terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Debate: O PT e a derrota eleitoral*


Ocaso e Fênix (II)


Perseverar na possível mudança: do local ao global








Fernando Arthur de Freitas Neves

Tal é o problema, se alguém desconfiava que não pudéssemos alcançar uma vitória expressiva no segundo turno nas eleições ao Governo do Estado do Pará em 2006 enganou-se (eu fui um). Ganhamos! Mas continuávamos em oposição à concentração de riqueza, à falta de democracia, à impunidade, à miséria, à perda de identidade dissolvida pelo modelo capitalista depredador do bioma amazônico. Porém já que o PT havia conquistado o governo devia operar uma inflexão de grande monta para alterar a gestão das políticas empregadas pelos adversários das classes subalternas quando favoreciam a noção de estado mínimo. Estado sem poder de intervenção não é estado, se alguém dúvida basta observar o presidente Obama ao forçar a compreensão do mundo, particularmente de americanos, quanto ao Irã como o protagonista das Armas Nucleares, enquanto naturaliza o fato de ser EUA o país com maior concentração deste poder de morte.

A sociedade precisa da capacidade do estado para inverter a prioridade do lucro pelo gozo social. Ora veja, isso não é retórica, mas fruto de uma experiência, senão anticapitalista e antiimperialista, ao menos sedimenta a perspectiva de OUTRO MUNDO É POSSIVEL, como testificado nos programas de renda mínima espalhados no mundo tendo como exemplo o Banco do Povo de Bangladesh, o Bolsa Família no Brasil, o Bolsa Trabalho no Pará. Essa iniciativa governamental recusa a marginalização de parte expressiva da pobreza do mercado de consumo elementar conferindo com esta intervenção a pontencialização do mercado interno numa rede representativa de absorção da produção de alimentos até uma indústria de bens de consumo duráveis em acordo com a financeirização e a indústria de bens capitalistas no conjunto da cadeia produtiva.

Muitas ações parecem requerer o caráter de chofre, contudo as mudanças processuais parecem imprimir uma condição mais permanente quando colocadas em perspectiva, o aumento salarial para os professores das universidades federais escalonado em três anos subseqüentes ilustra como é possível criar uma esfera de confiança na promoção das negociações complexas. Em 2007 o governo de Ana Júlia não enfrentou nenhuma crise relevante, na verdade parecia estarmos todos satisfeitos, caso discordem ofereçam as fontes, mas não vale o caso Guedes, isso será para outro instante; retornando, a questão do aumento dos professores da rede estadual em torno dos 10% serviu para neutralizar a onda grevista anunciada, contudo, a crise econômica já assinalava seus efeitos (os dólares da pauta de exportação mineral já em tendência de queda) obrigando o governo a recuar nas negociações seguintes, isto representava o sincero desejo do governo de cumprir sua pauta de recomposição salarial, no entanto faltou habilidade para um amento menor a ser firmado numa pauta de fôlego como fez o governo federal livrando-se da pressão paredista; sem ter como responder aos reclamos sindicais, foi objeto de greves aterradoras, diminuindo a confiança da população em gerar respostas à altura do desafio.

O horizonte de um segundo mandato em 2010 deveria plantar esta metodologia em acordo com a capacidade de arrecadação do estado procurando extrair um compromisso de metas de desenvolvimento social, econômico e ecológico. A sociedade deve estar à altura do drama de estabelecer prioridades, dialogando com as diferentes representações de empresários e trabalhadores, bem como à incorporação das demandas políticas regionais e setoriais. O território do Pará abriga atualmente a ponta-de-lança da expansão da fronteira na Amazônia criando dificuldades enormes devido à fragilidade institucional para confrontar a grilagem, depredação da natureza e a exploração do mundo do trabalho. Sem a possibilidade de consensos rápidos a postura de vítima pode legitimar o algoz, pois os recursos simbólicos e matérias estão a favor desse último. Atualizar a participação popular é a substancia para constituição de um ambiente a privilegiar o diverso no mosaico da cena política quando novos atores entram em cena, não em cana. Senão vejamos: a composição de pastas vinculadas à questão rural por próceres do setor deixa um vácuo para a agricultura familiar, afinal se quisermos diminuir alguns problemas urbanos devemos viabilizar demandas de pequenos produtores.

A construção da usina hidrelétrica de Belo Monte mobilizou e ainda continuará a mobilizar campos opostos sobre a pertinência ou não da mesma; nosso governo se portou tímido neste instante, o pronunciamento público era pela realização da obra, no entanto não criou uma esfera de debate sobre o que virá depois (hidrelétricas do Tapajós? as quais sou contra); em suma não pudemos arrancar nenhum dividendo eleitoral sobre as compensações pelo impacto; antes parecia, e ainda parece que os do lugar seriam barbaramente atingidos sem terem resguardados o devido ressarcimento material e espiritual. Em 2014 devemos nos inspirar neste acontecimento e aproveitar a empolgação da discussão para assentarmos as marcas de governo que sejam capazes de ativar a mobilização popular para que ela desperte para a possibilidade dela fazer sua libertação através de instrumentos que ela própria forje no contexto de dirigir politicamente as ações do PT e seus aliados no aparelho de estado, bem como no sentido amplo de auto-organização publica não estatal. Ao ver com quanta elasticidade os aliados de outrora se embalaram na rede dos açaizais tucanos fico um pouco decepcionado.

Algumas políticas de governo precisam ser convertidas em política de estado. Nesta situação, as inversões em Ciência, Tecnologia e Inovação e educação não podem ter o tratamento secundário dispensado pela inteligência tucana. O governo de Ana Júlia salientou um compromisso maior com a primeira, com a segunda não houve solução inovadora, o aumento salarial para os professores no primeiro ano não foi acompanhado nos mesmos termos gerando um desgaste saliente na imagem do governo e de suas prioridades. O desenvolvimento da Amazônia precisa romper a dinâmica de concentração de riqueza pela absorção de uma sólida educação básica capaz ativar as dinâmicas econômicas de empreendedorismo solidário, do cooperativismo e porque não da dinâmica capitalista; mas no Tempo de revolução vivenciado por nós é imperativo o acumulo de conhecimentos da educação básica, novos processos gerenciais, tecnologia de informação e profunda democracia.

Essa postura implica na elaboração de uma interpretação política arrojada da democracia que sobressaia da apatia do discurso e pratica consigo mesmo. A convocação da sociedade para uma disputa sobre o programa de governo vitorioso deve ser um instrumento de conquista desse campo democrático que, gostaríamos popular, envolva a todos na operação de se apropriarem do estado através da real democratização das estruturas de governo a começar pela discussão do orçamento. Esse é o limite por nós não superado, agora em 2011 que não termos governo restou apenas à democracia representativa para discutir o orçamento, não há democracia direta capaz de tensionar o governo tucano. Não devemos ter a pretensão de fazer profundas alterações de caráter de propaganda ao estilo já bem desacreditado dos marketeiros de plantão, mas sim estabelecer uma relação explicita de prioridade sobre os entraves cabais evidenciados na própria campanha eleitoral, desta forma, nos certames vindouros deveríamos considerar educação, saúde e segurança. Alguém viu alguma coisa fora desse script entre os tucanos? Sem nenhum pejo, fizeram isso com maestria, o debate sobre desenvolvimento não alcançou jamais a questão central para sua eleição. Curiosamente as políticas em curso no governo Ana Júlia não foram escudo e aríete para barrar a vitória da oposição.

O atendimento financeiro as demandas destes setores não abrangerão a totalidade de suas profundas necessidades; contudo, devemos sinalizar claramente que iremos assentar nossa opção no investimento em pessoal humano para induzir a construção de um novo ethos no serviço publico, procurando valorizar as iniciativas de gestão, diagnóstico e prognóstico, composição de projetos e metas, sempre na expectativa de podermos colocar em avaliação essas ações (avaliação externa, controle social).

A conquista de tal intento deve ser buscada à exaustão pelo principal partido, O PT, e na medida do possível no envolvimento dos aliados na consecução de seus objetivos primeiros que devem ser a disseminação em cada sujeito da sua perspectiva no fazer político em tela; para tanto, a democracia não pode ser simplesmente um discurso, ou uma desculpa para inação, ela deve ser convertida em fórum, a exemplo da tradição republicana, aonde a causa pública enfrenta a mesquinharia, os grupos de interesse, as veleidades e até as aleivosias. Às vezes seremos derrotados. Mas não temos outro instrumento mais representativo e capaz de agregar tanto valor simbólico como a idéia de trazer à luz lavadeiras (homenagem a elas e a Lênin que pensou nelas quando formula sobre o estado operário), flanelinhas, lixeiros, domésticas, motoristas de ônibus, prostitutas, vigilantes, sem teto, recicladores e até os chatos dos professores, médicos, advogados, engenheiros e como não conseguimos nos livrar deles, os pedagogos também; sem esquecer é claro dos empresários e todos aqueles que até então se orgulham de não fazer parte do mundo do trabalho devem ser junto conosco desafiados a experimentarem uma democracia direta como par da democracia representativa.

*Título do Blog

Os textos sobre esse tema devem ser enviados ao conselho editorial do blog com fotos do autor em JPEG.

12 comentários:

Anônimo disse...

A nossa juventude deseja um discurso menos prolixo,menos anos 80.Chega de ressaltitar falacias.Precisamos de ações novas,NOS SOMOS O AMANHÃ! sem medo de recomeçar de novo!. VIVA A JUVENTUDE SOCIALISTA! VIVA O PT!!!

Allana Brito Marques, Marabá - Pará

Anônimo disse...

O Nosso vice reitor, aponta alguns fatores da derrota, mas não pega o X da questão. O governo da DS não conseguiu achar seu rumo. governar não é fazer Laboratório como foi o gov. Ana Júlia. e ver que de que lado fica escolheu muito tarde aos 45 do segundo tempo ai já perdia de goleada, Gov. Ana Júlia entrou no erro de querer ser o Gov. de todos, ai meu velho, foi o governo de ninguém.

Carlos Santa Cruz.

Anônimo disse...

A questão é, o que implantou o governo Petista, iremos conseguir se contrapor as mentiras e falácias do governo tucano, ou o PT do Pará vai se autodestruir, a avaliação do prof. Fernando Artur está em um bom nível, fico preocupada coma lgumas avaliações que estão aparecendo por ai, militantes que não tiveram espaço e esquemas contemplados no Gov. Ana Júlia estão querendo desabafar via esse espaço democrático que é a Redes Socias, sendo que alguns querem jogar M.. no ventilador. Seria bom o pessoal desse Blog, ter critérios para esse debate, censura não! Mas, não cair no olho do furação que alguns querem criar.
abcs.

Rosalva Marques filiada ao PT de Belém

Luis Cavalcante disse...

Inclui este blog no Link de Política do Diário de Um Educador.

http://professorcavalcante.wordpress.com

Professor Luis Cavalcante

Ananindeuadebates disse...

Obrigado professor Luís Cavalcante, em breve estaremos linkando o seu blog no Ananindeuadebates.

Na Ilharga disse...

Por mais que me esforce pra entender de outro modo, minhas limitações não deixam e sempre acabo na mesma conclusão. O resumo da Ópera do prof.Fernando Artur é que o governo Ana Júlia foi vítima da armadilha chacriniana.
Claro que o se "trombicar" tem um sentido pragmático determinado pelo resultado adverso da eleição, o que até pode ser debatido de outra forma na medida em que seu legado, no mínimo, vem abalando as convicções neoliberais dos novos governantes de plantão.
O calote legal contra servidores do fisco, dos trabalhadores da educação pública e do Detran comprovam que Simão e sua troupe morrem no meio da lagoa, mas jamais vão deixar de ferrar o sapo que lhes dá carona na travessia, ainda que saibam ser o naufrágio de todos a consequência. Mesmo que o maciço apoio midiático e o enfrentamento com um governo que vivia um prolongado momento de confusão das línguas, tivesse faciitado "vender" que dizia e fazia, pois nunca foi mostrada a entranha desse fazer, caso contrário o dizer seria outro.
Nesse sentido, parece indiscutível que o não comunicar foi determinante para o se trombicar, porém isso esgota apenas um aspecto do problema e não o central.
Um governo que inaugura uma nova forma de traçar suas diretrizes, que dialoga com todas as regiões de integração do estado, que tem a coragem de lançar um olhar republicano pro nosso grave quadro fundiário não tinha o direito de ser tão pueril no diálogo com os setores tradicionais da estrutura de poder político e econômico. De colocar-se, por livre e espontânea vontade, refém da Assembléia Legislativa ao estabelecer que seu limite de influência não chegava a metade da composição da Casa. Quando havia algo de maior interesse ia-se então para a negociação episódica, sempre muito mais desgastante porque interminável.
Quando o caldo entornou de vez, presenciamos a patética batalha travada em torno de algo que nos demais estados foi decidido pacificamente, posto que era uma ação compensatória do governo federal, e aqui foi motivo de desgaste inútil porque nesse momento o governo já estava sitiado pelos aliados que, inusitadamente, quanto mais cresciam mais deixavam isolado o governo.
Tanto que em tempo recorde o atual governo compôs maioria folgada, dando-se até o luxo de dispensar alguns "aliados", pois na barca já não cabia mais ninguém. Na verdade, o caminho já havia sido pavimentado bem antes, facilitado pela falta de norte dado não só à campanha, mas de resto às demais tratativas políticas.
Assim, não havia militância aguerrida, não havia leque de alianças, não havia comunicação e não havia nada a ser feito em outras áreas porque o estrago já havia sido feito. Por uma política de alianças que não reconhecia aliados, não identificava adversários e abandonou à própria sorte o seu trunfo mais caro: a mobilização popular que fez a ruptura com o ancièn regime tucano. E desgraçadamente o trouxe de volta mercê da despolitização do ato de governar.

JAIR PENA disse...

Até que concordo com nosso amigo Ilharga em alguns aspectos.Mas tem alguns aspectos omissos em sua avaliação, o tipo de aliança que se estabeleceu pra governar que foi copiado do governo Lula. Só que o Gov Federal tem uma caneta bem mais pesada na hora de enquadrar os "aliados" de direita.O governo não tinha como dar certo pois a Saúde na mão do PMDB que aqui se chama Jader, uma Anatel na mão do Vlad. O governo nunca pisaria em um campo que não fosse minado. E quem enterrava as bombas? O gov de Ana parece que nunca chegou a ter controle interno nem pra saber quanto cada "aliado" estava levando.Para um governo de esquerda, passou bem distante.Aquele velho ditado é sempre bom lembrar "quem se mistura com porco farelo come". Nada contra os porcos pois adoro a carne deles e que alimentam os hermanos de Cuba.

Na Ilharga disse...

Boa meu caro Jair. Você deu nome aos porcos, ops... aos bois. Assino em baixo de todo o seu texto

Anônimo disse...

Parabens, meu caro Fernando Arthur "Lobinho", a sua análise trouxe um pouco de sensatez a um debate que precisa ser feito tanto internamente, como externamente com a sociedade, pois é preciso que se avançe além da pecha de governo incompetente, desarticulado e sobretudo, sem comando e sem direção.
Até porque, do ponto de vista interno todas as tendências que participaram do governo deveriam refletir sobre o papel delas no governo e como que elas contribuíram, de alguma forma, para o insucesso do governo e eleitoral.
Entendo que mesmo sendo a DS, a principal tendência, responsável maior pelo governo, e portanto, é natural que caia sobre ela as críticas de condução equivocada do governo, da inabilidade política no debate e no diálogo com as outras forças e partidos da base e ainda, de uma arrogância visível de seus principais quadros, ou seja, sua "intelegentísia", o núcleo duro. Entretanto, o que dizer das demais forças internas do partido, ou preferiram deixar a banda passar, ou simplesmente lotearam o governo apenas para usufruir do poder e etc., achando que não teriam o mesmo ônus do insucesso, afinal não eram eles que tinham o poder da "caneta".
Digo isso, porque me parece lógico que, daqui a pouco, começe as discussões eleitorais para 2012 e 2014 sem que se faça um balanço do governo, seus acertos, seus erros e, sobretudo o seu legado para o partido. Não podemos concordar que essa derrota seja somente da DS, ela é a derrota de todo o partido aqui no estado do Pará e, mais ela pode significar um longo período fora do poder (quem sabe essa década inteira), pode significar, também, uma maior flexibilização ideológica de nosso partido no Pará, consolidando uma degradação ideológica já evidente.
Não podemos deixar de considerar que nossas principais lideranças estão sem "substância", o Paulo Rocha, está cassado como ficha suja e a Ana Julia em que pese um capital eleitoral significativo, também cairá sobre ela a falta de comando, a inaptência e inabilidade política, além da incapacidade administrativa, ou seja, nós precisamos discutir toda essa trajetória do pt no Pará para tirarmos lição e organizarmos o presente, as lutas e os próximos embates para que possamos, ainda, projetar o futuro.
Não dá para o partido se furtar dessa tarefa, tem que assumir para si... é espinhosa, é difícil como sempre foi na história desse partido aqui em nosso estado. O que não pode acontecer é a bancada estadual ou um ou outro de seus deputados assumir esse papel, talvez com claro objetivo de se colocar como um possível nome. Essa não é tarefa de ninguém da bancada estadual e muito menos da bancada federal. Embora entenda, que eles terão papel destacado nesse processo, estou convencido que essa tarefa é do diretório estadual do PT-PA.
Concluo meu comentário, sem ter a pretensão de esgotar o tema, dizendo que, precisamos acumular sobre nosso estado, suas dimensões, os problemas de acessibilidade, suas regiões, mesoregiões, a discussão de divisão do estado (o pior cenário é o partido não ter posição sobre esse tema, o que faz com que nossos deputados federais defendam as duas posições a depender do público e de seus interesses), as políticas públicas federais, estaduais e municipais, a democracia direta, orçamento público, controle social. E o papel de nosso partido, nossos parlamentares na discussão, na implementação das políticas federais no Pará e na defesa do governo Dilma.
UM ABRAÇO E VAMOS A LUTA COMPANHEIROS!!!

Marlon George disse...

Ops!Até que enfim Jorge você foi coerente.

Na Ilharga disse...

Agora só falta você ser, meu caro Marlon.

Anônimo disse...

Agora é muito fácil culpar a DS pela derrota eleitoral do PT. Todos os grupos políticos mamaram na teta do governo da Ana Júlia. Todos, inclusive os críticos mais ácidos. Não tiveram altivez pra se contrapor ao modelo operado pela DS. Quando reclamavam ganhavam mais uns DAS de cala boca e iam pra casa todos celerepes.