sexta-feira, 1 de novembro de 2019

SEABRA: AVANÇO DAS FORÇAS PROGRESSISTAS NA AMÉRICA DO SUL NO ROTEIRO DE PALESTRAS DE GABRIELLI


José Sérgio Gabrielli (palestra em Seabra, último dia 17. Foto: Smitson Oliveira)
Da desigualdade histórica ao aumento dessa desigualdade nos governos Temer e Bolsonaro: previsão de crescimento da insatisfação popular e de vitórias eleitorais na Bolívia, Argentina e Uruguai. “Vamos reagir”, augurou Gabrielli.

Por Jadson Oliveira – jornalista/blogueiro – editor deste Blog Evidentemente

De Seabra/Chapada/Bahia – Quem assistiu as palestras de José Sérgio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras, em Seabra (Chapada Diamantina), no último dia 17, viu e ouviu a previsão de avanço das forças progressistas, em especial na América do Sul.

Para um público em torno de 300 pessoas, a maioria jovens, reunidas no auditório do campus XXIII da Uneb, ele sublinhou o tremendo desastre do governo de Mauricio Macri na Argentina, cuja agenda econômica foi semelhante à do governo Bolsonaro. Mais exatamente, à do ministro Paulo Guedes.

Gabrielli, que é professor titular de Economia (aposentado) da UFBA, falou da previsão – já bastante alardeada, depois das prévias eleitorais e repetidas pesquisas – de vitória contundente de Alberto Fernández/Cristina Kirchner. Vitória confirmada, no primeiro turno, no último domingo, dia 27.

Mas não só Argentina. Lembrou a possibilidade das forças de centro-esquerda ganharem também as eleições presidenciais da Bolívia (dia 20) e Uruguai (também dia 27).

De fato, Evo Morales foi reeleito para seu quarto mandato consecutivo. Não tão folgadamente como em 2006, 2009 e 2014, mas ganhou no primeiro turno (com mais de 10% de votos na frente do segundo colocado, conforme reza a Constituição do país).

No Uruguai, o campo progressista, aglutinado na Frente Ampla que está na presidência há 15 anos, também conseguiu o primeiro lugar. Mas terá que disputar um difícil segundo turno, onde as principais alas de direita (e extrema-direita) prometem marchar unidas.

Realçando o quadro, tivemos a vitória do levante popular no Equador (mencionada por Gabrielli na UNEB/Seabra), forçando o governo a revogar medidas de “ajuste” receitadas pelo FMI. E as grandes jornadas de protesto no Chile, que estouraram a partir do dia 18.
Bandeira do povo indígena mapuche como símbolo dos protestos chilenos: para o Brasil, são muito simbólicas tais manifestações, pois o receituário das medidas anti-povo que o ministro Paulo Guedes está adotando teve como laboratório o modelo econômico da ditadura de Pinochet (Foto: da Internet)
Levando em conta, portanto, que nos últimos cinco/seis anos as forças populares e democráticas da América Latina vinham amargando recuos expressivos – a “restauração conservadora”, como chamou o ex-presidente equatoriano Rafael Correa -, tais vitórias e manifestações significaram um alento: “saímos das cordas”, disseram alguns.

Aliás, Álvaro García Linera, “eterno” vice-presidente de Evo Morales (intelectual comprometido com o movimento popular, estudioso da realidade indígena), sempre minimizou a força dos reacionários latino-americanos. Dizia que a nova “onda” neoliberal não seria duradoura, não tinha fôlego.

Houve ainda mais uma eleição, também no último domingo (dia 27), em “nossa Pátria Grande” (sonho de Simón Bolívar, cognominado o Libertador, repetido à saciedade pelo ex-presidente venezuelano Hugo Chávez): foi na Colômbia (eleições chamadas regionais – governadores, prefeitos, vereadores...).

Esta não foi mencionada por nosso palestrante, mas se encaixa nas suas previsões de avanço dos partidos e movimentos sociais do espectro das esquerdas (ou, talvez melhor, da centro-esquerda).

Então: também na Colômbia, o principal enclave do império estadunidense na América Latina – país bastião da ultradireita, do paramilitarismo e do narcotráfico -, as forças progressistas avançaram. O maior perdedor da jornada eleitoral foi o ex-presidente Álvaro Uribe, o mais notório líder da extrema direita na região, a quem é ligado o atual presidente colombiano Ivan Duque.

O professor Gabrielli enfocava, em sua palestra na UNEB, a marca cruel da desigualdade durante a história do povo brasileiro: desde a abolição formal da escravidão negra, passando pelo desenvolvimento da indústria a partir da Revolução de 1930 e chegando aos nossos dias com a hegemonia do capitalismo financeiro. E, por consequência, o aumento cada vez maior da desigualdade.

Falava do começo da construção dum Estado mais inclusivo socialmente nos governos de Lula e Dilma, seguindo-se, a partir daí, o processo de destruição dos mecanismos estatais indutores dum desenvolvimento menos desigual, nos governos Temer e Bolsonaro.

E fez a previsão de avanço – plenamente confirmada - das forças progressistas, em especial na América Latina, ao ressaltar a capacidade de luta dos povos. “Vamos reagir”, augurou Gabrielli, com certa dose de otimismo (ou realismo?).

Digo eu: vamos ver quando e como chegam ao Brasil os ventos refrescantes que começam a soprar por nuestra América.

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