Via Agência Pará - Médico, professor e ambientalista, Camillo Vianna é ícone da luta pela preservação da Amazônia. Um dos pioneiros no estado do Pará e na Amazônia no engajamento pela conservação e preservação da biodiversidade e sociobiodiversidade, o professor, médico e ambientalista paraense Camillo Martins Vianna foi homenageado com a Lei nº 8.958, de 19 de dezembro de 2019, homologada pelo governador do Pará, Helder Barbalho, que atribuiu o nome do paraense ao Parque Estadual do Utinga Camillo Vianna. Localizado no bairro do Curió-Utinga, em Belém, o local é uma das 26 Unidades de Conservação estaduais administradas pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará (Ideflor-bio).
Notavelmente um dos principais pontos turísticos da capital paraense, o Parque abriga uma importante amostra da rica biodiversidade de fauna e flora amazônicas, contemplando uma área de quase 1.400 hectares, equivalente a 1.400 campos de futebol, dentro da zona urbana da cidade. A Unidade de Conservação estadual abriga ainda os lagos Bolonha e Água Preta, responsáveis pelo abastecimento hídrico de 70% da população residente na Região Metropolitana de Belém. Além das belas paisagens, o espaço oferece qualidade de vida, onde o visitante e o turista têm a oportunidade de estar em contato com a natureza e de praticar atividades físicas ao ar livre, como caminhar e pedalar de bicicleta.
"Nossa família recebeu com emoção indescritível a linda homenagem do estado do Pará ao denominar o belíssimo Parque Estadual do Utinga, de Parque Estadual do Utinga Camillo Vianna, em reconhecimento ao seu incansável trabalho realizado, não somente pela preservação do meio ambiente, mas também pela valorização de nossas raízes culturais e, principalmente, pelo respeito ao seu componente social, o homem amazônico", declarou o engenheiro agrônomo Flávio Vianna, filho de Camillo Vianna.
Legado - Desde muito cedo, Camillo Vianna aprendeu a respeitar a natureza e a cultura amazônica. Como médico e professor, compreendeu que a saúde e a sobrevivência do homem da região estavam intrinsecamente ligadas ao meio ambiente em que vivia. "Acreditamos que seu maior legado foi transmitir a várias gerações, através da Sociedade de Preservação aos Recursos Naturais e Culturais da Amazônia (Sopren), criada em 1968, o sentimento de amor à Amazônia e conscientizar os amazônidas do seu papel, na defesa do ecossistema e da cultura das populações de todos os estados", ponderou a psicóloga e professora universitária Aline Vianna, também filha de Camillo Vianna.
O ambientalista dedicou sua vida a estimular a formação e consolidação de ideais e princípios pautados na valorização da região. Promoveu diversas ações, algumas aparentemente simples, mas de profundo significado, como espalhar sementes e mudas, formar bosques e florestas, organizar semanas de preservação de diversas espécies da fauna e flora amazônicas. Realizou inúmeras manifestações culturais envolvendo a participação das populações e com a parceria de instituições, profissionais de diversas áreas, autoridades políticas e religiosas e meios de comunicação, com o único propósito de fazer surgir propostas e ações para a mudança da realidade local amazônica.
Crédito: Acervo da Familia
Camillo e os filhos Flávio e Aline Vianna
"Através de suas ações estimulava o protagonismo de todos, enfatizando que devemos ser ouvidos e respeitados sempre. Principalmente quando são elaborados, distantes da fronteira da região, projetos e programas para serem aqui implementados", reforçou Flávio Vianna. Como membro ativo da Associação Amigos de Belém estimulou o plantio e, ele próprio plantou samaumeiras e mangueiras e várias outras espécies amazônicas pelas praças e ruas da cidade. Sistematicamente, realizava passeios a esses locais, para acompanhar o desenvolvimento das plantas. Na Universidade Federal do Pará (UFPA), durante o período do verão, frequentemente realizava a irrigação de mudas plantadas por ocasião do Trote Ecológico.
Em entrevista para uma publicação em janeiro de 2012, Camillo Vianna destacou a importância do Parque para a cidade de Belém. "Mesmo com toda pressão provocada pelo aumento populacional, ainda é possível desfrutar do Parque Estadual do Utinga, uma verdadeira beleza natural, considerado um dos últimos ecossistemas preservados da região metropolitana, exatamente por abrigar os Lagos Bolonha e Água Preta que exercem fundamental importância no abastecimento de água de Belém", disse. "Trata-se de um patrimônio com mais de 1.000 hectares de vegetação de terra firme, várzeas e igapós que servem de refúgio para um número expressivo de espécimes animais, mantido diuturnamente protegido pelo Batalhão de Polícia Ambiental", afirmou à publicação.
Presidente do Ideflor-bio, Karla Bengtson ressaltou que o trabalho realizado pelo ambientalista, inclusive para incentivar a criação de áreas protegidas, foi de extrema relevância para o Estado. "Acima de tudo, Camillo Vianna tem uma história de luta pela biodiversidade no Pará e também é conhecido por ser um ícone na luta pela Amazônia. Junto a história dele, ter uma das nossas unidades com a marca desse ícone tão importante é um momento de celebrarmos a vida, a preservação, o respeito a esse bioma com tantas adversidades e desafios, sabendo também que ele sempre levantou a bandeira pela defesa e pelo amor ao meio ambiente, que acaba sendo contagiado e compartilhado dentro do nosso dia a dia de trabalho", pontuou.
Crédito: Agencia Para / Fernando Araujo- Arquivo
Ações - A recuperação de áreas alteradas e a defesa pela criação da primeira Unidade de Conservação da Natureza a nível estadual, a Área de Proteção Ambiental (APA) Algodoal/Maiandeua, no município de Maracanã, nordeste paraense, estão entre os feitos do ambientalista, conforme destacou o diretor de Gestão da Biodiversidade do Ideflor-bio, Crisomar Lobato. "Camillo Vianna e os jovens que atuavam na Sopren foram muito importantes na defesa dos trabalhos coordenados por mim, quando trabalhei no Instituto de Desenvolvimento Econômico-Social do Pará (Idesp), junto aos deputados da Assembleia Legislativa do Estado do Pará, para a aprovação da Lei Nº 5.621, de 27 de novembro de 1990 que criou a APA Algodoal", disse.
Crédito: Kleber Junior / Ideflor-Bio
Nos municípios de Santa Maria do Pará e Abaetetuba, Camillo promoveu a recuperação de áreas alteradas. "Em uma de suas ações, tive a honra de plantar uma muda de mogno (Swietenia macrophylla). Por diversas ocasiões, ele posicionou-se contra o desmatamento e uso inadequado dos recursos naturais no bioma amazônico. Para combater o corte indiscriminado dos açaizeiros para extração do palmito jogou de um pequeno avião várias sacas com sementes de açaí nas ilhas do município de Belém", recordou Crisomar.
Histórico - Nascido em Belém em 14 de abril de 1926, Camillo Martins Vianna integrou a primeira turma da Faculdade de Medicina e Cirurgia do estado do Pará, que junto a outras três instituições, originou a Universidade do Estado do Pará (Uepa). Ainda estudante, trabalhou no Museu Paraense Emílio Goeldi catalogando espécies vegetais. Em 1952, foi médico residente no Hospital dos Servidores do Estado no Rio de Janeiro e, ao retornar para Belém, passou a atuar na Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará. Entre outras ações ambientais, destacam-se a criação de bosques comunitários e recuperação de áreas alteradas. O ambientalista faleceu na capital paraense, aos 93 anos, em 10 de setembro de 2019.
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