terça-feira, 5 de abril de 2011

Deu no Jornal O Globo: Atnágoras Lopes, DO CANTEIRO DE OBRAS PARA REUNIÃO NO PLANALTO


Membro da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas Atnágoras Lopes morou muitos anos em Ananindeua-PA Conjunto Cidade Nova. Atualmente mora em São Paulo, foi destaque da reportagem que ocupou praticamente toda página 43 do Caderno de Economia do Jornal O Globo de Domingo 03/04, fala sobre as greves nos canteiros de obras. Acesse aqui o link e veja e leia a reportagem.

Cássia Almeida Jornalista do Globo

Atnágoras Lopes, com esse nome de origem grega, o sindicalista nascido no berço da construção civil do Pará, pela primeira vez foi convidado a participar de uma reunião no Palácio do Planalto. De todas as outras vezes, esteve do lado de fora, protestando. Semana passada, ao completar 39 anos, participou da reunião das sete centrais sindicais com o governo e empresários. Não recebeu os parabéns de praxe e levou horas discutindo a sucessão de rebeliões e greves que pipocaram em todo o país, paralisando as principais obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a menina dos olhos do governo federal.

Atnágoras está na luta sindical desde 1997, mas seu nome apareceu com mais força agora como um dos representantes da Central Sindical Popular Conlutas, que ainda não conseguiu o selo oficial do governo por não ter alcançado a representatividade mínima, mas foi convidada a participar das reuniões tripartites comandadas pelo secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. A justificativa? Ter nos sindicatos de sua base trabalhadores das áreas conflagradas.

— Estive lá muitas vezes para protestar contra a omissão do governo. Nossa central não tem nenhum comprometimento político com o governo. Fomos oposição ao governo Lula e somos ao governo Dilma. Defendemos a completa independência — diz o sindicalista, alfinetando a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e Força Sindical.



E completa:

— Depois de um grande processo no qual o movimento sindical mudou de mala e bagagem para o lado do governo.

Vale-transporte para a campanha

A Conlutas nasceu de um racha da CUT, entidade que tem a maior representatividade trabalhista no país, com 2.029 sindicatos filiados contra 69 da Conlutas, segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego. A cisão surgiu com a reforma da previdência ainda no início do governo Lula.


— Somos pelo fim do imposto sindical.

José Silvestre, coordenador de Relações Sindicais do Dieese, considera Atnágoras um dirigente preparado e que começa a ter presença nacional após ter vindo do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Belém do Pará para a Conlutas em São Paulo:

— Ele não surgiu agora. Está mais conhecido neste momento por ser oriundo da construção civil.

Se, no entanto, ele vai se firmar como uma liderança nacional ainda é cedo para dizer, na opinião de Silvestre, que acompanha de perto as negociações coletivas no país.

— Vai depender se os trabalhadores vão identificá-lo como uma liderança. Isso pode acontecer ou não.

Filiado ao PSTU, Atnágoras foi candidato ao governo do Pará nas últimas eleições. Buscava contribuições nos canteiros de Belém. Uns davam R$2, e quem não tinha, conta o sindicalista, podia contribuir com vale-transporte:

— Arrecadamos R$11 mil e tivemos 10.955 votos, 1% na Região Metropolitana de Belém e menos de 0,5% no total do estado. Não podia pegar dinheiro de patrão.


Ele não vê problemas da ligação da central com o PSTU, que, inclusive, nega haver.

— Queremos que os trabalhadores tenham atuação política. Mas não é uma central dominada pelo PSTU. Menos da metade é do partido.

Luiz Queiroz, secretário de Políticas Sociais da Confederação Nacional dos Sindicatos da Construção e Madeira da CUT, trabalhou com Atnágoras quando ainda era da CUT. Considera o sindicalista um quadro preparado, mas alerta para o discurso fácil:

— É um companheiro de luta. Mas fazer um discurso é fácil, começar greve também. O difícil é terminar bem a greve. Reivindicar 30% de aumento, com a inflação em 5,63%...

CUT evita falar em novos nomes

O presidente da CUT, Artur Henrique, diz que a central evita estimular a personificação:

— Queremos fortalecer as negociações. Personificar não é nossa tradição. Temos cursos de formação de dirigentes. Há novas lideranças surgindo na indústria naval, na construção civil. Não vou falar de nomes.

João Guilherme Vargas Neto, consultor sindical, atualmente trabalhando com a Força Sindical, não vê lideranças novas surgindo por causa do movimento grevista em massa na construção pesada do país. Nem mesmo Atnágoras. Para ele, as lideranças ainda se formam no meio metalúrgico. E lembra 1978, com Lula, como o último movimento que fez emergir uma liderança sindical de presença em todo o país.

— Não confundo espuma com movimentos tectônicos. Não mudou a configuração da representação — diz Vargas Neto.

O especialista, porém, vê com bons olhos a participação da Conlutas na mesa de negociação. Para ele, foi um avanço a central superar “a fase de agitação, que sozinha não constrói nada”:

— Eles ajudaram na reunião. Não foram desagregadores.

Vamos ver por quanto tempo essa trégua continua:

— Tivemos consenso na primeira reunião, na forma de contratação (via o Sistema Nacional de Emprego do Ministério do Trabalho). Mas não podemos afirmar que haverá consenso sempre com as outras centrais. Nossa ideia é contribuir ao máximo. Se der problemas, vamos para o debate interno — diz o dirigente da Conlutas.

Para Atnágoras, é preciso uma atuação mais eficaz do sindicalismo:

— E o projeto da Conlutas é ser uma alternativa. Hoje, faz-se greve para fazer a empresa cumprir a lei. É muita desgraceira nessas obras.

Com ensino médio, Atnágoras recebe R$1.655 do sindicato de Belém e ajuda de custo para aluguel, transporte e alimentação da Conlutas para viver em São Paulo. Se Atnágoras se firmar, a tradição de lideranças nacionais no sindicalismo vindos do funcionalismo, dos petroleiros, dos bancários e dos metalúrgicos pode ser quebrada.

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