domingo, 30 de agosto de 2009

A ESQUERDA NO PARÁ, MEMÓRIAS- 2ª parte


Alacid Nunes, governador paraense nomeado pela segunda vez, em meio às disputas ocultas no meio militar.
O número 3 fazia uma acusação de corrupção ao ex-governador e senador pelo Pará Aloysio Chaves. E na quarta edição os temas eram “Corrupção no cais” e “Grilagem no Maranhão”. Antes que a quinta edição deixasse a gráfica, todos os exemplares foram apreendidos pela Polícia Federal, sem mandado judicial. Isso foi em agosto de 1978. O chefe da oficina gráfica foi detido e levado para prestar depoimento. E o jornalista Luiz Maklouf Carvalho (foto3) , editor do jornal, foi chamado a depor e enquadrado na famigerada Lei de Segurança Nacional (LSN).
A fúria dos censores foi a matéria de capa da edição, que tratava do depoimento de quatro ex-presos políticos, ao contarem as torturas que sofreram nas dependências dos órgãos da repressão militar. “Fomos torturados no Ministério do Exército”, era a manchete. Os quatro eram Hecilda Veiga, socióloga; Humberto Cunha (foto2), agrônomo; Paulo Fonteles (foto1), advogado; e Isabel Tavares, historiadora. Casados, Paulo e Hecilda foram presos quando estudantes, em Brasília, onde foram torturados dentro de uma unidade do Exército Brasileiro.
Humberto e Isabel também eram casados. Humberto foi vítima do famigerado Decreto 477, que legitimava a expulsão de estudantes, que figuravam na lista negra da ditadura. Os quatro atuaram como militantes de organizações clandestinas e eram membros do PC do B na época do processo contra o Resistência. Mas, estavam legalmente filiados ao MDB, o partido de oposição, consentido pelo regime.
Após a apreensão do jornal e abertura de processo que tramitou na Auditoria Militar de Belém contra várias pessoas que constavam no expediente do jornal, a notícia ganhou dimensão nacional e o caso foi relatado em vários jornais da chamada imprensa alternativa e também nos diversos fóruns de discussão da luta pela redemocratização. Meses depois a denúncia contra Maklouf e seus companheiros não foi aceita pelo Ministério Público Militar e o processo foi arquivado.
[1] Desde 1983 Maklouf vive em São Paulo, onde trabalhou no Jornal da Tarde, Jornal do Brasil, O Estado de São Paulo, e é autor de diversos livros, entre eles, “Contido a bala”, sobre o assassinato de Paulo Fonteles, e Cobras Criadas – David Nasser e o Cruzeiro

Texto:Tempos de Resistência Paulo Roberto Ferreira, jornalista, Belém, Pará

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