sábado, 3 de agosto de 2019

PRISÃO DOURADA" NOS EMIRADOS ÁRABES A história das princesas que fugiram do emir de Dubai


No centro, o emir de Dubai, Mohammed al Maktum. Com o número 2, Latifa, a princesa que tentou fugir. A foto é de 2008

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Haya, casada com Mohamed bin Rashid desde 2004, foi para Londres, processou o monarca e pediu a guarda de seus filhos. Em 2018, a filha dele, Latifa, também tentou escapar 

Nos últimos anos, duas jovens princesas tentaram escapar do poder patriarcal do emir de Dubai, Mohamed bin Rashid al Maktum. Os episódios são dignos de uma série de televisão sem final feliz. Agora, a princesa Haya — casada com o emir desde 2004 — fugiu para Londres e pediu à Justiça britânica proteção para sua filha.
A cidade-Estado fica nos Emirados Árabes Unidos, um dos mais estratégicos e importantes países do Golfo Pérsico. Dubai controla, no Exterior, com muito zelo a sua imagem de grande centro financeiro internacional e de paraíso de luxo para turistas, com gigantescos centros comerciais e sofisticados arranha-céus.
Entretanto, os casos das princesas rebeldes ganharam as primeiras páginas dos jornais do país e irritaram as altas esferas políticas de Dubai. A princesa Haya, de 45 anos, sexta esposa do soberano emirati, causou polêmica ao fugir de seu marido de 70 anos e processá-lo. A audiência na Alta Corte de Londres continuou nesta quarta-feira (31).
Na terça-feira (30), a um juiz da Vara de Família da Alta Corte de Justiça de Londres, Haya solicitou medidas protetivas contra um casamento forçado que pode envolver sua descendência. Também pediu proteção contra atos brutais e pediu a guarda de seus filhos. O emir Mohamed bin Rachid al-Maktum exige o retorno de seus filhos aos Emirados.
Nascida e criada na Jordânia, Haya foi educada em escolas privadas da elite britânica e é graduada em Oxford. Apresenta-se como o símbolo da mulher muçulmana moderna.

"Prisão dourada"AFP

— As mulheres devem tomar consciência de sua força — disse ela em 2016 a uma revista feminina dos Emirados.
— O soberano de Dubai escreve poesia sobre seu coração quebrado pela fuga de sua mulher, a princesa Haya, mas dado os maus-tratos que dá às suas filhas detidas, parece não tolerar as mulheres, salvo quando estão confinadas em sua prisão dourada — disse no início de julho o diretor da Human Rights Watch (HRW), Ken Roth, referindo-se às princesas Latifa e Shamsa, filhas do emir, que tentaram fugir no passado e tiveram menos sorte que Haya.
Em março de 2018, Latifa al-Maktum, de 32, anunciou em um vídeo divulgado no YouTube seu desejo de fugir do país. Aos prantos, disse que foi "torturada" e "presa por três anos" pelo pai, depois de uma primeira tentativa de fuga quando ainda era adolescente em 2002. Criticou "um pai que pensa apenas em sua imagem" e "destrói a vida de tantas pessoas".
— Faço este vídeo, caso isso fracasse — disse à época.
O vídeo foi publicado depois que a tentativa de escapar de Dubai fracassou, após uma operação digna de um filme de ação. Com a ajuda de uma amiga finlandesa, a princesa conseguiu sair da cidade-Estado para embarcar discretamente nas águas de Omã, sultanato vizinho, em um veleiro americano. Sua tentativa fracassou na madrugada de março, em águas internacionais frente a Goa, quando o navio foi abordado pela Marinha indiana, segundo a finlandesa Tiina Jauhiainen.
O governo de Dubai confirmou depois que a princesa foi "levada de volta" para sua família e estava "bem".

"Drogada"

A organização com sede no Reino Unido Detidos em Dubai disse à AFP que a "situação das princesas Haya e Latifa mostra faltas graves e abusos legalizados do Sistema Judiciário dos Emirados, em particular no que diz respeito aos direitos das mulheres".
No vídeo de março de 2018, Latifa disse estar marcada pelo destino de sua irmã mais velha, a princesa Shamsa, filha do emir de Dubai. Aos 18 anos, Shamsa tentou fugir do pai, em 2000, durante férias na Inglaterra. Foi encontrada depois de dois meses de fuga, sob efeito de drogas. Acabou sendo levada para Dubai em um jato particular e, segundo Latifa, foi "trancafiada" pelo monarca.
— Não tem nenhuma liberdade (...) está cercada por enfermeiras e tem que tomar medicamentos que controlam seus pensamentos — denunciou Latifa, no vídeo

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