A professora Silvia Letícia, vereadora em Belém e coordenadora licenciada do Sintepp, provocada pelo Ver-o-Fato, comentou sobre os resultados mostrados pelo governador do estado, Helder Barbalho, afirmando que os números “são falseados pela realidade da educação no Pará”. O depoimento de Silvia Letícia.
“A gente fala em relação ao IDEB. que foi apresentado agora, os resultados do IDEB, tirando o Pará da 26ª posição para a 6ª posição. Primeiro que o cálculo do IDEB, que é o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, representa o resultado da aprovação escolar dos alunos no ano anterior e o desempenho dos alunos nos últimos anos do ensino médio e do ensino fundamental. E esse cálculo, ele precisa ser discutido por nós, porque ele não é tão simples.
Ele considera a aprovação apresentada no censo escolar e o quantitativo de alunos, as matrículas, o fluxo. Sobre aprovação há um falseamento da realidade com a aprovação automática dos alunos. O atual secretário de Educação Rosselle Soares e o governador do estado Helder Barbalho alteraram o rendimento escolar nas escolas estaduais para promover os alunos de um ano para outro automaticamente. É o que chamamos de aprovação automática. Significa que não se considera a frequência do aluno, não se considera a sua assiduidade, o seu desempenho nas avaliações, as notas que ele tira nas provas, os trabalhos que desenvolve no processo de aprendizagem, não se considera o que ele aprendeu, o que ele não aprendeu. se considera a matrícula dele, ele se matriculou, ele foi aprovado automaticamente.
Em 2021, em 2022, para 2023, nós estamos muito preocupados com isso, porque mostra uma realidade que é um dos itens do IDEB que não existe, porque o aluno foi aprovado automaticamente. Isso eleva a nível de aprovação dos alunos, que é um dos critérios para o IDEB. O outro é a participação dos alunos na provinha, chamada, organizada pelo Sistema de Avaliação da Educação Básica.
Essas provas são feitas anualmente e são elas que dão resultado do desempenho dos alunos, daqueles que frequentaram, daqueles que estão em sala de aula. Para ter uma boa nota, para participar dessa seleção, tem que ter mais de 80% de alunos fazendo a prova. Então, se organizou a rede, as escolas, para que nós, professores, fizéssemos a formação dos alunos, já preparando esses alunos para essas provas anuais. Então, a nossa função pedagógica, nosso conteúdo, gira em torno da preparação dos alunos para a provinha, para as provinhas. E isso altera a nossa organização escolar, altera o nosso currículo, a nossa forma de ensinar, de aprender e dos alunos de aprenderem. Então isso é uma preocupação.
A outra é que o governador criou um projeto chamado de desempenho dos alunos, reforço escolar. Ele contratou professores de matemática e português para fazer o reforço escolar dos alunos para a prova, preparando eles para fazer a prova. Então, dentro dessa avaliação, dentro desse processo, os alunos são preparados para fazer a provinha do Saeb.
Pagar, sem aprendizagem
E mais: o governo está dando bônus, deu bônus, ofereceu bônus para os alunos, que é o cheque moradia, para o aluno que tiver um bom desempenho no Saeb, nas provinhas, para o aluno que for fazer a provinha, para os alunos que tiverem nota acima de 800 na redação. Enfim, ele vai bonificando, ele vai pagando para que o aluno vá fazer a prova. que é isso que importa pra ele, é o resultado da prova, não é resultado da aprendizagem dele, é da prova, de como ele vai ter o resultado na prova. Isso tudo tem levado a educação a um processo que desqualifica o nosso trabalho, nós professores estamos sobrecarregados, adoecidos, com funções a mais dentro da escola, a escola de tempo integral é uma falácia, um engodo, porque não dá condições do aluno aprender de forma integral, a permanecer na escola.
Ataque a aulas suplementares
Agora ele está atacando o salário dos professores, porque está retirando aulas suplementares de professores que estão readaptados, professores que trabalham com a EJA, Educação de Jovens e Adultos.
Além disso, o que é grave, professores afastados para aposentadoria estão ameaçados de perder aulas suplementares.
Sobre a progressão automática, ela considera os alunos que abandonaram a escola, se matricularam e que não frequentaram, e os alunos que frequentaram mas tiveram um desempenho baixo, tiveram nota vermelha, não fizeram boas avaliações e aí não conseguiram alcançar as notas necessárias para aprovar. Todos esses alunos, os que abandonaram, os que não tiveram boas notas, todos foram aprovados automaticamente. Isso nos preocupa porque baixa, diminui a qualidade da educação pública no estado do Pará. Porque não olha o processo. Por que esse aluno está tendo um baixo rendimento? Qual é o problema que está acontecendo na escola? Nada disso é avaliado. É avaliado só o resultado dele. E aí, para mascarar o resultado, o governo está passando automaticamente. A aprovação automática é a principal resposta a esse problema que nós estamos vendo da propaganda enganosa do governo do Estado”.
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