terça-feira, 16 de dezembro de 2025

Secretário do Pará, construtora com contrato da COP30 e PM que fez saque de R$ 48 mi: veja os alvos da operação da PF envolvendo Antônio Doido


Via O Globo por Eduardo Gonçalves e Sarah Teófilo - A Operação da Polícia Federal que mira o deputado federal Antônio Doido (MDB-PA) também cumpriu mandados de busca e apreensão contra um secretário do governo do Pará, a mulher e um gerente de uma fazenda do parlamentar, e policiais militares acusados de fazer saques de mais de R$ 48 milhões em espécie e atuar em "interesses escusos" do parlamentar, segundo a representação da PF.

De acordo com a decisão do Supremo Tribunal Federal, a organização criminosa "sob comando" de Doido teria desviado recursos públicos de licitações do Pará para financiar campanhas eleitorais de 2024. Naquele ano, o deputado e o irmão dele concorreram à prefeitura de Ananindeua e Ourém, no Pará, respectivamente - os dois saíram derrotados do pleito.

"O grupo investigado, sob o comando do Deputado Federal ANTONIO DOIDO, utiliza diversas empresas para operacionalizar as movimentações financeiras objeto da investigação", diz trecho da decisão do ministro do STF Flávio Dino, citando as conclusões da PF.

"Já foram expostos acima os elementos que indicam de forma veemente a prática de delitos diversos pela organização criminosa investigada, que vão desde crimes eleitorais e crimes licitatórios diversos, como a frustração do caráter competitivo do procedimento licitatório e a fraude em licitação e contrato, até a corrupção e lavagem de dinheiro", diz a representação da PF. Conforme as investigações, o coronel Francisco Galhardo, da PM-PA, recrutava policiais para movimentar altas de quantias de dinheiro oriundos de negócios do parlamentar. Em mensagens interceptadas pelos investigadores, ele fala em "missão banco" e recebe orientações do parlamentar.

Um relatório de inteligência do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) indicou que ele figurou como "sacador" de 15 operações financeiras que somaram mais de R$ 48 milhões em espécie, realizadas entre março de 2023 e outubro de 2024. A PF destacou que desse montante R$ 22 milhões de dinheiro foram retirados na boca do caixa "nas semanas anteriores ao pleito municipal" do ano passado. As duas empresas investigadas no inquérito — a JA Construcons Civil e a JAC Engenharia — foram registradas no nome da mulher do parlamentar e do gerente de uma fazenda do deputado. A Polícia Federal considerou que eles atuavam como "pessoas interpostas" de Doido.

Segundo o inquérito, as duas construtoras possuem mais de R$ 900 milhões em contratos celebrados com o governo do Pará em um período de quatro anos. Em sua decisão, Dino determinou a "suspensão do direito de participar de licitações e firmar contratos com órgãos públicos" das duas construtoras.

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A representação da PF também implicou o secretário estadual de Obras do Pará, Benedito Ruy Cabral (na foto de bigode), que teria atuado como "integrante da organização criminosa" e praticou "graves violações de deveres funcionais mediante o uso de cargo estratégico".

Flávio Dino, no entanto, indeferiu o pedido da PF para afastá-lo do posto público, como também não negou a solicitação para fazer buscas no gabinete de Doido na Câmara dos Deputados. Segundo o ministro, as apurações de "todos os fatos investigados ocorreram no Estado do Pará" e não teriam relação com o mandato parlamentar do deputado do MDB. Em contrapartida, o ministro do STF decretou a quebra dos sigilos telemático e telefônico do deputado federal, da sua esposa, do secretário de obras e dos policiais militares envolvidos nos saques de dinheiro, além dos mandados de busca e apreensão contra eles no Pará e em Brasília.

Na representação da PF, os investigadores afirmaram que a JA Construcons, que tem a mulher de Doido como "sócia administradora", integrou um consórcio "responsável por obras ligadas à COP30" - evento sediado em Belém, que foi organizado pela ONU e o governo brasileiro para discutir ações contra as mudanças climáticas.

O caso estava tramitando no âmbito da Justiça Eleitoral do Pará, mas foi remetido ao Supremo por envolver o parlamentar, que tem foro privilegiado. A investigação teve início a partir da prisão em flagrante do gerente da fazenda do deputado e dois policiais militares que transportavam 5 milhões em espécie, em outubro de 2024. Eles foram detidos sob suspeita de fazerem parte de um esquema de compra de votos e depois foram liberados.

Em nota, a Secretaria de Estado de Obras Públicas do Pará informou que "todas as contratações estaduais seguem rigorosamente o devido processo licitatório, em estrita observância aos princípios constitucionais da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e economicidade, bem como às regras e condições estabelecidas nos respectivos editais divulgados no Portal Nacional de Contratações Públicas".

Conforme as investigações, o coronel Francisco Galhardo, da PM-PA, recrutava policiais para movimentar altas de quantias de dinheiro oriundos de negócios do parlamentar. Em mensagens interceptadas pelos investigadores, ele fala em "missão banco" e recebe orientações do parlamentar.

Um relatório de inteligência do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) indicou que ele figurou como "sacador" de 15 operações financeiras que somaram mais de R$ 48 milhões em espécie, realizadas entre março de 2023 e outubro de 2024. A PF destacou que desse montante R$ 22 milhões de dinheiro foram retirados na boca do caixa "nas semanas anteriores ao pleito municipal" do ano passado. "Todos os pagamentos às empresas contratadas são processados exclusivamente por meio de procedimentos administrativos formais, com base em boletins de medição atestados pela fiscalização da Secretaria de Obras", diz o texto.

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