Um conflito entre
policiais e um grupo de pessoas que ocupava a Fazenda Santa Lúcia, na
zona rural do município de Pau-D’arco, no Sul do Pará, resultou na morte
de 10 pessoas. A operação policial aconteceu na manhã de ontem por
determinação judicial e tinha o objetivo de cumprir 14 mandados de
prisão, busca e apreensão na fazenda. Um inquérito policial vai
investigar se houve excesso da polícia durante a execução dos mandados. A
Comissão Pastoral da Terra (CPT) compara o caso à chacina de Eldorado
do Carajás, ocorrida em 17 de abril de 1996, que causou a morte de 19
camponeses (leia matéria abaixo).
Leia também: Força-tarefa acompanha as investigações de chacina
No início da noite de ontem, a cúpula de
segurança pública do Estado tentou explicar o episódio, afirmando que o
local estava invadido por um grupo armado de cerca de 30 pistoleiros e
que não havia trabalhadores sem-terra na propriedade. “Os mandados
judiciais tinham a finalidade de prender criminosos envolvidos em
homicídios e tentativas de homicídios”, informou o secretário de
segurança pública e defesa social do Pará, Jeannot Jansen.
Das 10 vítimas, 9 eram homens e uma mulher, e
4 tinham mandado de prisão preventiva. Segundo o chefe-geral do
Departamento de Operações da Polícia Militar (PM), coronel Sérgio
Alonso, dois delegados e 24 policiais militares e civis de 4 guarnições
do Grupo Tático de Redenção participaram da operação. “Os pistoleiros
reagiram e receberam os policiais a bala”, disse. Segundo a Segup, 11
armas, entre fuzis e pistolas, teriam sido apreendidas com os posseiros.
Apesar da versão oficial do Governo, de que houve troca de tiros,
nenhum policial ficou ferido durante a operação.
INQUÉRITO
Ocupada desde 2015, a Fazenda Santa Lúcia já
havia sido reintegrada duas vezes neste ano, mas voltou a ser invadida.
O local tem sido palco de diversos conflitos agrários. No dia 23 de
abril, houve um baleamento de um segurança da área e disparos de arma de
fogo contra um veículo da fazenda. No dia 30 do mesmo mês, um segurança
foi morto durante uma emboscada.
O coronel Hilton Benigno, comandante da PM
no Pará disse que situações como essa “ocorrem em um Estado de grandes
dimensões territoriais e agrárias como o Pará”. Ele informou que nem
todos os corpos das vítimas foram identificados e que serão periciados,
hoje, por equipes do CPC Renato Chaves e da Divisão de Operações
Especiais da Polícia Civil (Dioe) de Marabá e Parauapebas. Um inquérito
policial será aberto pela Dioe para investigar o caso. “Ainda não é
possível afirmar se houve excesso da força policial. Isso, somente a
investigação vai dizer”, afirmou Benigno. O inquérito deve ser concluído
em 60 dias.
Os mortos
- Até o fechamento desta edição, 5 dos
mortos já haviam sido identificados: Oseir Rodrigues da Silva, Regivaldo
Pereira da Silva, Jane Júlia de Oliveira, Ronaldo Pereira de Sousa e
Hércules Santos de Oliveira.
CPT acusa Jatene de comandar novo Eldorado do Carajás. (Foto: Ney Marcondes/Diário do Pará)
Comissão acusa Governo do Estado de provocar novo Eldorado do Carajás
Na avaliação da Comissão Pastoral da Terra
(CPT), os policiais cometeram um novo massacre de trabalhadores, como o
já ocorrido no município vizinho de Eldorado do Carajás. “Estamos
indignados. Foi mais um desastre da polícia contra a vida dos
trabalhadores, um novo massacre”, afirmou o padre Paulo da Silva,
assessor da CPT no Pará. A Confederação Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB) deslocou os 2 advogados que atuam em Marabá para o município de
Redenção e, hoje, devem seguir até Pau D’Arco para acompanhar as
investigações.
O padre Paulo lembra que os conflitos no
campo tendem a piorar com a extinção da Ouvidoria Agrária Nacional, e
isso é ainda mais grave no Pará, governado por Simão Jatene, onde os
conflitos têm sido permanentes. “Nesse sentido, o papel do Estado, que é
mediar conflitos, mais uma vez não foi cumprido. Muito pelo contrário”,
afirmou o padre. “A segurança pública, que deveria proteger as pessoas,
causou mais 10 mortes que não se justificam por nada, e nós vamos
exigir apuração e providências”.
(Leidemar Oliveira e Cléo Soares /Diário do Pará)
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