terça-feira, 5 de abril de 2016

Artigo de Ivan Sampaio: O Julgamento de Judas


Ivan Sampaio
Nas preliminares em que apresentei minhas justificativas pela qual aceitei realizar a defesa de Judas, discípulo de Jesus, demonstrei rapidamente que durante séculos, a exemplo do que havia ocorrido com Maria Madalena, foi construída uma imagem de repúdio ao meu cliente em razão de sua relação com Jesus, esgotada por uma fraude histórica e, motivo da crucificação do filho de Deus.

Judas é inocente (!), os fatos revelam que, como agente público da coletoria de imposto, função que lhe negava admiradores na comunidade, apesar de ser bom funcionário, digno, honesto e bem sucedido nos negócios das finanças, que lhe garantia viver de forma cômoda e diferenciada. No entanto, Judas, sem ser um sábio, apesar de saber ler e escrever, imaginava que poderia fazer mais pelos "seus", largou tudo, aceitou o convite a acompanhar Jesus aos diversos e obscuros caminhos da Galiléia, levando as Boas Novas. A sentença lhe atribuída de traidor, nada mais é do que uma inverdade, oportunismo para encontrar um culpado para a trágica situação final de seu mestre. Os fatos demonstram que naqueles dias, Jesus adentrou a cidade montado sobre um Burrinho e que depois, já nas cercanias e nos passeios do templo, surrou os famosos vendilhões, pessoas que deveriam ser parentes ou amigos dos sacerdotes e que de forma exclusiva e autorizada, exploravam comercialmente o grande movimento daquela instituição, cambiando moedas, vendendo animais para oferendas, etc. Jesus os açoitou, derrubou mesas de negociatas causando um grande alvoroço no inadequado mercado e por certo desagradando os padrinhos do Templo. E depois, saiu, escondeu-se e a noite, no jantar que se chamou de Santa Ceia, liberou Judas para cumprir sua missão. Que missão seria essa que fez Judas sair rápido em direção ao Sinédrio? A missão foi imposta pelo mestre de que após aquela sucessão de fatos, Judas deveria procurar Kaifás e o denunciar. E foi isso o que fez. Logo em seguida,  acompanhado da guarda do Sinédrio foi ao encontro de Jesus e no beijo, o entregou as autoridades.


Logo, convém registrar, Judas a contragosto, cumpriu ordens, e ao ver seu mestre em sofrimento pela flagelação e depois pela crucificação, encontrou no suicídio, um alívio à danação e sofrimento de sua alma. Seus objetivos, que eram semelhante ao do mestre, deixariam de existir, e por consequência, seu interesse em continuar vivendo. Se Judas realmente recebeu as moedas de prata, obedeceu a lógica da Judéia de gratificar a todos que realizassem "entregas". Não foi pagamento pela delação, pois, se fosse um pobre de espírito e sem valor, Judas não teria largado a coletoria, não teria seguido Jesus às regiões mais inóspitas e depois,  cometido suicídio, iria voltar à sua antiga e confortável vida ou gozaria dos favores do Sinédrio. Jesus precisava que um de seus discipulos realizasse esta última parte de seu projeto. Judas não aceitou, recusou, mas por fim, convencido pelo mestre, submeteu-se à cena criada para lhe introduzir definitivamente ao ato final, em que a tragédia e agonia, levariam a fundação de um verdadeiro e inspirador caminho da salvação. E assim aconteceu o ápice da trama e do sofrimento baseado no fato e da contribuição da vilania dos Judeus, de Herodes, Pilatos e da obtusa participação de Judas, seu discípulo. Um Traidor, como hoje o conhecemos.

Tudo mentira!!!

Jesus criou os cenários à sua prisão, inicialmente, aos olhos de todos,  adentrou a cidade montado sobre o burrinho, para fazer parecer, como estava escrito pelos profetas no antigo testamento, que o Messias entraria na cidade dessa forma, criando alvoroço nos Judeus de Jerusalém em que muitos gritavam, sacrilégio! Depois, no templo, atiçou seus inimigos religiosos para caçá-lo e condená-lo. Jesus, como muitos que haviam na antiga Judéia, e ainda hoje existem no atual oriente médio, desejava martirizar-se, tornar-se um líder religioso absoluto e por isso, além de suas pregações inovadoras, criou fatos positivos para multiplicar sua importância e tamanho. Judas era uma peça chave, a quem, sua condenação pelo crime histórico de denúncia, aliviava ou esconderia a verdadeira intenção de Jesus. No entanto, nas oportunidades que teve de se defender, Jesus se omitiu perante Herodes e Pilatos, este, lavou as mãos por lhe julgar inocente. resta-nos dúvidas que jamais foram esclarecidas. Por que ele, como bom orador e possuidor de todas as respostas, estranhamente, nada disse? Ficando calado...

Por que ele, nos momentos que antecederam sua prisão, sabendo que seria delatado por Judas, ficou e aguardou que a infâmia se consumasse? Por que Jesus não fugiu? Por que aguardou em sofrimento e angústia sua eminente prisão? A única resposta é que ele desejava sua prisão,  a flagelação e depois a crucificação. Por isso omitiu-se, calou e deixou que ocorresse sua condenação...


No futuro, em algum momento de nossa história, a verdade brotará espontâneamente como os Lírios do campo, tal qual ocorreu com Maria Madalena, diminuída historicamente à condição de uma mulher prostituta que se redimiu, fato mentiroso criado para diminuir-lhe sua importância e das mulheres junto ao clero e, preservar a castidade de Cristo.  Maria Madalena teve sua imagem reconstituída pela própria igreja que informou esse erro bíblico que a sacrificou por 20 séculos... Ademais, para que o Julgamento de Judas fosse realizado com lisura e boa fé, seria necessário que todas as provas fossem apresentadas e inseridas aos autos e que as respostas para tantas perguntas fossem isentas da fé cega, que inseri o medo medieval para os que ousam "duvidar ou questionar" temendo por maldições e castigos, que também fossem isentas dos preconceitos e paixões e acima de tudo, fossem baseadas em provas, que poderiam ser expostas através dos evangelhos excluídos pelos escribas de Constantino e pelos líderes cristão da época, que condensaram apenas os livros dos apóstolos de seu interesse políticos e excluiram outros - que dormem nos porões do Vaticano - tornarám-os apócrifos, pois tinham verdades inconvenientes a dizer.

Nesse momento,  poderia pedir a prisão dos que alteraram e ocultaram provas, que deliberadamente, alteraram os fatos para transformar o réu no único ou talvez,  comparsa de outros,  para a prisão daquele que queria parecer inocente. Poderia também pedir a prisão por crime de calúnia e difamação dos que, por 2.000 anos até os dias atuais, o trataram com desdém, ironias, lhe associando as mais diversas vilanias da natureza humana. Sem a verdade, escondida por séculos e sem a demonstração de provas, peço então, a absolvição do réu e que seja libertado do peso grotesco dos grilhões de sua miserável memória histórica!


Ivan Sampaio é Empresário e ex-presidente da ACIA (Associação Comercial e Industrial de Ananindeua-Pará)


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