Via blog Evidentemente de Jadson Oliveira
Muito dinheiro público nisso aí (Foto: DCM) |
Rever a publicidade oficial e os empréstimos (doações) de bancos públicos deveria ter sido prioridade no governo PT. Em nome da decência, da transparência e, por que não, até de um capitalismo moderno.
Por Paulo Nogueira, no blog DCM – Diário do Centro do Mundo, de 12/01/2016
Mino Carta escreveu, em seu editorial na última edição da Carta Capital, que o governo deveria tratar a mídia como um partido de oposição.
O mesmo ponto fora defendido, dias antes, pelo escritor Emir Sader.
Não sei exatamente o que isto significaria na vida prática. Um corte substancial no bilionário Mensalão da publicidade oficial posta nas grandes empresas jornalísticas, provavelmente.
Um olhar mais rigoroso para empréstimos a juros maternos do BNDES para essas mesmas companhias, também.
Considere.
Em 2011, o BNDES liberou um empréstimo de pouco menos de 30 milhões de reais para que a Abril reformasse sua TI no departamento de Assinaturas.
Faz sentido?
Quando se lê, hoje, que os Civitas despejaram 450 milhões de reais na Abril para mantê-la de pé fica claro que não.
A família tinha e tem recursos para não recorrer ao dinheiro público de um banco mantido pelos contribuintes.
Isso foi no governo Dilma.
Na era FHC, o BNDES financiou a nova – e pateticamente inútil – gráfica da Globo. (A Globo não enxergou a internet).
De novo: fazia sentido?
Veja a riqueza pessoal dos Marinhos para chegar a uma rápida resposta. Não, não e ainda não.
Um parêntese. Em editoriais vigorosos, jornais e revistas reclamam sempre cortes de gastos do governo. Alguém já viu um único editorial condenando as despesas bilionárias com propaganda?
O mesmo vale para o BNDES. São denunciados com frequência brutal empréstimos que teriam propósitos mais políticos do que qualquer outra coisa.
Mas e os empréstimos para empresas de jornalismo cujos donos estão entre as pessoas mais ricas do país? Por que eles não investem seu próprio dinheiro em novos empreendimentos?
Isto é capitalismo: arriscar. A Globo apostou obtusamente no aumento das circulações quando a internet já se avizinhava. Mas quem pagou o preço do erro não foi a empresa. Fomos nós, o povo.
É coisa do Brasil.
Cerca de 25 anos atrás, Murdoch enxergou uma oportunidade da tevê por satélite. Era um investimento altíssimo, e ele teve que recorrer a empréstimos – mas de bancos particulares.
Quase quebrou, porque foi uma aposta fora de hora. Para que sua companhia não entrasse em colapso, Murdoch foi obrigado, sob pressão dos credores, a se associar a um rival na tevê por satélites. Só há pouco tempo, muitos anos depois, ele teve recursos suficientes para comprar a parte que teve que vender.
A isso se dá o nome de capitalismo. De verdade. Não o capitalismo de araque que existe no Brasil e do qual desfrutam, esplendidamente, as empresas de jornalismo.
Eu acrescentaria o seguinte: rever a publicidade oficial e os empréstimos (doações) de bancos públicos deveria ter sido prioridade no governo PT. Em nome da decência, da transparência e, por que não, até de um capitalismo moderno.
Meu ponto é: o governo não precisa tratar a imprensa como um partido de oposição, embora ela se comporte como tal.
Basta tratá-la sem os privilégios vergonhosos, sem as mamatas abjetas que parece impossível derrubar.
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