Por ÉRICO OYAMA
Se resultados forem bem sucedidos em escala global, estudo deve ser finalizado no fim do ano
No Brasil, o teste será realizado em 5 mil voluntários. O estudo é coordenado pela pesquisadora Sue Ann Costa Clemens e tem apoio financeiro da Fundação Lemann. Crédito: Pixabay
A vacina contra a Covid-19 que está sendo desenvolvida pela Universidade de Oxford começa a ser testada no Brasil até a semana que vem. Por aqui, haverá a participação de 5 mil voluntários, de um total de 50 mil no mundo todo. Além do Reino Unido e do Brasil, participam dos testes dois países da África, um da Ásia e os Estados Unidos, onde a farmacêutica AstraZeneca vai recrutar 30 mil voluntários. A pergunta que todos se fazem é: quando a vacina fica pronta?
“A ideia, se a gente conseguir provar a eficácia em todos esses países, é que tenhamos o pacote regulatório até o final do ano e que esse dossiê regulatório seja submetido à agência regulatória do Reino Unido”, explica Sue Ann Costa Clemens, pesquisadora que comanda o estudo da Universidade de Oxford no Brasil. “Após essa aprovação, no Reino Unido a vacina já pode começar a ser usada. As agências regulatórias de outros países viriam a fazer os registros após a do Reino Unido. Acho que o Brasil teria acesso a isso em meados do próximo ano, a nível de aprovação.”
O interesse da Universidade de Oxford em realizar os testes no Brasil se deve ao fato de o país estar com a curva epidemiológica em ascensão. “O professor Andrew Pollard [que coordena a pesquisa] me telefonou, soube que eu estava no Brasil, e me pediu para ser investigadora e para identificar centros”, lembra Sue Ann Costa Clemens durante webinar do JOTA desta terça-feira (16/6). “Mandei um e-mail para a Fundação Lemann pedindo uma oportunidade e para apresentar um orçamento, porque precisávamos de um imediatismo de viabilidade financeira para começar a montar o centro.”
Depois do primeiro contato, foi organizada uma reunião pela internet entre o professor Andrew Pollard e a Fundação Lemann. “Faltava esse pedacinho de montar a capacidade de testes, e aí a gente viu uma oportunidade de ajudar, e é assim que a gente vê o nosso papel”, afirma Denis Mizne, diretor executivo da Fundação Lemann.
Fazendo um retrospecto, ele lembra que desde o começo da pandemia houve uma preocupação da fundação para que o Brasil não ficasse de fora dos possíveis tratamentos, seja remédio ou vacina. “Uma orientação que as universidades lá fora tinham nos dado, era de que é muito importante estar na rota dos estudos e das pesquisas, porque isso aumenta a chance de ter acesso ao tratamento, não há nenhuma garantia”, diz Mizne. “Foi assim que conhecemos a Sue Ann, que está muito dentro do que a gente acredita, uma brasileira que está fazendo pesquisa em padrão internacional e está conectada a estudos de vacinas no mundo todo há anos”, destaca. “Nosso papel é basicamente apoiar financeiramente.”
Sue Ann tem ampla expertise em pesquisas de vacinas e é diretora do Instituto de Saúde Global da Universidade de Siena, na Itália. “Na Universidade de Siena, criamos o primeiro mestrado de vacinas no mundo. Por 15 anos, fomos os únicos com mestrado em vacina”, afirma.
Além de viabilizar o apoio da Fundação Lemann, Ann precisou ir em busca de permissões no poder público. “Eu pessoalmente falei com o ex-ministro [da Saúde, Nelson Teich] e ele articulou para que tivéssemos a atenção devida, sem pular nenhuma fase, e pudéssemos apresentar toda documentação para avaliação”, explica. “Em mais ou menos quatro semanas nós montamos dois centros que estão capacitados para recrutar com alta qualidade científica, profissional e clínica”, afirma. “Conseguimos todas as aprovações regulatórias também com muita qualidade.”
Tendo em vista que o procedimento com a Anvisa foi rápido, ela acredita que haverá um legado. “Trazer o Brasil novamente para o panorama internacional de pesquisas, especialmente da pesquisa em vacinas, é um ponto muito importante, acho que isso vai ficar”, avalia. “Nossas agências mostraram uma qualidade na revisão técnica e uma agilidade, o que é muito importante.”
Tornar o Estado mais eficiente é justamente um dos temas no radar da Fundação Lemann. “A Fundação Lemann tem uma visão muito clara de tentar contribuir para o Brasil ser um país mais justo e mais desenvolvido porque ele merece”, diz o diretor executivo Denis Mizne. “A gente entende que parte desse caminho é conectar o Brasil ao que tem de melhor, do ponto de vista de formação de pessoas e de pesquisa acadêmica, para beneficiar o país”, explica.
Segundo Mizne, o Brasil tem que entrar na rota da política pública de alta qualidade e “colocar as melhores pessoas para resolver o problema”. “A gente precisa criar espaços de conexão de pessoas que pensam diferente, que têm perspectivas diferentes, mas são muito bem informadas, muito preparadas, para que possam se juntar para resolver problemas que são de interesse público”, diz.
Outras vacinas em teste
A pesquisadora Sue Ann Costa Clemens também é consultora sênior para a Fundação Bill & Melinda Gates. “Dentro da Fundação [Bill & Melinda], temos uma força tarefa para preparar centros a nível mundial para receber esses estudos de vacinas candidatas de Covid. Estou na liderança para a América Latina e alguns países da África”.
“A ideia, para a América Latina, é a gente investir cerca de US$ 2 milhões” revela.
No Brasil, o objetivo é que os centros estejam preparados até outubro para receber a primeira leva de estudos para a América Latina. De acordo com Ann, “o foco será na região Sul, onde a curva está ascendente”.
Em outra frente, o Instituto Butantan, ligado à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, desenvolve uma vacina em parceria com a farmacêutica Sinovac Biotech, da China. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB) espera que a fase de testes seja concluída até junho de 2021.
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