terça-feira, 16 de abril de 2024

Qual o risco da greve das universidades federais virar outro Junho de 2013?


 
Via GGN por Natalia Fingermann

Os setores da direita podem mais uma vez se utilizarem do movimento para inserir suas demandas e desestabilizar o governo. Estava morando em Maputo quando as manifestações de junho de 2013 eclodiram pelas ruas do Brasil. Acompanhei o movimento pelas redes sociais e, por meio dela, comecei a perceber a expansão das manifestações e a mudança na pauta do movimento. No meu timeline, amigos que normalmente ficavam distantes dos temas da política nacional começaram a postar selfies nos atos, com cartazes que iam desde “Fora Dilma” até a “Volta dos militares”.

As consequências de junho de 2013 ainda estão em debate, porém muitos analistas apontam que esse movimento foi chave para o processo de articulação do impeachment-golpe de Dilma Rousseff. Um dos pontos mais importantes para a repercussão de junho de 2013 foi a sua adesão pela classe intelectual. Professores universitários das grandes faculdades públicas do país disseminavam nos grandes veículos de imprensa a importância do movimento, ao mesmo tempo, que auto- fortaleciam a sua adesão difusa. Hoje, a greve das universidades federais tem a adesão dessa mesma classe intelectual, sendo totalmente diferente das greves de 2019 e 2022, liderada principalmente pelo quadro de servidores técnicos. O papel dos professores e a sua aliança com os meios de comunicação é chave para se entender qual é a capacidade da greve em gerar um efeito de spill-over para outras frentes já insatisfeitas com o governo.

Entretanto, é importante lembrar que da mesma forma que o governo depende de uma aliança com direita para governar, a greve de hoje somente acontece nessa proporção pela adesão de grupos de direita de dentro do funcionalismo público.

Desse modo, o risco da pauta da greve ser alterado no meio do percurso é alto, os setores da direita podem mais uma vez se utilizarem do movimento para inserir suas demandas e desestabilizar o governo.  Por isso mesmo, é urgente que Lula e seus ministros ajam de maneira rápida e efetiva, de forma a evitar um cenário semelhante aquele que vimos na última gestão petista.

Natalia Fingermann – Professora universitária

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