Ignacio Ramonet (Foto: Internet) |
Por falar em corrupção, alguém já disse (Aparício Torelly, o nosso
brilhante Barão de Itararé) que “uma negociata é todo bom negócio para o qual
não fomos convidados”. Podemos agregar que a nossa sociedade foi induzida a
condenar severamente a corrupção... dos outros.
Por Jadson Oliveira (jornalista/blogueiro)
– reproduzido do site Dia e Noite no Ar,
de 12/01/2016
Os monopólios da imprensa hegemônica – Rede Globo
& Cia – convenceram a maioria dos brasileiros e das brasileiras que os
políticos, particularmente os petistas, são corruptos. Do mesmo jeito que
impuseram a mentira de que o governo de João Goulart, o popular e querido
Jango, era “incompetente e corrupto”. É o caso da interrogação exclamativa: “Só
nós!?”
E os jornalistas? e os empresários? e os
banqueiros? e os juízes? e os advogados? e os promotores? e os policiais? e os
padres e pastores? e os artistas (no sentido literal e figurado)? “Só nós!?”
Um cínico realista e sábio poderia observar que o
articulista que vos fala começou bem. É isso mesmo, a corrupção grassa em tudo
que é canto e recanto e cubículo deste amado e odiado país, pelo menos onde se
mexe com dinheiro. E onde, pelo amor de Deus, não se mexe com dinheiro?
Alguém já disse (Aparício Torelly, o nosso
brilhante Barão de Itararé) que “uma negociata é todo bom negócio para o qual
não fomos convidados”.
Continuando na senda do cinismo, podemos agregar
que a nossa sociedade foi induzida – relevo aí para nossa mídia “gorda”,
adjetivação do saudoso Mylton Severiano/Myltainho – a condenar severamente a
corrupção dos outros, dos nossos inimigos, dos nossos adversários políticos.
Me diga que meios de
comunicação você consome e direi em que você se transformou (De
www.miguelrep.com.ar / www.miguelrep.blogspot.com - Página/12, de 23/09/15) - (Clique na imagem para ver maior)
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A nossa não: a nossa, a dos nossos amigos, a dos
nossos parceiros não pode ser condenada, mesmo porque nem chega a ser
catalogada como ato de corrupção e, claro, não é alçada ao “glorioso” espaço
das manchetes televisivas e dos jornalões. É o caso, por exemplo, da Operação
Lava Jato, cujo êxito inegável está assentado na repercussão através da
imprensa, essencialmente seletiva e partidarizada – e visceralmente corrupta.
Sinuca de bico
Confesso que entrei numa sinuca de bico. O conteúdo
básico deste meu artigo seria fazer uma curta lista de políticos brasileiros
nos quais confio inteiramente. Comecei a escrever e o “nariz de cera” (na gíria
jornalística a abertura dum texto) aí de cima foi crescendo, crescendo e me
perdi, perdi o foco.
Já li o nosso grande Jorge Amado explicando que o
ato de escrever tem uma boa dose de autonomia. Ele dizia que criava um
personagem e às vezes o personagem se enveredava por caminhos que ele não tinha
imaginado, como uma criatura que não obedece as rédeas do criador.
Então, tenho que forçar um “final feliz” (o
conteúdo pretendido e preterido fica para outro dia): seguindo o rastro do que
vinha dizendo, acrescento que as forças políticas do movimento popular,
democrático e de esquerda no Brasil estão pagando um altíssimo preço por terem
que enfrentar uma mídia enviesada, totalmente comprometida com os interesses
oligárquicos.
E os governos considerados progressistas de Lula e
Dilma também, embora só com muita boa vontade – da parte de nós, esquerdistas
e/ou centro-esquerdistas – possam ser vistos como populares e de esquerda.
Quando estive uma temporada no Equador, no primeiro
semestre do ano passado, traduzi uma longa entrevista do jornalista e acadêmico
Ignacio Ramonet, diretor da edição em espanhol do Le Monde Diplomatique,
concedida ao jornal equatoriano El Telégrafo. Dividi em quatro partes e as
publiquei no meu Blog Evidentemente. Ele falou longamente sobre as mudanças na
mídia e seu papel como protagonista fundamental na política, em especial na
América Latina.
Pois bem: ao ser abordada a situação do Brasil, seu primeiro comentário foi que o governo brasileiro passava por momentos difíceis porque as gestões do PT não puderam ou não quiserem construir uma potente rede de meios de comunicação alternativos e comunitários. Ou seja, uma rede de mídia contra-hegemônica, capaz de fazer o contra-ponto aos monopólios da mídia dominante.
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