domingo, 3 de abril de 2016

A jornalista Rose Nogueira foi companheira de cela de Dilma durante a ditadura


Na manhã de quinta-feira (31), a jornalista Rose Nogueira, 69, recebeu um dos abraços mais afetuosos dados pela presidente Dilma Rousseff (PT) durante umevento em que artistas e intelectuais prestaram apoio à petista. Dilma é alvo de um processo de impeachment que tramita na Câmara dos Deputados.
Rose, militante contra o regime militar, foi companheira de cela de Dilma em 1970 e é uma das coordenadoras da organização Tortura Nunca Mais, em São Paulo. Assim como a presidente, Rose foi torturada. Em meio à maior crise política do governo Dilma, Rose deu uma entrevista ao UOL em que se solidarizou com a ex-colega de militância, comparou a pressão à qual a presidente está submetida à tortura e disse duvidar que ela renuncie. "Ela jamais entregaria os pontos", disse. 
UOL - Como era a presidente Dilma como companheira de cela?
Rose Nogueira - Ela era mais jovem que eu, na época. Ela era muito estudiosa. A Diva Burnier [militante que também foi presa, morta em 2013], que era economista, dizia que aprendia muita coisa com a Dilma. Ela era muito afetuosa também. Extremamente afetuosa.
Não é bem essa a imagem que a presidente transparece...
Mas é que agora ela é presidente da República. Precisa ser firme. Com toda essa pressão que ela recebe, eles [a oposição] esperavam que ela fosse ficar de nhe-nhe-nhem.
Reprodução
A conversa ao pé do ouvido entre Rose e Dilma
O que você falou ao ouvido da presidente durante a cerimônia?
Eu disse que eu estava trazendo um abraço das meninas. Das outras ex-militantes que também foram presas com a gente. Me pediram para mandar um grande abraço e dizer que estamos com ela até o fim.
Vocês duas foram torturadas. A pressão à que a presidente Dilma está submetida hoje é comparável ao tempo em que vocês passaram na prisão?
A tortura psicológica é tão forte e violenta quanto a física. Eu acho que ela deve estar muito pressionada. A gente se pergunta: como uma pessoa pode aguentar tanto? E só tem uma resposta. É quando você está disposto a se sacrificar pelo seu país. Desde o primeiro dia [após à reeleição, em 2014], eles [oposição] tentaram fazer não valer as eleições. É um movimento de uma burrice extrema. Para você questionar as urnas eletrônicas, por exemplo, teriam que recontar os votos do [Geraldo] Alckmin também. Se tem problema para um, tem para outro. Mas mais do que isso, essa coisa do golpe está nos desumanizando. É disso que eu estou com medo.
Você acha que o tempo de prisão influencia na forma como ela resiste à pressão?
Não. Ela jamais entregaria os pontos. Quem luta pela democracia, quem lutou contra a ditadura vem da linhagem de Tiradentes. Eu penso que ela jamais vai entregar os pontos. Ela não vai desistir e vai resistir.
Na sua avaliação, é possível comparar o clima de intolerância pelo qual o Brasil passa hoje com o vivido em 1964?
Com certeza. Naquela época tinha intolerância, mas isso era mais para o lado dos militares. Hoje, pode ser o seu vizinho. É assim que se instala o fascismo. Ontem, um rapaz que vestia uma camisa vermelha foi atacado na avenida Paulista [em São Paulo]. O fascismo saiu do armário.
O brasileiro está mais intolerante?
Naquele tempo você não tinha isso. O que havia era a deduração. Se o vizinho te dedurasse, você era preso. Agora, não. O cara te pega e te esgana no meio da rua. Veja o absurdo que foi a agressão ao bispo dom Odilo (cardeal arcebispo de São Paulo Dom Odilo Scherer)? Ele foi agredido e chamado de comunista. Isso é um absurdo. 

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