liderada principalmente pelo quadro de servidores técnicos. O papel dos professores e a sua aliança com os meios de comunicação é chave para se entender qual é a capacidade da greve em gerar um efeito de spill-over para outras frentes já insatisfeitas com o governo.
Entretanto, é importante lembrar que da mesma forma que o governo depende de uma aliança com direita para governar, a greve de hoje somente acontece nessa proporção pela adesão de grupos de direita de dentro do funcionalismo público.
Desse modo, o risco da pauta da greve ser alterado no meio do percurso é alto, os setores da direita podem mais uma vez se utilizarem do movimento para inserir suas demandas e desestabilizar o governo. Por isso mesmo, é urgente que Lula e seus ministros ajam de maneira rápida e efetiva, de forma a evitar um cenário semelhante aquele que vimos na última gestão petista.
Natalia Fingermann – Professora universitária
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