O cantor Serguei morreu nesta sexta-feira (7), aos 85 anos, no Rio de Janeiro. O roqueiro estava internado no Centro de Tratamento do Hospital Zilda Arns, em Volta Redonda, segundo informações do UOL.
Antes de ser transferido para o Zilda Arns, em 29 de maio, o artista ficou 22 dias no Nossa Senhora de Nazaré, distrito de Bacaxá. De acordo com o geriatra Rodrigo Lima, que cuidava de Serguei há quatro anos, o cantor estava debilitado, desorientado e apresentava quadro inicial de Alzheimer.
Nascido Sérgio Augusto Bustamante, em 8 de novembro de 1933, Serguei lançou 11 álbuns durante a carreira e tocou em duas edições do Rock in Rio: o segundo e o terceiro.
Lenda
Serguei viveu a vida a mil e morreu como um lenda da cultura pop brasileira. O veterano roqueiro carioca orgulhava-se de muitos feitos, entre os quais: o affair que teve com Janis Joplin na visita da cantora americana ao Brasil, ser porta-voz de uma modalidade bem ampla da liberdade sexual, o pansexualismo, e manter em segredo a cor original de seus cabelos.
Sérgio Augusto Bustamante dizia esperar pela morte aos 127 anos, cem a mais do que Janis e outros de seus ídolos, Jimi Hendrix e Jim Morrison. O corpo franzino e as rugas, em determinado momento de sua vida, abrigavam uma alma inquieta e permanentemente rebelde.
Ex-comissário de bordo da Varig, Serguei teve sua trajetória marcada mais pela persona exuberante e divertida do que pela produção artística, de certa forma irrelevante no cenário da música brasileira. Fez de sua casa em Saquarema, no litoral fluminense, um museus do rock, onde recebia fãs e curiosos para contar histórias.
Não curtia música eletrônica e funk mas caiu no samba quando a Mocidade Independente de Padre Miguel fez um desfile em homenagem ao Rock in Rio na Marquês de Sapucaí, em 2013
Forever Young
Com suas declarações polêmicas e divertidas, Serguei visitou o Rio Grande do Sul em diferentes ocasiões.
— A energia está na cabeça. Meu lema é: Forever Young (para sempre jovem) — disse em uma passagem pela Capital, em 2007
No começo dos anos 2000, em meio a uma turnê pelo Estado, falou à ZH sobre o famoso caso com Janis Joplin:
— Ela me viu cantar numa festinha de escola em Long Island, nos Estados Unidos, em 1968. O percussionista Laudir Oliveira (brasileiro que tocava no grupo Chicago) nos apresentou. Em 1971, encontrei ela na frente do Copacabana Palace, às 3h. Ela estava em férias no Brasil, uns 25 dias antes de morrer. Convidei Janis a ir até a boate onde eu cantava. Ela foi barrada porque estava descalça e suja de areia, mas acabou entrando. Depois bebeu vodca no gargalo e subiu ao palco. Cantou Ball and Chain para uma boate absolutamente muda. Mas Janis estava muito deprimida, os braços fininhos, usava uma peruca azul para esconder o cabelo.
Sobre sua assumida bissexualidade, disse:
— Sócrates dizia que a homossexualidade é o licor dos deuses, mas o licor mesmo é a bissexualidade. Vou aonde o coração me leva, seja me apaixonando por homem ou mulher. Não mate suas emoções.
E também lembrou seus tempos de comissario de bordo:
— Era um jeito de conhecer o mundo. Em Madri, fiquei hospedado no mesmo hotel que a atriz Gina Lollobrigida. Acabamos saindo juntos numa turma, e a noite acabou com todo mundo fazendo o maior carnaval. Acabei dando um banho de sangria na Gina.
Sem saber quanto tempo ainda tinha na estrada, afirmou, no alto de seus antão 69 anos:
— Termino o show ofegante, mas não cansado. Ser jovem não é ter a pele esticada. Ainda quero posar para a G Magazine (revista masculina), mostrando tudo que tenho direito. Estou inteiro, o meu Viagra está na cabeça.
Tempos depois, em outra visita à Porto Alegre, Serguei falou sobre o estilo de vida sexo, drogas e rock and roll, afirmando que não queria viver muito tempo para o rock.
— Não tem nada mais ridículo do que aquele cara com o olho arregalado que vende a geladeira da mãe para comprar droga — garantiu.
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