segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

VOCÊ NÃO CONFIA NOS POLÍTICOS? E NOS JORNALISTAS?


Ignacio Ramonet (Foto: Internet)
Por falar em corrupção, alguém já disse (Aparício Torelly, o nosso brilhante Barão de Itararé) que “uma negociata é todo bom negócio para o qual não fomos convidados”. Podemos agregar que a nossa sociedade foi induzida a condenar severamente a corrupção... dos outros.

Por Jadson Oliveira (jornalista/blogueiro) – reproduzido do site Dia e Noite no Ar, de 12/01/2016

Os monopólios da imprensa hegemônica – Rede Globo & Cia – convenceram a maioria dos brasileiros e das brasileiras que os políticos, particularmente os petistas, são corruptos. Do mesmo jeito que impuseram a mentira de que o governo de João Goulart, o popular e querido Jango, era “incompetente e corrupto”. É o caso da interrogação exclamativa: “Só nós!?”

E os jornalistas? e os empresários? e os banqueiros? e os juízes? e os advogados? e os promotores? e os policiais? e os padres e pastores? e os artistas (no sentido literal e figurado)? “Só nós!?”

Um cínico realista e sábio poderia observar que o articulista que vos fala começou bem. É isso mesmo, a corrupção grassa em tudo que é canto e recanto e cubículo deste amado e odiado país, pelo menos onde se mexe com dinheiro. E onde, pelo amor de Deus, não se mexe com dinheiro?

Alguém já disse (Aparício Torelly, o nosso brilhante Barão de Itararé) que “uma negociata é todo bom negócio para o qual não fomos convidados”.

Continuando na senda do cinismo, podemos agregar que a nossa sociedade foi induzida – relevo aí para nossa mídia “gorda”, adjetivação do saudoso Mylton Severiano/Myltainho – a condenar severamente a corrupção dos outros, dos nossos inimigos, dos nossos adversários políticos.

Me diga que meios de comunicação você consome e direi em que você se transformou  (De
www.miguelrep.com.ar / www.miguelrep.blogspot.com - Página/12, de 23/09/15) - (Clique na imagem para ver maior)
A nossa não: a nossa, a dos nossos amigos, a dos nossos parceiros não pode ser condenada, mesmo porque nem chega a ser catalogada como ato de corrupção e, claro, não é alçada ao “glorioso” espaço das manchetes televisivas e dos jornalões. É o caso, por exemplo, da Operação Lava Jato, cujo êxito inegável está assentado na repercussão através da imprensa, essencialmente seletiva e partidarizada – e visceralmente corrupta.

Sinuca de bico

Confesso que entrei numa sinuca de bico. O conteúdo básico deste meu artigo seria fazer uma curta lista de políticos brasileiros nos quais confio inteiramente. Comecei a escrever e o “nariz de cera” (na gíria jornalística a abertura dum texto) aí de cima foi crescendo, crescendo e me perdi, perdi o foco.

Já li o nosso grande Jorge Amado explicando que o ato de escrever tem uma boa dose de autonomia. Ele dizia que criava um personagem e às vezes o personagem se enveredava por caminhos que ele não tinha imaginado, como uma criatura que não obedece as rédeas do criador.

Então, tenho que forçar um “final feliz” (o conteúdo pretendido e preterido fica para outro dia): seguindo o rastro do que vinha dizendo, acrescento que as forças políticas do movimento popular, democrático e de esquerda no Brasil estão pagando um altíssimo preço por terem que enfrentar uma mídia enviesada, totalmente comprometida com os interesses oligárquicos.

E os governos considerados progressistas de Lula e Dilma também, embora só com muita boa vontade – da parte de nós, esquerdistas e/ou centro-esquerdistas – possam ser vistos como populares e de esquerda.

Quando estive uma temporada no Equador, no primeiro semestre do ano passado, traduzi uma longa entrevista do jornalista e acadêmico Ignacio Ramonet, diretor da edição em espanhol do Le Monde Diplomatique, concedida ao jornal equatoriano El Telégrafo. Dividi em quatro partes e as publiquei no meu Blog Evidentemente. Ele falou longamente sobre as mudanças na mídia e seu papel como protagonista fundamental na política, em especial na América Latina.


Pois bem: ao ser abordada a situação do Brasil, seu primeiro comentário foi que o governo brasileiro passava por momentos difíceis porque as gestões do PT não puderam ou não quiserem construir uma potente rede de meios de comunicação alternativos e comunitários. Ou seja, uma rede de mídia contra-hegemônica, capaz de fazer o contra-ponto aos monopólios da mídia dominante.

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